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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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Estou devastada. Não estava preparada para esta terrível perda e, muito honestamente, não sei se estou preparada para viver num mundo sem Saramago, sem Cunhal, com tudo o que tem acontecido neste miserável século XXI, e agora também sem Cohen. Não sou de sentimentalismos, sobretudo sobre artistas, por muito icónicos que sejam, mas hoje chorei e ainda não percebi bem porquê. Não sendo surpresa que Leonard Cohen ocupa desde e para sempre um lugar de eleição de entre as minhas referências incontornáveis na música e na literatura, estou chocada com esta dor, esta saudade antecipada que me carrega a expressão. Está a fazer-me falta talvez a fé, porque seria seguramente apaziguador acreditar em outra coisa que não na finitude. Não sei se será até sempre, mas enquanto estiver por cá, Cohen será um dos "meus" imortais.

Porque numa família todos têm o seu papel, e é importante realmente partilhar as tarefas em vez de apenas esperar "uma ajudinha".

Aplicável a filhos menores e também a maridos-que-nos-vieram-parar-às-mãos-muito-mal-habituados.

(E a este propósito tenho de orgulhar-me muito do meu, que com menos de 4 anos - de casamento - já está bastante à-vontade em tarefas apontadas para meninos a partir dos 9/10 anos, apesar de ainda estarmos a trabalhar naquela cena de guardar os brinquedos. Mas chegaremos lá.)

 

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Dias de baixa em casa, à conta de um polegar mutilado, significam também dias de enfardar séries da Netflix. Acabados os episódios disponíveis das coisas melhores que nos entretêm as noites de semana (zombies, suits, black mirror, etc.), inicia-se uma série com 3 estrelas de classificação que tem vindo a ser sugerida pela Netlix, com base nas outras séries vistas.


Between pode ser resumida como o resultado de uma série para adolescentes aplicada ao cenário distópico de isolamento e ausência de esperança - uma fórmula já provada, por exemplo, nos filmes da saga Hunger Games, ou 100, ou mesmo uma pitada de Under the Dome. O enredo não é particularmente original e para mim, começa a pecar pelas fraquíssimas fundamentações para a súbita epidemia que mata todas as pessoas com mais de 21 anos que habitam na pequena cidade de Pretty Lake. As incoerências e explicações "a despachar" fazem muita comichão no meu cérebro dominado pela ciência e são meio caminho andado para torcer o nariz ao que passa no monitor. Mas há séries que, apesar dessa enorme falha, conseguem dar-lhe a volta e tornam-se interessantes e viciantes. Por exemplo, em Walking Dead e em Fear the Walking Dead, os zombies são acessórios à história - que realmente envolve o espectador. Em Between, isso não acontece. Apesar de haver uma boa dose de conspiração, outra de violência, mais as crises pessoais e entre personagens, o somatório deixa a desejar. Quase todos os personagens que passam do início são os jovens (até 21 anos), que terão perdido pais, família, professores, etc. Contudo, as mazelas dessas perdas quase passam em branco e chega-se mesmo a um ponto em que as mortes já são tão esperadas e mal processadas que quase passam despercebidas e só são introduzidas no argumento como fonte de vinganças. O desempenho do elenco é positivo, embora os destaques não sejam merecidos pelos protagonistas. Falando em protagonistas, alguém explica como é que durante uma crise de um vírus malvado, fome, frio, assassinatos, um tumor e com uma criança recém-nascida nos braços, a Wiley ainda tem tempo/presença de espírito/recursos para se tornar loira? Pois. A evolução da história também é algo lenta, tanto que foram algumas as vezes em que adormeci durante pedaços grandes de episódios e não tive a menor necessidade de voltar atrás para apanhar o fio à meada. Em suma, a não ser que, como eu, já estejam na fase "eagoraoqueéquevouvernaTV?", passem à frente.


Doente crónica como sou, posso dizer que já passei por uma verdadeira panóplia de profissionais de saúde, sobretudo médicos. Sou a maior fã do SNS e dos seus trabalhadores, que admiro infinitamente. Já passei por alguns médicos realmente excepcionais (tanto no SNS como no privado), outros bons mas menos marcantes, uns sem uma manifesta vocação para lidar com pacientes (o que não significa que não sejam excelentes nas questões técnicas), uns um bocado parvos (uma oftalmologista betinha do HGO que me ficará para sempre na memória por não lhe apetecer responder às minhas perguntas, e um endocrinologista que não estava interessado em ouvir os sintomas, por exemplo). Mas foi preciso cortar um bife a um dedo e ter de recorrer ao atendimento de urgências de um Centro de Saúde da minha zona (que não o meu Centro de Saúde habitual) para encontrar um médico que:



    1. Trocou, no relatório que fez para o HGO, a direita com a esquerda (enganou-se no membro ferido, mas acontece a todos, isso dou de barato);

 

    1. enquanto a enfermeira me limpava o dedo, que sangrava profusamente, com soro fisiológico, observava de perto e perguntou "isso é água oxigenada?". Isto acho muito grave. Não sei se o doutor estava com os copos ou era mesmo ignorante (toda a gente sabe a reacção que a água oxigenada faz com o sangue, certo? Seria de esperar que o médico de serviço também soubesse...). Sei que eu e a enfermeira deixámos cair o queixo e respondemos em uníssono "soro..." (e para dentro, mas a transparecer pela expressão facial um enorme "duhhh"). Um grande #thumbsdown para este médico.

Pessoa tem a mania que tem dotes de Masterchef.

 

Pessoa aproveita fins-de-semana e feriados para cozinhar.

 

Pessoa acorda cheia de vontade no 1º de Novembro, toma duche, segue a cantarolar para a cozinha.

 

Pessoa está feliz com a adopção de um estilo de vida paleo e decide inventar uma receita com ovos e courgettes para o pequeno-almoço.

 

Pessoa agarra numa courgete linda e na sua mandolina verde e começa a cortar rodelinhas de courgette.

 

Pessoa está tão embalada que corta também uma rodela de dedo.

 

Pessoa tem sangue frio e reacções rápidas e corre para a torneira, deixando correr água fria sobre o dedo decepado.

 

Pessoa pede ajuda ao marido informático enquanto faz garrote com a outra mão, porque há demasiado sangue a jorrar.

 

Marido informático acode com... um penso rápido. Dos pequeninos.

 

 

(Pessoa teve de ir para o centro de saúde e daí para o hospital para tratar a sua mutilação. Pessoa aproveita todas as hipóteses para contar a história do penso rápido. Todas as pessoas que ouvem a história sugerem alguma forma de mutilação do esposo informático, mas pessoa sabe que o esposo não ter desmaiado com a visão do dedo e do sangue já foi muito positivo. )