Em termos práticos, como é que se faz face às dificuldades generalizadas e crescentes do país e do mundo, sem passar necessidades?
Se, ou quando, fizer um guia prático, poderia começar assim.
1 - ter consciência política. Ir às urnas sabendo o que se faz e o que significa votar nuns ou noutros. Começa tudo aqui. Mas só este tema dava para uma tese...
Ok, vamos presumir que esta parte já está coberta à partida. Falso alarme, então:
1 - Estabelecer prioridades. Muitas serão comuns a toda a gente, outras nem tanto, e cabe a cada um, ou à sede familiar, decidir o que é mais imprescindível para si e as suas circunstâncias. Manter um negócio, ampliar a família, saúde ou educação, trazer família de outro país, whatever. Importante é não ceder à dispersão. Ninguém consegue tudo ao mesmo tempo, pelo que há que distinguir urgências, necessidades, caprichos de acordo com o que se pretende da, ou na, vida.
2 - Viver de acordo com as possibilidades e necessidades, que é como quem diz Planear. Fazer contas ao deve e ao haver. Saber fazer contas e concretizar. Não ter só uma ideia e estimar por alto. Agarrar nos recibos e construir um plano. Saber exactamente quanto se gasta em quê. O Microsoft Excel tem uns orçamentos pessoais mensais muito simples que se pode preencher, por exemplo. É muito útil olhar para números em vez de ter ideias aproximadas. Se só se consegue poupar 100€ por mês é um disparate comprar qualquer coisa que tenha uma prestação de 200€ e isso parece não ser óbvio para muitas, mesmo muitas, pessoas. Se a casa de 4 quartos está no limite do que pode pagar, opte pela de 3 quartos. Os juros vão subir, os ordenados não. O telemóvel topo de gama que até bate claras em castelo é muito giro, mas não alimenta e custa dinheiro que você não tem. Se só precisa de utilizar os básicos, deixe-se estar quieto que esse telemóvel até só tem um ano e o dinheiro faz falta é para fazer aquela consulta ao dentista que tem andado a adiar. Precisa mesmo de mais um par de sapatos?
3 - Fugir aos juros. Não comprar nada a prestações com juros (a casa tem mesmo que ser, então não decida antes de procurar bem todas as opções e negociar!), não fazer empréstimos pessoais (as taxas são ridículas, de 20 a 30% e mais!). É um dos maiores erros que endivida as famílias e acaba por encostá-las à parede. Se não pode pagar tudo duma vez, não compre. Espere até poder. Ou então opte por uma campanha de prestações sem juros, mas lembre-se de contar com aquela prestação todos os meses durante x tempo. Aquela verba extra não vai cair do ar!
4 - Estimar o que se tem. Não estragar. Cuidar das coisas, todas as coisas, desde electrodomésticos à roupa e mesmo ao emprego. Se se vive num orçamento apertado, não nos podemos dar ao luxo de espatifar carros/frigoríficos/óculos/ténis/you name it. Investir em alguma manutenção é mais barato do que deitar fora e comprar outro. Se acontecer mesmo um acidente qualquer e surgir uma despesa inesperada... Ver ponto seguinte.
5 - Poupar. Prevenir. Não contar com o ovo no cú da galinha. Porque se hoje está difícil amanhã pode estar ainda mais, porque os impostos multiplicam-se, os preços sobem, os salários descem, porque os azares e imprevistos acontecem, porque ninguém sabe o dia de amanhã. E se um elemento do agregado familiar fica doente, ou perde o emprego, ou tem um problema qualquer? Estipular uma verba realista e possível para poupar mensalmente é o melhor plano. Colocar numa conta bancária que possa render alguns juros é melhor do que num mealheiro, fazer uma poupança-reforma (pesar os prós e os contras, claro), seja. É importante ter um pé-de-meia para não se ver "descalço" numa qualquer aflição.
6 - Reduzir, reutilizar e reciclar - devia ser o lema de vida de toda a gente. Os filhos mais novos a usarem coisas que foram dos mais velhos(berços, cadeirinhas e a parafernália toda envolvida nessa aventura de ter crianças, roupa, livros e tudo o mais que seja possível). Libertem-se dos preconceitos! Aceitem o que quem pode e quer vos dá. A prima vai deitar fora um sofá perfeitamente bom e o vosso está a desfazer-se? Levem-no para casa e agradeçam as centenas de euros que acabaram de poupar. O casaco do vizinho já não lhe serve? Até assenta mesmo bem em si. Não é vergonha usar nada em segunda-mão, é inteligência e boa gestão.
7 - Saber comprar. Estar atento aos preços, ver as opções. As diferenças de preço podem ser abismais. Mais uma vez, libertem-se dos preconceitos! Dêem uma oportunidade às marcas brancas, ao low-cost, esqueçam as etiquetas. Pagar 1,37€ por 8 iogurtes bons é um óptimo preço. Pagar 3,15€ por 4 iogurtes é estupidez. Aproveitar promoções realmente vantajosas e comprar a quantidade adequada. Se o detergente para a roupa está a menos de metade do preço, leve duas ou mais embalagens. Não se estraga e está a poupar dez ou vinte euros. O sabonete hiper-mega-cremoso e cheirosinho custa o triplo do de marca branca? Não me diga "Ah, mas é muito melhor!" antes de experimentar, porque não é! E quem diz iogurtes, detergentes e sabonetes diz tudo. No vestuário e calçado as diferenças são gritantes. Tudo isto junto não são trocos, é antes uma parcela bem grande do potencial de poupança de qualquer agregado familiar. Experimente!
8 - Anular desperdícios. Primeiro, na comida. Não se deita comida fora, ponto. Usa-se a imaginação, aproveita-se todos os restos e não se deixa estragar uma nêspera que seja. Depois, em tudo o resto: energia, papel, detergentes, tecidos, tudo. Política dos 3 R sempre presente! Há por aí quem saiba muito mais do assunto do que eu, inclusivamente bloggers excelentes que partilham as suas dicas.
9 - Exterminar futilidades. Comecemos pelos vícios. Deixe de fumar imediatamente! Poupa uma brutalidade de dinheiro e poupa algo que não tem preço: a sua saúde e a dos que o rodeiam. Se tem dificuldades orçamentais não está em condições de não olhar aos pequenos gastos. Os pequenos gastos acumulados são gastos grandes. Uma revista cor-de-rosa todos dias são dezenas de euros ao fim do mês e este é apenas um dos exemplos. Identifique os "pequenos nadas" que se tornaram hábitos e faça as contas.
10 - Encontrar alternativas. Levar lancheira em vez de almoçar no restaurante todos os dias. Em vez de parar para tomar o pequeno-almoço no café, use esse tempo para tomar em casa uma refeição mais saudável com opções que não tem fora de casa. Cereais e fruta, por exemplo. Já pensou que paga por um galão mais do que por um litro de leite? E que tal experimentar andar a pé e usar os transportes públicos em vez de andar sempre de rabinho tremido? Poupa-se no bólide, no combustível e nos cremes anti-celulite.
Para começo, este é um resumo. Talvez crie outro blog sobre o assunto. Veremos.