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podia ser estar durante mais de uma semana a trabalhar num ensaio muito importante e só depois de entregá-lo reparar que nem se consultou o manual da disciplina.
Podia ser. Mas no meu caso é só mesmo distracção...
Não, não. não. A espátula para cortar queijo não serve para sacar bifes à mão esquerda. Afiadinha, a sacana...
Tenho a dizer ao gajedo que:
"Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem destrói o seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito e do trabalho, repetindo todos os dias o mesmo trajecto, quem não muda as marcas no supermercado, não arrisca vestir uma cor nova, não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam o brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeções, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo, não tentando um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!"
Pablo Neruda
Nunca tive medo da mudança, esse flagelo que parece ser uma epidemia maléfica. Eu gosto de mudanças. Gosto de mudar de ares, de desafios novos, de surpresas. Ficar sem chão de repente pode ser assustador, mas também é entusiasmante, é a melhor oportunidade para aprender a voar.
Estou para as mudanças como estão para as pessoas com medo de alturas, aquelas vertigens que dão vontade de pular. Quando a maior parte da malta se encolhe ao saber que amanhã tudo vai mudar, eu dou o passo em frente. E acreditem, esta postura faz toda a diferença, em tudo na vida. No meio laboral, porque a instabilidade reina quando se iniciam novas fases, e são os que têm estrutura para seguir em frente com os olhos nos objectivos que têm de orientar a navegação. Na vida pessoal, porque viver exige coragem, e muita. Tudo pode ser um desafio imenso. Ter a coragem de sair duma relação em que não se está pleno, enfrentar uma perda, encarar uma doença. Em vez de gastar energias a lamentar o grande azar, a grande injustiça, os porquês e o como seria se fosse diferente, há que agarrar nessa energia e investi-la em melhorar o que está ao alcance. Arregaçar as mangas e arrepiar caminho, enfrentar os dilemas, tomar decisões e mantê-las.
Parece que estou aqui a falar de galo, que sou a maior do pedaço... Mas nisto, epá, sou! Tenho andado a ver-me ao espelho. Tenho aprendido (a custo, confesso) a gostar de quem sou. Sou uma mulher de armas e muito forte, sou. "Não sou exemplo para ninguém", mas sou o meu melhor exemplo. Quando não estava feliz no trabalho arrisquei tudo e mudei de vida, sem saber ao que ia. Quando perdi pessoas importantes, agarrei-me mais aos que ganhei. Quando me disseram que para ter uma vida mais saudável tinham de martelar-me toda e isso implicava o risco de perder a locomoção, não pensei duas vezes. Quando me vi rodeada de números (que adoro) fui equilibrar-me nas letras (que também adoro). Quando me magoaram, perdoei. Quando errei, enfrentei os castigos. Quando me aborreço de ter o cabelo comprido corto curtinho. Quando me habituo a um caminho, sigo pelo outro. Quando aprendo tudo o que há para saber disto, dedico-me só ao aquilo.
Gosto do risco, gosto de superar os meus limites e de ter a fasquia cada vez mais alta. Gosto de sair da zona de conforto e fazer coisas que nunca me tinha imaginado a fazer.
Não nos podemos perder do que é importante. Da missão, do objectivo. Não é interessante olhar para trás quando todo um mundo se revela lá à frente. Ir na corrente é para qualquer um. Descobrir a nascente é para os bravos.