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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

Não tenho de sentir-me mal por exigir o mínimo que considero aceitável.

Não tenho de pedir desculpa por me sentir desiludida com quem me falha.

Mereço o melhor, porque de mim dou o melhor.

Não, não me satisfaço com o possível, quero a perfeição, sempre.

Não me contento com nada a meio-gás, incompleto, aos bochechos; ou é a todo o vapor, sem hesitações, ou não é nada.

Não tolero a mentira, nenhuma forma de mentira, e abomino mentirosos.

Nunca fui europeia, sempre quis ser deslumbrada com o mundo inteiro.

As migalhas não matam a fome, só prolongam o engano.

Não quero um poucochinho, quero tudo.

Não respondo assim-assim, em grayscale, só sei falar a preto e branco.

Não quero telegramas, gosto de poemas.

Não quero relatos, quero ser a narradora da minha acção.

Não sou feliz com a aproximação, quero a sorte grande.

Não chega. Não para mim.

 

E já to disse, e já to repeti, e repetirei, e desejarei, porque não sei saciar a fome da minha pele pela tua.


 


Desejo, by Boca de lís


 


Desejo. É uma coisa engraçada e dá-se-lhe pouco apreço. No amor todos querem espetar o dedo, como quem gira um globo de plástico e o pára só para dizer "Estive aqui!", apontando para um sítio do planeta. "Amei aqui!", dedo espetado na ferida que esse bastardo tem por costume deixar. Do desejo fala-se pouco: levantam-se mãos que “Não fui eu!”. Varre-se para debaixo do tapete, desligam-se as luzes antes de o cumprimentar, porque ai de quem lhe veja os olhos. O seu lado lunar, pulsando vaidades animalescas que ninguém consegue pintar em alegorias. O amor ensina-se às crianças; sexo tem idade. Podemo-nos apaixonar aos 4 anos e seremos idolatrados do infantário à reforma – é história de se gabar aos netos. Se aos 4 fala de sexo, é prematura e dir-se-á promíscua até aos 30 – e só os pais saberão o pudico e secreto incidente. Contam-se romances e interioriza-se que o amor é uma coisa tão agradável que não lhe bastam todas as metáforas nem suficientes lhe são todas as líricas. O amor é como um suminho de laranja natural, apetece. A apregoada imagem de um casal idoso que dá as mãos, passeando na rua, comove mundos. Imaginam-se enredos, de uma paixão proibida, restringida, e um amor que vinga incondicional e independentemente. Não há histórias da luxúria na primeira pessoa, os contos exigem coerência que o desejo não tem. Desejo-te. Não se diz. É comprido demais, tem muitas sílabas, não fica bem em inglês e certamente se perde nas traduções para o francês. Roça o pornográfico se virmos por línguas espanholas. Cai em desuso, porque áspero. O desejo é como um limão, não se lhe pode trincar que incomoda até às vísceras. Até faz parecer que não se gosta de uma pessoa: queremo-la. E se "quero-te bem" é amoroso, "quero-te", assim, sozinho, desnudo, já parece capricho. Mas queres porquê? Egoísmo, pela certa! E ai dos Homens que se prestem a vanglórias, olhem o amor que é altruísta! Coisa bonita! Existe para lá do corpo e... morre sem ele. Porque dêem-me quantas líricas queiram, poética que o seja, não vejo amor sem desejo. Sem um "chega-me para cá essas pernas, mulher!" ou um agarrar de unhas cravadas nas costas dele, porque se o deseja por inteiro. Só havendo laranjas, não nos sai da cabeça a imagem amarela e reluzente daquele limão - Trinca-me.

E porque é o que mais nos aproxima dos animais, é o que mais nos assusta. Julgamo-nos tão racionais e, no final de contas, tão especiais... que nos esquecemos que é o desejo que nos alimenta o amor. Impropriamente, o Amor Próprio - rei de todos os outros.

 

não é partilhar palavras ocas sobre vestidos vazios. Bom gosto seria agarrares na mão de alguém a quem prometias malmequeres e poemas, e não largar enquanto os poemas escorressem dos teus lábios para o meu peito.


 


 



Bubo bubo, a pedido. A seguir, queres uma Tito alba?


 


 

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