Seco como a recordação do dia que nunca passaste a olhar para a trovoada a meu lado. Que o que nunca foi também traz recordações. E o que podia ter sido. Por isso cravo as unhas nas recordações do que talvez venha a ser. E sorrio. E deixo o Amor apoderar-se de cada célula.
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Imagens que passais pela retina Dos meus olhos, porque não vos fixais? Que passais como a água cristalina Por uma fonte para nunca mais!...
Ou para o lago escuro onde termina Vosso curso, silente de juncais, E o vago medo angustioso domina, - Porque ides sem mim, não me levais?
Sem vós o que são os meus olhos abertos? - O espelho inútil, meus olhos pagãos! Aridez de sucessivos desertos...
Fica sequer, sombra das minhas mãos, Flexão casual de meus dedos incertos, - Estranha sombra em movimentos vãos.
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Il pleure dans mon coeur Comme il pleut sur la ville. Verlaine
Meus olhos apagados, Vede a água cair. Das beiras dos telhados, Cair, sempre cair.
Das beiras dos telhados, Cair, quase morrer... Meus olhos apagados, E cansados de ver.
Meus olhos, afogai-vos Na vã tristeza ambiente. Caí e derramai-vos Como a água morrente.
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Floriram por engano as rosas bravas No inverno: veio o vento desfolhá-las... Em que cismas, meu bem? Porque me calas As vozes com que há pouco me enganavas?
Castelos doidos! Tão cedo caístes!... Onde vamos, alheio o pensamento, De mãos dadas? Teus olhos, que um momento Perscrutaram nos meus, como vão tristes!
E sobre nós cai nupcial a neve, Surda, em triunfo, pétalas, de leve Juncando o chão, na acrópole de gelos...
Em redor do teu vulto é como um véu! ¿Quem as esparze - quanta flor! -, do céu, Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?