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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

Virada para dentro, como sempre tinha sido a minha postura aqui, só o via a ele. E a mim, com ele, sem ele. Ele, na presença e na ausência. E decidi deixar de falar com ele por estas linhas, ou fingir, porque é sempre ele que me sabe ouvir e ler nas entrelinhas, mesmo se não o chamo à acção. Voltei-me para fora, para lhe virar as costas. Vou espreitando por cima do ombro, porque sei que ele lá está, que ainda lá está, que sempre estará. Onde estiver eu, estará a presença dele, e a ausência, maior e mais sentida. E assim vou-me virando para fora, voltando as costas também a mim, a uma parte incontornável de mim. E vou fingindo que não quero saber, vou fingindo que não me pesa, fingindo que não me afecta ele perguntar por mim. E se preciso for virar-me do avesso, eu viro. Se é a fugir que deixo longe a tristeza e um coração inerte, continuarei a fugir, para além do horizonte.

O esoterismo exerce um fascínio sobre mim há muitos anos, talvez desde sempre.

Muitas pessoas estranham que alguém que, para além de ter uma sólida formação científica, tem traços tão vincados de racionalidade (por vezes exagerada), se interesse por temas que abrangem desde o Tarot, astrologia, premonições, fantasmas, ou tudo o que seja "o oculto". E nada de contraditório há nisto. Bem pelo contrário.


Mesmo antes de ser cientista, percebi que a ciência serve melhor os seus propósitos quando coloca as questões certas e explora possibilidades, do que quando fornece respostas definitivas. É claro que hoje em dia a Ciência explica uma grande parte do nosso mundo, mas é sempre mais fascinante o que ainda não se sabe explicar, e importa perceber que a Ciência não explica tudo. É aqui que grande parte dos cépticos cai em falácia, permitindo-se apenas a pensar dentro dos limites do que está provado e estabelecido, achando que tudo o mais serão esquemas e truques, ilusões e teorias alucinadas (muitos casos são tudo isto, sem dúvida). Quanto a mim, acho que estas posições são precisamente vitórias da ignorância...


Ninguém com um verdadeiro espítito de cientista pode acreditar que só o que está explicado, provado e verificado é real - ou seria o fim da investigação. É duma arrogância quase imbecil pensar que se algo não está comprovado cientificamente é uma "superstição" ou "ilusão". É, aliás, quase tão imbecil como contrariar todos os factos de que dispomos, se os mesmos se opõem a teses religiosas ou a mentiras que foram culturalmente assimiladas; por exemplo, a negação da Evolução e da Selecção Natural por parte de alguns católicos mais tradicionais, que acreditam mesmo que foi uma entidade abstracta que criou o mundo em sete dias, a Eva duma costela do Adão e por aí fora. Acreditam nisto e nem sequer têm abertura para que na escola sejam abordadas teorias diferentes. Ignorância, mais uma vez. Pior, propagação da ignorância.


Atenção, com isto não estou a colocar em causa a Fé que cada pessoa possa ou não ter, que considero algo de muito íntimo e individual, expresso através duma religião ou apenas espiritualidade, ou filosofia de vida, o que se lhe queira chamar. A Fé uma expressão profunda de certezas e dúvidas, creio. Eu fui agnóstica até ao início da adolescência, na melhor das hipóteses, e desde então ateia convicta - lá está, a absoluta falta de Fé. Conheço, no entanto, dúzias de pessoas da Ciência que acreditam num Deus, que interpretam os 'textos sagrados' de vários modos, e não é a sua Fé que interfere nem no seu desempenho nem na visão racional do mundo.


Na Ciência, na Religião, na Filosofia e em todas as decisões com que o ser humano se confronta, nada há mais legítimo do que a dúvida, a hipótese (ponto de partida, aliás, do método científico). Portanto, também não posso afirmar categoricamente "Deus não existe" - é o que eu acho, é nisso que eu acredito, mas posso estar errada, claro. Quando ouço pessoas a desdenhar de teorias não comprovadas, sejam a possibilidade de viagens temporais ou astrologia, seja a evolução da pilha de hidrogénio ou o Tarot, fico algo indignada, ao mesmo tempo que atesto a minha própria hipocrisia quando desdenho de algumas crenças religiosas, mitos ou "milagres" - reparem nas aspas hipócritas.


Assim, aqui a menina tem tanto de céptica como de mente aberta. E digo-vos mais, faz-me todo o sentido que o Universo se reja por energias que ainda não conhecemos completamente, para além das que já conhecemos. Acho perfeitamente plausível que estas energias possam deixar 'impressões' dos mortos ou de acontecimentos, ou que a posição dos astros tenha alguma influência na energia pessoal e nos ritmos de cada um, ou que emitam 'sinais' que algumas pessoas captam mais facilmente que outras. Faz-me sentido porque comprovo o que dizem as teorias sobre os meus trânsitos planetários, porque eu própria e pessoas muito próximas têm o chamado sexto-sentido (ou instinto) apuradíssimo, porque alguns animais conseguem detectar sismos antes dos mesmos acontecerem e ainda não se sabe bem porquê, porque há "milagres" atestados clinicamente.





(E sim, também acredito que exista vida extra-terrestre. Mas aqui é mais uma questão matemática, probabilística, puramente racional. Além do que já vi ovnis, mas isso não interessa nada.{#emotions_dlg.blink})

É bom ter cúmplices, longe da banalidade das palavras e dos rituais cansados, ter quem nos conheça um pouco sem os estereótipos cara-nome-morada, ser quem se é só porque se pode, sem expectativas a corresponder, sem cobranças nem juízos.
É muito bom saber que há quem nos compreenda, sem julgar, sem precisar questionar.
Devia ser sempre assim.

 

A realidade devia continuar os sonhos, não castrá-los. É uma pena... 

Mas enquanto sonhar for possível, aproveitemos para ir sorrindo os sorrisos que a vida vai roubando.

O médico ordenou "não se pode aborrecer nem irritar, olhe que ainda é muito nova e tem uma vida inteira para lidar com coisas difíceis, umas boas e outras más".


Portanto, para além de temporariamente ter o dia-a-dia revestido com isolamentos vários, e para além de passar as pessoas por uma peneira fina, também não posso ler nem ver notícias.


Vou meditar, é isso.

Todos precisamos dum momento Calimero every now and then. Tentar ser e tentar parecer sempre invencível, inabalável, forte, solid as a rock, o pilar de tudo e todos, a postura sempre recta e sem fraquezas é uma merda.


As pessoas começam a esperar que nos aguentemos a tudo, que sejamos sempre os bombeiros de serviço nos cataclismos, ainda que sejamos os primeiros a levar com o tecto em cima. Se passamos a imagem de super-homens e super-mulheres, não devemos levar a mal quando os outros se sentem defraudados se só nos apetece ser o banal fraquinho e incapaz.


Porra, não tenho condições de ser super-mulher agora, ok? Não aqui, que é a minha casa, em que ando descalça. Não tenho sempre um sorriso nos lábios, não sou sempre optimista e de momento a atitude positiva está a hibernar. Também sinto, também me vou abaixo, também choro, mesmo que não deixe ninguém ver. Sofro e reservo-me o direito de sofrer aos berros, estou farta de morder a língua e puxar-me pelo cachaço até dar a volta por cima. Estou-me nas tintas para o facto de ser mais ou menos interessante aos olhos de alguém, não preciso nem quero agradar a ninguém, não ando à procura de nada, não quero conhecer pessoas porque não gosto de pessoas, as pessoas fazem-me mal e o que eu quero é esquecer metade das pessoas que já conheci.


 


Estou de mal com a vida sim, tenho motivos de sobra e estou no meu direito.


 


Ainda não tinha dito: isto é capaz de vir a ser, em parte, um blog de viagens - a mais antiga das paixões, arrisco a dizer a maior, porque reúne as outras dentro de si.

 

 

 

A maior diferença foi acordar com o nascer do Sol, com o Corão a ser cantado alto e bom som pelos megafones da mesquita que ficava ao fundo da rua, a invadir os ouvidos, os sonhos e a espantar as pestanas. Estores corridos e portadas fechadas, numa vã tentativa de superar a questão e ganhar mais duas horas de sono... mas, afinal, não é o sono que me restaura energias quando se trata de viajar, o melhor alimento para a alma que conheço. O que me cansa é a rotina, a agenda com horas marcadas, os deadlines, as reuniões, a ausência do inesperado e aquela adrenalina que só sinto aprendendo coisas novas, conhecendo lugares novos, conversando com pessoas dum mundo diferente.

 

 

 

Começo pela antiga Constantinopla, não por ser a mais vívida na memória, não por ser a mais marcante, ou a mais recente. Talvez porque, ao mesmo tempo que marcou uma etapa de independência, foi um sítio em que senti emoções deveras estranhas para uma hiper-racional como eu. Senti que aquele sítio era meu, que despertava memórias submersas na minha memória. Juro por tudo, nunca lá tinha ido antes (pelo menos nesta vida), muito embora tenha saído de lá com a mesma certeza que mantenho hoje: voltarei.

 

 

 

Agarrada ao cepticismo, procurei explicações enquanto fotografava barcos de pesca no Bósforo que me faz lembrar o Tejo, com o chinfrim das gaivotas por banda sonora. São as pontes, o aqueduto, as calçadas que fazem lembrar Lisboa, é isso. Aqui deste ângulo, esta mesquita bem que podia ser a Torre de Belém, a vista e os cheiros são idênticos. Além os eléctricos, a luz branca reflectida nos edifícios, mesmo que seja Novembro e ameace chover. Dotada com um péssimo sentido de orientação (perco-me no Centro Comercial Colombo, senhores, ainda!), dei por mim a passar a Universidade e a apontar com a máxima segurança as direcções para aqui e acolá, sem mapa, sem nada. O Grand Bazaar (que não é grande, é imenso: cerca de 5.000 lojas e entre 250.000 e 400.000 visitantes diariamente!), labiríntico e cheio de indicações para os turistas seguirem setas ou um eventual guia, cheirava-me a terreno conhecido, amistoso, tudo numa mescla de descoberta com déjà vu. Curiosamente, mais tarde viria a reencontrar estas sensações noutro ponto do globo, mas confirmando uma inexplicável afinidade com a cultura otomana (fica para outro texto). Os padrões hipnóticos, os incensos purificantes, as pessoas duma espontaneidade deliciosa, esta é uma das paragens obrigatórias para quem visita Istambul.

 

 

 

Tive a sorte de ver parte da cidade na companhia duma rapariga local, amiga de outra amiga com quem viajava, que nos levou a restaurantes típicos, que regateou preços (turista paga mais, claro) e que nos levou a uma magnífica celebração do fim do Ramadão, com música, artesanato, uma bebida quente de leite doce e espesso com canela, cujo nome não fixei, entre outras delícias para os sentidos.

 

 

 

Gosto de Muçulmanos, sempre gostei, são respeitadores e educados, crenças à parte. As ruas de Istambul (de um ou do outro lado do rio, num ou no outro continente) são europeias, ou "ocidentalizadas", vá. A maior parte das pessoas, sobretudo jovens, dispensam as vestes tradicionais, véus e djelabas, e também não é muito frequente ver-se os tapetes de oração a serem desenrolados às horas assinaladas, interrompendo as rotinas. Há mais mesquitas do que igrejas católicas, e os ex-libris da cidade, a Hagia Sofia e a Mesquita Azul, por si só, valeriam a viagem, faltassem outros bons motivos. Mas não faltam, muito pelo contrário. Naturalmente, em locais de culto, é requerida modéstia e vestuário adequado, pelo que é boa ideia levar uma écharpe para o caso de ser aconselhável cobrir os cabelos e deixar os tops e mini-saias para outras andanças.

 

 

 

A cidade é tão segura como qualquer outra, há que manter um comportamento atento e responsável, proteger devidamente dinheiro e bens valiosos, nada de novo, portanto.

 


Um dos aspectos que mais impressiona em toda a Turquia é o nacionalismo exacerbado. Não há rua sem alusão ao "herói" Ataturk, há fotografias suas nas casas, paredes, lojas, restaurantes, tudo quanto é sítio.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O talismã preferido é o "olho azul", em variadíssimas formas e tamanhos, em pulseiras, espanta espíritos, amuletos de retrovisor, porta-chaves, brincos, you name it. Supostamente, afasta más energias e protege de mau olhado, etc. e tal.

 

 

 

 

O café turco é... singular... (deve haver quem goste, mas cuidado para deixar assentar as borras - que depois podem ser usadas para "ler o futuro".) Eu fiquei fã do chá de maçã (sabe a maçãs verdes, ácidas, nham!), mistela instantânea e açucarada que os turcos bebem aos litros, bem quente. Outras iguarias passam pelos deliciosos iogurtes (umas colheradas servidas com frango assado e arroz simples fazem a diferença, para melhor), os kebabs, espetadas e afins, e os baklavas (demasiado doces para o meu palato). Como sabem, os muçulmanos tradicionalmente não bebem álcool, mas há bons vinhos turcos, e o aperitivo raki, intenso e de sabor anisado (idêntico ao ouzo grego), é normalmente misturado com água, passando de transparente a um aspecto leitoso. Não apreciei o único que experimentei, mas creio que o defeito era ter água a mais (fica enjoativo), prefiro as bebidas mais pungentes. ;)

 

 

 

Em tempo de aperto económico para a maioria dos portugueses, fica a sugestão para usar bem um subsídio de férias razoável (para quem o tem...). As viagens são relativamente baratas, o custo de vida bastante acessível, é um destino cultural e humanamente muito enriquecedor, e que eu recomendo vivamente.

 

 

 

Deixo um exemplo actualizado à data de hoje*: na logitravel, vôos directos + hotel 7 noites + pequeno-almoço em hotel 3 estrelas, em quarto duplo, 388€ por pessoa, com partida a 10 ou 26 de Setembro (no Inverno é ainda mais barato, claro).

 

 

 

 

 

*Não, ninguém me paga para publicitar nada, com alguma pena minha.

Para que saibas, estou óptima. Mil vezes melhor do que quando estávamos juntos. Olha para mim, reconheces-me?! Olha para a minha pele fantástica, tão bem que me fica esta maquilhagem. Repara no brilho do meu cabelo, e no meu sorriso que nunca foi tão branco e direitinho. Nunca me viste sem aparelho. Os medicamentos estão a resultar e já quase não tenho dores. As drogas que me incharam também já acabaram, dentro de meses vou voltar ao peso com que me conheceste, vais ver. Vais ver-me passar à tua porta de sorriso em riste e vais ficar de queixo caído a pensar "Quem é aquele avião?", vais deixar o cigarro queimar-te os dedos de estupefacção.

 

Estou óptima. Passei o sábado inteirinho sem derramar uma lágrima, nem uma. Na minha casa está tudo nos seus lugares, como se nunca tivesses passado pela minha vida. A mala de viagem que me emprestaste para a mudança está na arrecadação, à espera que a venhas buscar. O perfume que me ofereceste está escondido e nunca mais o usei.

 

Estou fantástica. Aposto que de cada vez que bebes para esquecer acabas a chorar e a pensar em mim, nos erros todos que cometeste. Aposto que vais sempre, a vida toda, lembrar-te do que me disseste no último dia: que estás bem ciente de que nunca ninguém te vai amar como eu te amei, e que vais sempre, a vida toda, lembrar-te que nunca vais amar ninguém como me amaste a mim. Espero que te arrependas amargamente cada dia da tua vida do mal que me fizeste, como eu nunca me vou arrepender de nunca ter desistido de ti, de ter dado tudo e feito tudo pela promessa que tínhamos.

 

Mas não te preocupes, eu estou óptima. Não precisas de andar a verificar o obituário, não vou atirar-me de lado nenhum por não te ter. Não sou do género de fugir às dores, se me conhecesses saberias isso. Como é que pudeste acreditar que eu tinha mesmo encontrado outra pessoa passado um mês?! Um mês... Isso é o que tu fazes, é a tua forma de lidar com a minha ausência, procurar outro colo, que sabes que não vai resultar em mais nada, que sabes que nunca se vai comparar ao nosso amor. Não sou eu. Se me conhecesses, saberias. Se me conhecesses, ou não te terias apaixonado por mim ou nunca terias desistido sem antes tentar de tudo.

 

Sonhei outra vez contigo, naquela forma de assombração que consigo sentir e cheirar. Abraçaste-me e beijaste-me o pescoço enquanto pedias desculpa, mas eu sabia que era um sonho e só disse "vai-te embora". Apertavas-me com mais força e começaste a chorar, mas desta vez não foi suficiente. Nem sonhos, nem mentiras, por muito que queira acreditar, já não servem. Tornei-me cínica, desprezo o amor, desisti de tudo e a culpa é inteiramente tua. Mas eu estou óptima. Mil vezes melhor do que quando estávamos juntos. No sábado não chorei uma única vez, já te disse?

Sou tua cliente há muitos anos, como sou cliente do Lidl, e em menor escala do Continente e do Mini-Preço. Vou ao que me der mais jeito, tenho as minhas preferências e como pessoa que tem de trabalhar para comer, os meus critérios passam, em grande parte, pela relação qualidade-preço, e sou grande consumidora de marcas brancas. Por exemplo, os lacticínios (queijos, iogurtes, manteiga, etc.) e cervejas do Lidl metem os vossos a um cantinho. Já os vossos detergentes metem os do Lidl a um cantinho, mas a selecção de vinhos é mais interessante. Nos cuidados pessoais (champôs, sabonetes, gel duche, etc.) prefiro o Continente, por aí fora.


Como o que mais gosto de fazer é viajar, aproveito todas as oportunidades para ganhar vantagens nas viagens, e por isso mesmo utilizo ao máximo o meu cartão de crédito, que me permite acumular milhas com as compras que faço. Como já disse, trabalho para comer e, como sou muito orientada e os €uros custam-me muito a ganhar, não concebo a hipótese de pagar o que quer que seja (excepto a minha casa) a prestações e pagar juros, pelo que tenho no cartão de crédito a opção de pagamento da totalidade dos valores, sem juros, uma vez por mês. Orgulho-me de não dever absolutamente nada a ninguém (excepto, como já disse, uma parte da minha casa ao banco que me concedeu o empréstimo à habitação).


Ora, muitas vezes, em tendo de fazer as compras normais do mês ou quinzena, opto por deslocar-me a apenas um estabelecimento. Desde que tenho o cartão das milhas, opto maioritariamente pelas lojas Pingo Doce em detrimento do Lidl, já que ali não posso utilizar o cartão. Os preços são bastante semelhantes na maior parte dos produtos, pelo que o factor decisivo passa mesmo pelas minhas queridas milhas. As vossas promoções não me convencem - nem os cabazes reúnem produtos que me cativem, muito menos a mega sacanice promoção dos 50%, mas esta apenas porque, por questão de princípios meus, só faria compras num 1º de Maio se se tratasse de uma questão de vida ou morte. (E já agora, aproveito para dizer que fiz muito bem, porque pouco depois fiz compras no Continente com 75% de desconto em cartão e não tive de perder meio dia de vida entre lutas selváticas pela última lata de atum.)


 


Ir ao Pingo Doce calha-me em caminho entre casa-trabalho-casa (graças a uma das lojas que têm em terminais de transportes públicos), pelo que muitas vezes passo lá só para levar pão quente para o jantar, um ou outro ingrediente que me falte para uma receita, ou seja, compras cujo total é normalmente abaixo dos 20€. E pago com o meu cartão de crédito, sempre que faça sentido (só acumulo milhas com valores superiores a 5€).


 


Assim sendo, querido Pingo Doce, com a tua nova medida, daqui por 10 dias, sempre que tiver de optar pelo supermercado mais conveniente para mim, cheira-me que o Lidl e o Continente vão passar a vencer mais 'assaltos' e que não me vais pôr a vista em cima tão cedo.


 


Foi bom enquanto durou, mas tudo o que é bom chega ao fim.

Desejo-te perto e vens buscar-me, levas-me de urgência escadas abaixo para contemplar o rio à beira-chuva. Descalços, ambos, por relvas e troncos e pardais. Sensualidade molhada de seios e umbigo, arrepios, do frio e da proximidade da tua pele. Não sorris, sequer vocalizas o que quer que seja. Os teus dois olhos escurecidos, carregados de verdade. Pegas-me nos pulsos e olhas-me de frente como se me fosses anunciar um fim de mundo. Sério, grave. Os lábios entreabrem-se como que a desenhar palavras no ar, como que a tomar coragem. Toda eu um ponto de interrogação, exclamação, reticências… O cabelo molhado, sem ordem, a enganar. Um fingido cansaço desarma e a respiração acelera. Pingos grossos acariciam a cara, lambem os ombros, deslizam matreiros pelas costas. A névoa que sempre separa os meus olhos dos teus dissipa-se num bafo. Procuro ler-te, ansiosa por pular para dentro dum sonho. Murmuras: “E se disser que gosto de ti?” Conheço bem esta espiral, que sempre impões diante de mim, sem portas nem refúgios, apenas o infinito, aberto, à espera de ser colhido. “Quando o pensamento de mim te siga a todas as horas, quando souberes que a vontade é maior do que só a de ter o casulo do ego acarinhado; Quando reconheceres muito mais que uma doce empatia. Quando sob pálpebras cerradas o coração chamar o meu nome. Só nesse dia voltarás a ter-me tua.”


 


Solto uma mão e com um polegar afago a tua face desmascarada. Apertas-me contra o peito, não te importas de confessar uma lágrima, espessa, outra. Carinho, dor, amor, identidade. Estes que somos.


 


Por te amar, mudei. E decidi tornar a amar só quando esse dia chegar. Naquele abraço permanecemos, sem tempo, enquanto a chuva molhar.

Fustigados por desamores e espinhos q.b., ele era receios sem fim, ela destemida de asas abertas. Renderam-se ambos, deram-se as mãos, decisões, trocaram corações. Ela vontade de ir, ele ansiedade de chegar. Ele águas e ondas, ela ventos e montes. Gostaram-se. Do outro e mais de cada um nos reflexos do outro. Descobertas, reticências, ternuras e cedências. Laços dum, amarras doutro.


 


Um de estar, outro de vagabundear. Um de nuvens, outro de mar. Um de efémero, outro de brutal. Um de neve, outro de areal. Um de fiel, outro de planar. Um de leis, outro das quebrar.


 


Ela insistia que o sonho cheirava a flores e ervas, ele sem forças para correr nos bosques. Ele de braços abertos, ela de punhos cerrados. Ela de olhos postos, ele de pés fincados.


 


Ela do norte, ele do sul. Se ela chorava, ele a abraçava. Se ela beijava, ele a desejava. Se ele esmorecia, ela o elevava.


 


Um a puxar, o outro a deixar estar. Ele a dormir, ela a sonhar. Ele a sorrir, ela a cantar. Equilibravam-se num ponto médio, longe do centro gravítico do ser. Ele mentia, ela sabia. Ela fugia, ele permitia.


 


Ele desertou. Ela libertou.


 


Não se pode voar quando as asas estão acorrentadas. É dia de celebrar a liberdade.

Bom, bom, é poder ser quem se é sem entraves, sem limites, etiquetas ou hesitações. É rir dez horas seguidas, é aprender com os de sessentas e com os de oitentas, é a delícia dos disparates dos pequenos, amparar os planos dos teens, as estórias dos outros e sonhar amanhãs.


É bom dizerem-me que pareço ter uns 25 (é óptimo!), ouvir rasgados elogios aos pastéis de nata que nunca tinha feito ("dos melhores cremes que já provei na vida" - o ego rejubila), é mesmo bom fazer gazeta à medicação e mimar o palato com o lambrusco, o Muralhas rosé e o tinto do Douro reserva 2010 que me deslumbrou tanto que esqueci o nome. É bom estar com amigos que escolhem a nossa companhia na "lua-de-mel" e um mimo estar na companhia dum Paula Rego, um Maluda, três Cargaleiros e outros que tais.


 


Venham mais dias bons, que os neutros não ficam na memória.


 



Mesa de Luz, Paula Rego

Dramáticos e roxos, os pés não mexem. Enterrei-os fundo, sob vários centímetros de neve, que me tolhem a sensibilidade das barrigas das pernas. Os joelhos, engelhados, parecem os dum elefante morto, deixado ao abandono das suas perpétuas memórias. Os braços abertos, palmas das mãos viradas para fora como se dum crucificado se tratasse, presas por correias de angústia à pobreza nua duma cruz sem traves nem pregos nem madeira nem cor. Os cabelos, uma bandeira, sem pátria nem conquistas, apenas a dançar revoltos com a geada. Cobre-me desde os seios até meio das coxas uma velha e rota casca de sobreiro, cortiça mortiça, enrugada, carcaça duma vida outrora suculenta e audaz. Oca, lambida por húmidas putrefacções, oculta reflexos de si própria no vazio instalado. No rosto apenas traços muito grossos: dois cerrados no local onde deviam brilhar os olhos, mortos e abandonados faróis enferrujados de mares imensos, salgados e que escorrem para dentro; outro, mero agrafe do sorriso, para sempre toldado, impedido mesmo de dar espaço a cantos chorados, uivos de solidão.
Assim sou eu, hoje, sem vontade de avançar ou de recuar, sustendo-me do ar e da força que me mantém, firme, de pé, contra tudo e todos. Que posso achar-me vazia, oca, num absurdo desespero, sem apoio de nenhum dos pontos cardeais; posso ter perdido a razão, a emoção, o abraço que me embalou ou o beijo que me amou, mas não deixarei de Ser, sombra talvez do que fui, mas cá estou, de pé, como os bravos. A rendição é inequacionável. Hoje, sobreviver, com os sangues que ainda correm, para nunca deixar de Ser e amanhã, talvez, Voar.
 

zita.jpg

Acredito que as pessoas, na sua essência, não mudam. Querendo, podem limar-se arestas aqui ou ali, acontece a maturidade e as escolhas que se fazem, mas nos alicerces que nos fazem ser quem somos não há volta a dar-lhe. Estes alicerces manifestam-se cedo, fruto do que vamos conseguindo colher do que nos rodeia, aprendizagens, exemplos, fruto das heranças que carregamos, do contexto em que somos despejados. Ser quem somos, como um fardo indissociável da identidade. Nem sempre fácil, mas dos poucos incontornáveis da vivência, mais que da vida, de cada um, por muito que se tente fugir da própria sombra.

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