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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

Hoje vou citar. E vou citar aos bochechos, que muito há para dizer. E quem vou citar? O Edson Athayde, no ionline. Ora vamos:


 


Fazer amigos, manter amigos, perder amigos. A vida, para mim, é isso. Tudo mais é complemento, é consequência, é redundância.


 


Não sou tão extremista. Há mais na vida para além dos amigos e, pese embora deva ser uma vida incomparavelmente triste e pobre, há quem não tenha amigo algum (acreditem, há) e tenha uma vida, lhe confira significado e talvez até tenha interesse. E há que separar o trigo do joio. Hesito em chamar amigo a pessoas que conheço, até com profundidade, se não as gosto. Outras há que, conhecendo em menor extensão, confio sem second thoughts, de natural que é. Daquelas coisas que não se explicam com muita lógica, mas que se sentem sem dúvida.



Fazer amigos: o mais difícil, com o passar do tempo. Quando miúdos, só são necessários uns interesses em comum. Entre os rapazes a coisa é ainda mais simples: basta ser adepto da mesma equipa, gostar do mesmo sabor de gelado, demonstrar alguma habilidade no Subbuteo, ter uma certa fixação pelos seios da professora Sónia. E assim começa uma longa amizade. Depois de cruzarmos o cabo da boa esperança dos 30 anos aparecem as complicações. Mais ninguém que nos aparece é assim tão confiável. Fazemos colegas de trabalho, companheiros de futebol, cúmplices de bares, mas amigos novos é coisa que vai rareando.


 


Na infância, os conceitos de lealdade e confiança são menos permeáveis às nuances das realidades que a vida adulta impõe. E talvez por isso mesmo, quer-me parecer que sempre coloquei as fasquias demasiado elevadas, e cada vez mais com o passar dos anos. No entanto, a vida te-me reservado boas surpresas (ao menos) neste campo. Não guardo amigos de infância. Alguns da adolescência, mas devo dizer que as pessoas excepcionais que fazem ou fizeram parte do meu círculo de Amigos, encontrei-as em grande parte em idade adulta. A comunicação vai muito para além do corriqueiro e toca sensibilidades que não estão expostas aos 15 anos. A frontalidade, o despretenciosismo de se dizer o que se pensa sem querer impressionar ninguém, ajuda imenso a conhecer as pessoas com quem se interage. E por vezes bastam meia dúzia de frases, uma empatia inicial que abre caminho a gargalhadas ou a reflexões. Falo por mim, que tomo consciência de que tenho feito novos amigos, de quem gosto genuinamente e a quem abro a alma sem reservas. As duas moças do curso de escrita, de quem sinto falta das cumplicidades. O pescador gótico com um sentido de humildade que me tocou. A ex-chefe a quem arregalava os olhos e não poupava críticas, de onde nasceram laços profundos. A velha colega de curso que de repente se revelou em palavras à distância. A amiga de amigos com quem estive em duas ocasiões apenas e me lê mais pensamentos do que os que partilho. O dentista que passei a tratar por tu por entre estórias de vida. A colega de trabalho com quem podia conversar dias a fio. É preciso não ter medo. Medo de ser quem somos, de assumir os nossos sonhos e as nossas falhas. Dar um pouco de nós aos outros não nos torna frágeis nem susceptíveis. Torna-nos mais ricos. Dar um sorriso que seja, não custa nada e pode alegrar o dia de alguém. Mais, pode convidar a entrar na nossa vida pessoas que, só por existirem, fazem da vida um sítio melhor.



Manter amigos: dependendo de com quem é pode ser uma missão simples. A amizade permite-nos um sem-número de erros, vacilos, pequenas maldades, desconsiderações. A amizade pressupõe uma quantidade hiperbólica de perdões. Claro, há sempre um limite. Mas não há amigos perfeitos, porque não há pessoas perfeitas. E o que seria da amizade sem a misericórdia, sem a compreensão? Aos amigos, tudo. Aos inimigos, o justo.


 


Não há amigos perfeitos, nem pessoas perfeitas. Dos grandes amigos espera-se demasiado, porque são aqueles que admiramos, que prezamos. As pequenas falhas magoam demais e podem tornar-se desilusões. As mesmas que causamos nos outros. Não há regra nem receita para o sucesso. Bom senso e compreensão costumam ajudar. Ver o lado do outro, walk a mile in their shoes. Perguntar "porque fizeste isto?" antes de julgar. E perceber que se a amizade não vale o suficiente para engolir o orgulho e perdoar, então não é amizade, é conveniência.



Perder amigos: costuma ser uma tristeza pior que a morte. Quando o que morre é a amizade e não o amigo, o fantasma do que antes era belo assombra e assusta. Quer pior coisa que um ex-amigo? O ressentimento é o cancro das emoções.


 


Não o diria melhor. Tristeza pior que a morte. Sei bem o que é perder um amigo, a pouca importância que têm as culpas e as razões perto do vazio que se instala no peito. Coloca-se tudo em causa: a importância que se teve para o outro, as palavras ditas, a confiança quebrada. Permanece, sobretudo, o sentimento de injustiça. Como pode alguém a quem quero tão bem descartar-me como se lhe fosse incómodo ou nefasto? A amizade valia tão pouco que foi trocada por isto?



Fazer amigos, manter amigos, perder amigos. Repito, repito, repito. Penso e repenso nisso ao reparar nas mais de 6500 almas que me adicionaram como “friend” no Facebook. O que devo fazer para não decepcionar essas pessoas que não conheço? Como posso tornar sustentáveis milhares de relações virtuais sem (com isso e para isso) descuidar das pessoas de carne e osso que teimam em ter-me como amigo?
Há muitas respostas para essas perguntas. Mas não gosto de estabelecer regras nem professar ciências. Só queria alertar para que vale a pena pensar no assunto. Conheço gente que, desde que começou a facebookear, passou a tratar com descaso as pessoas reais das suas vidas. Eu mesmo apanho-me de vez em quando enciumado com amigos que postam nas suas páginas coisas que, teoricamente, só os mais íntimos deveriam saber. Se calhar é coisa minha (minha idade emocional não vai muito além dos cinco anos). Mas recomendo atenção. Amigos, amigos, Facebook a parte.
Ou como diria o meu Tio Olavo: “Amigo é alguém que, ao nos conhecer de verdade, não sai a correr.”


 


Amigo é quem me conhece e, ainda assim, gosta de mim. Digo eu, que nunca privei com o Sr. Olavo. Não vejo porque separar os amigos "reais" do facebook. O facebook (e quem  diz facebook diz qualquer rede social) pode (e deve) conter apenas laços reais, cujo suporte se prolonga no mundo virtual. Longe das advertências do Edson, eu sou apologista incondicional das vantagens emocionais do facebook. Cuide-se da privacidade com bom senso (sempre) - e há ferramentas para isso, e as amizades não têm porque não sair fortalecidas. Claro que não é caso para trocar o convívio pessoal com o virtual. Mas, é inevitável, uma boa parte dos amigos e conhecidos não estão sempre por perto. Há uma boa porção de pessoas que as circunstâncias da vida afastam do dia-a-dia e que nas redes sociais não têm de estar afastadas. Convenhamos, quem vai telefonar ou enviar um e-mail àquele velho colega que está há dois anos emigrado e com quem não se manteve contacto regular só para dizer "olá" ou "ontem li uma notícia que me fez pensar em ti"? E porquê criar anticorpos à tecnologia, se esta, bem utilizada, não só não se substitui aos laços 'reais' como pode mesmo estreitar laços em que, de outra forma, não se investiria o suficiente?...