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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem














Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



 


Escreve-me um poema...


 


 



 


 

Trazia consigo a graça 
das fontes quando anoitece. 
Era um corpo como um rio 
em sereno desafio 
com as margens quando desce. 

Andava como quem passa 
sem ter tempo de parar. 
Ervas nasciam dos passos, 
cresciam troncos dos braços 
quando os erguia no ar. 

Sorria como quem dança. 
E desfolhava ao dançar 
o corpo, que lhe tremia 
num ritmo que ele sabia 
que os deuses devem usar. 

E seguia o seu caminho, 
porque era um deus que passava. 
Alheio a tudo o que via, 
enleado na melodia 
duma flauta que tocava.


 



in "Poesia" 
de Eugénio de Andrade


 


 




 


  • Não fomos à IKEA

  • Não fomos ao Gerês

  • Não fomos a Paris

  • Não fomos a Siena de Vespa beber um expresso

  • Não fomos a Barcelona

  • Não vimos José e Pilar nem o Filme do Desassossego

  • Não estreámos o leitor de DVD

  • Não precisámos do GPS

  • Não fomos para os copos

  • Não conheceste a minha malta

  • Não andámos de bicicleta

  • Não me emprestaste o cartão da Biblioteca

  • Não nos fotografámos a sério

  • Não fomos assinar os papéis ao Registo

  • Não tivémos a licença

  • Não conheceste os meus pais

  • Não conheci os teus pais

  • Não fiz festas à tua cadela

  • Não apresentámos a minha amiga ao teu irmão

  • Não rebolámos nas dunas

  • Não emigrámos para a Noruega

  • Não cumprimos um projecto de vida sonhado a dois

  • Não fizémos o mega-roupeiro

  • Não te comprei o jarro eléctrico

  • Não me deste malmequeres

  • Não aprendeste a cozinhar

  • Não bebemos café em nenhuma das varandas numa tarde de Verão

  • Não tivémos um monte de putos


E o pior de tudo? Não me escreveste um poema.


 


 



 


 

Acho que estou severamente doente, devo estar para quinar em breve. Não tenho a mínima vontade de escrever (algo de jeito). Aliás, de coisa nenhuma. Não é só a preguicite que me leva a estender a roupa em suaves prestações, a arrumar as coisas em câmara lenta, a dormir semi-vestida, a não fazer a cama há já nem me lembro quantos dias. Não é só o cansaço de andar imersa em trabalho e a seguir ainda encontrar planos para demorar o regresso a casa. É um torpor de espírito, sei lá, que nem deixa os olhos descansarem numa tv, nem responder a e-mails, nem regar as plantas. Tudo, até respirar, parece ser um esforço sobrenatural.