Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

"A Utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar."


 


Eduardo Galeano, escritor uruguaio

My head, my heart, mine eyes, my life, nay, more, 
My joy, my magazine of earthly store, 
If two be one, as surely thou and I,  
How stayest thou there, wilst I at Ipswich lie?  
So many steps, head from the heart to sever,  
If but a neck, soon should we be together,  
I, like the Earth this season, mourn in black,  
My Sun is gone so far in's zodiac, 
Whom whilst I 'joyed, nor storms, nor frost I felt, 
His warmth such frigid colds did cause to melt.  
My chilled limbs now numbed lie forlorn; 
Return, return, sweet Sol, from Capricorn, 
In this dead time, alas, what can I more  
Than view those fruits which through thy heat I bore?  
Which sweet contentment yield me for a space, 
True living pictures of their father's face. 
O strange effect! now thou art southward gone,  
I weary grow the tedious day so long;  
But when thou northward to me shalt return,  
I wish my Sun may never set, but burn  
Within the Cancer of my glowing breast,  
The welcome house of him my dearest guest.  
Where ever, ever stay, and go not thence,  
Till nature's sad decree shall call thee hence;  
Flesh of thy flesh, bone of thy bone, 
I here, thou there, but both but one.


 


Porque é na saudade que o amor se revela, haja ou não distância.


Atentai que a autora era uma jovem esposa de 18 anos, de uma das primeiras gerações de colonos ingleses na América. com profundas convicções puritanas.


 

No fim de contas, ela era uma dessas mulherzinhas bem-dispostas que vive num pequeno apartamento dos subúrbios de uma grande cidade. O marido sai para trabalhar e ela pega em si, faz a sua higiene diária. Sem maquilhagem, vai só às compras ali no bairro. Mas arranjadinha, que não é nenhuma dessas marias-limpinhas. O pão na padaria. O peixe na peixaria. A carne no talho. As frutas e os legumes na mercearia. Tão carregada! Volta a casa, põe o avental. A lida. Tudo tem de estar pronto para quando ele chegar. Sim, o seu homem. Pano do pó, aspirador, esfregona. Roupa para lavar. Estender. Passar. Enquanto faz o almoço. Afinal hoje não vem almoçar a casa. Ela suspira, ela espera. Coitado, trabalha tanto. E pouco come. E volta a estender e a passar e a arear tachos e arrumar gavetas - tão cansada! O grão no frasco, ao lado do arroz, alinhado, aprumadinho. Um exército na despesa. Olha para as horas, já é tarde, o marido demora, tão tarde que jantam. Nem a olha, está cansado. Ela solícita, subserviente sem se dar conta, serve-lhe o jantar, levanta a mesa. E o sexo arde-lhe, ingrato, inflama-a, sem que a possua. Ali, no balcão da cozinha, no chão da sala que meticulosamente à tarde aspirou. Um homem que a faça sentir viva, que a respire. Que lhe afague as carnes gastas pelas esperas inúteis. Que a arranhe com a barba mal feita. Que dois braços a prendam para não fugir de si mesma. Dele. Que a convençam que amanhã vale a pena acordar e arranjar-se e ir às compras e voltar a casa, fazer a lida, o almoço, o jantar e esperar, paciente qual Penélope, pelo marido que não a fita, nem a agarra. Uma e outra vez. Uma noite que passa. Toda a vida. Ele a ressonar, ela a tocar-se. Ela acorda, sem ele a ter tocado.


 


 


http://wahparis.blogspot.com/2012/01/espera-de-godot.html