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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

O Jorge (JBG) ofereceu-me uma fotografia. Não sei quando a tirou, sou distraída, sempre na Lua. Mas sou eu, inteirinha, ali em baixo.


Muito obrigada, querido Jorge, pela fotografia sob forma de poema que apanha um ângulo difícil de captar.


Se calhar ainda há poesia no mundo... :)


 


Quantas queimaduras terei?
Com gelo e com fogo me queimei.
Duras marcas dum plano em que colaborei.
Jura tatuada, em pele imaculada.
Mudei para amar.
Resisti por acreditar.
Alma, com tanto amada
que por amor foi dada.

Redondos, os olhos a interrogar.


Perguntas como flechas que nem o silêncio desvia.


Direitos a mim, redondos, na aflição do alívio.


 


 


Não te aflijas, passarinho. Guarda as asas para quem tas souber navegar.


Nunca disse para sempre neste ou noutro lugar. 

A menina do vestido vermelho tem dois traços molhados nele. Rodopia pela sala, à procura duma bússola desnorteada.


Fica tonta. Quer sair. Falha a porta. Sai pela janela, a voar dum 3º andar.


 


 



 


 

Sonhei com um fantasma que se tinha lembrado de voltar a existir.


Mesmo ali, onde costumava ser um sítio seguro para as irrealidades, voltei as costas e mudei de sonho.


Acho que estou curada.


 


 



 


 

Cuca, nos desertos pode nascer a esperança.


 


Acordámos no deserto. Tínhamos areia debaixo das unhas, dentro dos ouvidos e nas narinas. Não nos dentes. Não, ainda, nessa altura. Não no deserto daquela noite.
Ficámos deitados nas almofadas de veludo da tenda berbere a beber chá de menta enquanto ouvíamos o barulho que faz a noite quando se levanta sobre o deserto sem fim. Com os olhos postos na aurora e as mãos esquecidas nos meus joelhos gelados prometeste-me uma existência sem dor. Ofereceste como testemunhas da tua verdade as cobras, escorpiões, escaravelhos e todas as criaturas rastejantes que conseguiste manter longe dos meus pés nus. Eu não precisava de testemunhas. Nunca duvidei de ti.
Nem quando no dia seguinte os camelos foram incapazes de encontrar as margens do rio e os guias insistiram numa direcção que não era a da tua bússola. Nem aí duvidei de ti.
A promessa daquela noite haverias de a repetir à exaustão. Em cenários dispersos por vários continentes. Sempre com as mãos pousadas sobre os meus joelhos. Aquecidos.
Cumpriste-a postumamente.
Cauterizou-me os nervos o sol desse outro deserto em que acabaste por me abandonar.
Deixei de sentir dor.
Mas nessa altura passei a duvidar. De mim.

Someone who scratches my back, who kisses me in the neck. Someone who takes all my calls because it's always the most important thing, even when it's just to say "Hi. I miss you."


That's what I want.

 


 


 



 


 


 


Nunca pensaste que falasse a sério quando disse "nunca mais".


Nunca achaste que fosse forte o suficiente, que valesses tanto ou tão pouco.


Nunca me conheceste. Nunca te ocorreu que das palavras se fizesse lei.


Nunca sonhaste que depois do "nunca mais", nunca mais um som, nunca mais uma aproximação, um acidental piscar de olho.


Nunca imaginaste que depois do "nunca mais" fosses tu a esticar um dedo na escuridão.


Nunca acreditaste que fossem os teus olhos espantados a travar e todo o meu gelo a dizer-te o que só nos silêncios se ouve.


Nunca viste o que era mais óbvio.


Nunca mais, ninguém. Nunca mais.


 


 

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