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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

A psicoterapeuta que andou a vasculhar-me os neurónios nunca percebeu bem, nem eu, o motivo por detrás da minha "quasi-fobia" de botões. Os maiores e baços são quase toleráveis mas quanto mais pequeninos e nacarados maior nojo lhes tenho. Sim, nojo. Evito tocar-lhes, raramente uso camisas com botões.


Mais fácil de explicar é a mesma reacção perante jóias/bijuteria dourada. Sobretudo nos minúsculos e odiosos brincos, fechos e pendentes. Ptui! Mas deixo essa explicação entre me, myself and I.


 


 



(coisas que nunca soubeste)

Enquanto via a reportagem da RTP que acabou de passar, no programa "30 minutos", lembrei-me deste texto da Advogada do Diabo.


Não é por acaso que tantas vezes a trago aqui. Ela consegue verbalizar aquilo que eu nunca conseguiria. Enquanto via a reportagem e duas lágrimas teimosas caíam, só pensava para comigo "Caramba! Isto não é só dedicação e carinho. É amor." Porque o amor é isto. O companheirismo, o estar sempre disponível para amparar e dar uma festa no cabelo, o nunca lamentar porque apesar de tudo se acha uma enorme sorte ter alguém que se ama e nos ama incondicionalmente pela vida fora. Grandes lições de vida nos dãos os nossos velhos.  Abençoados sejam.


 


Disse ele


 


"Vai chegar o dia em que vais ter dificuldades em ouvir-me chamar o teu nome. Vou ter de repeti-lo duas, três, quatro vezes, mas não me vou cansar. Vou ter de te pegar na mão ainda com mais segurança; sentar-te na cadeira quando as tuas pernas não permitirem que o faças sozinha. E dar-te de comer. Vais olhar para mim e, no imediato, paralisas os teus olhos nos meus. Como se procurasses um sinal que não te fosse desconhecido. Os teus óculos, já gastos pelos anos, mantêm a minha imagem gravada. Não te peço que te lembres sempre do meu nome, do dia em que demos o nosso primeiro beijo, ou do dia em que, do passeio da tua rua, exclamei o pedido de namoro mais sonoro que alguma vez foi feito, e tu quase te atiraste da janela, para os meus braços. Não te peço que mantenhas a casa a brilhar ou que trates do quintal das traseiras da casa. Deixa-me ao menos cuidar de ti. Como tu foste capaz de cuidar de mim. Deixa-me mostrar-te que os anos que passaram por nós, podem ter levado as recordações, as memórias, as juras... mas nunca foram capazes de levar o amor que sinto por ti. Deixa-me amar-te neste fim de vida. E mesmo que o meu corpo não tenha a robustez de outrora, senta-te no meu colo. Só para sentir o teu perfume colado a mim. Deixa-me morrer a cuidar de ti", disse ele.

Queria começar de novo. Queria limpar o coração (o meu e também o teu) das mágoas todas, mesmo das que já lá estavam antes. Queria não ter medo. Queria que nos apaixonássemos outra vez um pelo outro sem termos os pesos atrelados do que já passámos. Queria que puséssemos as mãos direitas numa parede e nos descobríssemos, queria que nos déssemos as mãos esquerdas e o corpo todo e a alma toda. Queria que voltássemos a ficar tão encantados um pelo outro. Gostava de ter noites de sorrisos eternos só por sabermos que existimos. Gostava que me escrevesses um pouco do tanto de ti, que te desses aos poucochinhos e que ficasses a braços com a avalanche do excesso de mim.


Gostava que voltasses a gostar de mim.




Queria que soubesses o que eu sinto. Queria que soubesses pôr-te no meu lugar e ter uma ideia do quanto dói. Queria que te superasses para que deixasse de doer. Que estivesses disposto a ir à Lua e voltar só para me devolveres o sorriso. Queria que não achasses que é só com palavras que se restaura o que se perdeu. Queria perceber-te, saber ler-te por dentro. Queria que me acreditasses. Queria que estremecesses de cada vez que a ideia de nunca mais me teres te cruzasse a mente. Queria que te lembrasses sempre de quando me disseste a sorte que tens por eu acreditar em quem tu és no fundo de tudo. Queria que não andasses a dizer aos teus amigos que está tudo bem. Queria que não tivesses medo do confronto. Que não poupasses nas palavras. Queria que a meio da noite tivesses a absoluta necessidade de me abraçar. Queria que não soubesses pela minha voz que estou cativa deste maldito amor que me consome. Queria saber que me amas. Queria nunca mais duvidar.


 


 



 


 















Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



Não me escreveste um poema.



 


Escreve-me um poema...


 


 



 


 

Trazia consigo a graça 
das fontes quando anoitece. 
Era um corpo como um rio 
em sereno desafio 
com as margens quando desce. 

Andava como quem passa 
sem ter tempo de parar. 
Ervas nasciam dos passos, 
cresciam troncos dos braços 
quando os erguia no ar. 

Sorria como quem dança. 
E desfolhava ao dançar 
o corpo, que lhe tremia 
num ritmo que ele sabia 
que os deuses devem usar. 

E seguia o seu caminho, 
porque era um deus que passava. 
Alheio a tudo o que via, 
enleado na melodia 
duma flauta que tocava.


 



in "Poesia" 
de Eugénio de Andrade


 


 




 


  • Não fomos à IKEA

  • Não fomos ao Gerês

  • Não fomos a Paris

  • Não fomos a Siena de Vespa beber um expresso

  • Não fomos a Barcelona

  • Não vimos José e Pilar nem o Filme do Desassossego

  • Não estreámos o leitor de DVD

  • Não precisámos do GPS

  • Não fomos para os copos

  • Não conheceste a minha malta

  • Não andámos de bicicleta

  • Não me emprestaste o cartão da Biblioteca

  • Não nos fotografámos a sério

  • Não fomos assinar os papéis ao Registo

  • Não tivémos a licença

  • Não conheceste os meus pais

  • Não conheci os teus pais

  • Não fiz festas à tua cadela

  • Não apresentámos a minha amiga ao teu irmão

  • Não rebolámos nas dunas

  • Não emigrámos para a Noruega

  • Não cumprimos um projecto de vida sonhado a dois

  • Não fizémos o mega-roupeiro

  • Não te comprei o jarro eléctrico

  • Não me deste malmequeres

  • Não aprendeste a cozinhar

  • Não bebemos café em nenhuma das varandas numa tarde de Verão

  • Não tivémos um monte de putos


E o pior de tudo? Não me escreveste um poema.