Escrevo para ti, escrevo para mim, escrevo para o ninguém que passa e lê. Disseco uma víscera, daquelas que se pegam à alma e se esconde atrás do suspiro abafado. A pálpebra que tomba ao som do luar, a espera que se espreguiça e arrasta noite dentro. E a impaciência corrói-me os músculos, que estalam, ácidos, como quem grita por clemência. Só a ausência me faz companhia, acena-me um sorriso e depressa se retira para ausências mais profundas dentro de si.
Só, novamente.
O vento anda, corre e voa!
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Deambulam sozinhos sem olhos que os iluminem, só vêem o caminho pulsante que brota de cada beijo. O caminho não teve início, não terá fim, a cada curva da vida as incertezas materializam-se. E juntos, caminham o caminho, de mãos dadas e passos confiantes.
O vento anda, corre e voa!
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Ainda faltam dois dias para a semana acabar e já sinto na boca o gosto a um mês de dentífrico mal esfregado, dentes cansados de verem passar tantas palavras em vão. A semana anterior também não foi profícua em gargalhadas nem suspiros e terminou como esta começou, cheia de solavancos emocionais, de vontades questionadas a medo, porque as certezas estão espetadas bem fundo, são pilares de ponte (sobre-o-Tejo, pois claro). Esbugalhei os olhos, franzi a testa, rosnei um pouco também. Tomei decisões, chamei razões, e em dias alguém muda as cores do cenário - vê-se já uma brecha na parede de esferovite. A brecha não significa que a casa esteja a cair. Pelo contrário, talvez seja uma fonte de luz que se permitiu atravessar no meu caminho. No fundo, no fundo, eu sou optimista. E tenho uma alergia quase física (juro que às vezes parece que ouço neurónios a gritar em surdina) às rotinas. É por isso que gosto tanto da carta "A Morte" do Tarot, significa mudança. Não necessariamente má, não necessariamente boa. Mas Mudança! Muda a dança, mundo em andança... Detesto refeições repetidas, férias na praia - parece que os grãos de areia, os cães a nadar e as criancinhas a ladrar (oops, fui má... ihih) se repetem, sempre no mesmo tom, com o mesmo cheiro de bronzeador Nivea... Os mesmos pés que passam o ano enclausurados em sapatos apertados e meias pouco perfumadas passeiam-se pelos rebordos da minha toalha. Blhac!!! Xô, tira daí esse dedão de unha comprida, este espaço é meu e não estás autorizado a respirar nele! Detesto ter as mesmas conversas de ontem, dizer a mesma frase vezes sem conta, vezes sem conta, vezes sem conta. Adoro surpresas, daquelas a meio da tarde que entram pela porta da frente sem mais nem ontem. Não gosto daquelas canções que nunca se escutou mas sabe-se a letra, de tão previsível que é. E, contudo, adoro ter a segurança e conforto das mesmas caras que me sorriem, sempre com afabilidade, por curiosidade ou simpatia. Descoberta, aventura, imaginação a galope... E o quente do abraço que acolhe o cansaço.
Esta é para ti, AragemAzul. Com amor, sempre.
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Pensava que fosses mais forte, queria que fosses mais tu. Pensava que querias conhecer mais como transitam em mim as emoções, mas viras as costas a todas elas, olhas para o lado como se não fosse nada contigo. Esse sorriso que mostraste com displicência a quem o quisesse ver vem de dentro de ti, não abafa as mágoas mal-choradas do meu sorriso torto e cansado. As tuas próximas palavras vão magoar como pedradas no charco, porque eu conheço-as já.
Consegues, num minuto, dar-me o mundo dos olhos que brilham e no próximo substitui-lo por copos calados de chocolate falseado. Não deixaste ainda um esfriar para escaldar-me os lábios com o próximo. E eu assim vou vivendo, entre o ardor quente e terrível e a língua adocicada à força. Assim vou ficando, entre balbúcios mal articulados e discursos cúmplices de planos irrealizados.
O vento anda, corre e voa!
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Ela: Queres ir?
Ele: Hmmm… Não sei… Tu queres?
Ela: A tua resposta está dependente da minha?
Ele: Sim…
Ela: Mas eu perguntei primeiro...
Ele: Mas eu só respondo se me disseres se tu queres ir…
Ela: Claro que quero, é a minha melhor amiga, que só vi 4 vezes nos últimos dois anos. Quero ao menos dar-lhe um beijinho, pôr um pouco a conversa em dia.
Ele: Então ‘tá bem, vamos.
Ela: Ok.
(30 segundos enquanto Ela manda mensagem à amiga a combinar o local de encontro)
Ele: Então, vamos?
Ela: Então, não tinhas dito que íamos? (Enquanto penteia o cabelo e se arranja para sair)
Ele: Bem, eu não tenho vontade nenhuma de ir lá, mas como é a tua amiga e eu também gostava de falar com ela…
Ela: Se não te apetece, não precisas de ir. Posso ir sem ti, ou posso não ir. Quero é que te decidas e digas se sim ou não.
Ele: Bem, eu vontade de ir não tenho…
Ela: Então, vamos ou não vamos? Preciso de saber…
Ele: Porque é que não vais com as tuas amigas? Eu deixo-te lá e depois ias para casa…
Ela: Mas desde quando é que tens direito de dar palpites sobre as minhas decisões? Quem decide a minha vida sou eu, não és tu! Estou à espera da resposta.
Ele: Não me apetece ir. Mas…
Ela: Mas então?... É assim tão difícil responder a uma pergunta simples, de sim ou não?
Ele: É.
Ela: É muito difícil viver com isso… Porque é que não és capaz de responder e manter uma resposta coerente durante 5 minutos? Primeiro é sim, depois não sabes… Preciso de saber, queres ir ou não?
Ele: Não.
Ela imediatamente telefona e altera os seus planos.
Ele: (silêncio)
Ela: (silêncio)
10 minutos depois
Ele: Porque choras?
Ela: (Olhar silencioso a transbordar de razões.)
Ele: (Silêncio)
Ela: (SLAM! Bate a porta e afasta-se sem voltar a olhar para ele.)
Agora: Nenhum dos dois sabe o que o outro está a pensar.
O vento anda, corre e voa!
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Pá, de que cor será a saudade de quem sabe que a saudade tem um prazo?
Pois, pela imagem já se está mesmo a ver que este post é de "Parabéns ao Sporting e aos seus adeptos/simpatizantes". Parabéns pela sofrida derrota vitoriosa de 3-2 face aos holandeses do AZ Alkmaar. E parabéns aos holandesdes pela vitória (merecida).
Mais rápida que o vento, a mudança de sorte!
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Limpo-te a memória
Violento os teus canais
Faço-te suar e cuspir e suar
Bebes gotas e goles
Expiras, exausto, calor
Resistes e o tempo passa
Resistes e queres descanso
Resistes e estragas-me
Os planos
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A martelar no riacho
A roer no caroço
Sinto-me a dar pontapés no ar.
O vento anda, corre e voa!
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Sentada na sala da luz vermelha, com ruídos mecânicos e quentes por banda sonora, apanho boleia com qualquer pensamento que me leve para longe daqui.
Ainda não é Verão, mas já me sinto sufocada e não é só pelo calor. Impus-me um prazo de início de busca activa de um rumo profissional diferente e já passaram quatro meses inteiros sem resultado. Verdade que nem sempre tive a disponibilidade mental para escrever inspiradas cartas de motivação. Tê-la-ei, à disponibilidade, daqui a uns dois dias. Está decidido, vou passar a dedicar muito mais tempo às coisas que me fazem feliz. Em primeiríssimo lugar, sempre, está o meu Amor. Vou escrever muito mais, desenhar e pintar muito mais, fotografar (ainda mais) compulsivamente. Talvez aprofunde o meu alemão ou tire um cursinho de francês ou espanhol (que a memória bem precisa de ser refrescada e a TV5 não é paragem habitual do telecomando). Vou caminhar pela baía sempre que possa e pelo menos ao fim-de-semana. Vou tentar a sorte (ou melhor, tentar aquele misto de capacidade, gosto e aptidão) no yoga e no tai-chi e no que mais me der na bolha. Vou aprender mais umas coisas de "informatiquês", ler algumas das dezenas de bons livros que fui comprando nos últimos 3 anos e ainda não tive tempo de ler. Ah, e tenho de fazer uma tese de mestrado... E tudo isto fora do horário normal de trabalho. Certo... Percebem porque é que os dias deviam ter 50 horas?...
E já agora, se alguém souber de um emprego (qualquer um que seja "emprego a sério"), avise!
O vento anda, corre e voa!
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Quis a minha agenda social, com picos muito altos e vales de marasmo profundo, em alternância pouco homogénea, que ontem tentasse fazer caber "o Rossio na Rua da Betesga", que é como quem diz, em 16 horas úteis conseguir produzir reflexões originais para botar na caixinha das filosofias (isto ontem, como hoje, excepcionalmente, é trabalho), atravessar o Tejo sobre 4 rodas, ir ver um filme de piratas, comer qualquer coisa, rumar aos subúrbios para testemunhar jovens talentos teatrais incipientes, enveredar pelos antros de consumo que normalmente abomino e tomar muitas decisões (com o propósito único de encontrar o presente perfeito para o Dia da Mãe - eu sei, eu sei...), voltar a atravessar o Tejo e encontrar-me com amigos que festejam um ano desde o último festejo similar. Exacto, é demasiado, até mesmo (e sobretudo) para caber tudo numa só frase. Claro que não consegui. O trânsito nunca colabora nos dias mais preenchidos, o filme já tinha começado, o tempo encolhe e... não deu. Cumpri parte dos planos que tinha, o que já foi bastante positivo.
Mas não era nada destas angústias, que só o são porque há dias que bem podiam ter 50 horas (só para não ser 48), que queria falar/escrever.A bem da verdade, quero dizer ao mundo que ontem fui surpreendida. Quero dizer ao mundo que recuperei um pouco a fé na natureza humana, essa mesma que perco um pouco todos os dias. E nem sequer foi preciso nenhum acto heróico de abnegação extraordinária, de altruísmo comovente. Muito mais simples. (As melhores coisas da vida são as mais simples, não é?) Decidi jantar num sítio diferente. Pasmem-se as almas, era fast food e foi absolutamente excelente, sob todos os aspectos. Mesmo, genuinamente, excelente. A comida diferente (grega, por sinal), de temperos aromáticos e sãos, regada com uma simpatia transbordante, um inequívoco bem-querer, um cuidado incomum no trato. A gentileza tomou forma de pessoa num corpo masculino de meia idade, de tez dourada (origem grega, estou a supor) e cabelos grisalhos. É tão raro nestes dias ter um atendimento ao balcão que nos faz sentir gente. Ali fomos tratados como velhos amigos, sem nunca antes nos termos visto.
Como não posso mandar nos destinos dos homens (e sou arrogante o suficiente para achar que gostaria de ter esse poder), não posso enviar este senhor directamente para o reino dos puros de coração magnânime, o Céu para quem for de catolicismos, nem vou detalhar as pequenas surpresas deliciosas para a alma com que me presenteou, não vão todos quantos lêem este blog (e serão, praí, uns 2...) esperar do simpaticíssimo grego tratamento similar. Mas o que posso fazer é partilhar a experiência, recomendá-la a quem mo permita. Pois cá está a rota: Saldanha Residence (Lisboa), descer as escadas e logo atrás do piano: ARIES. Vale a pena.