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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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é não conseguir evitar perder o respeito por quem me mente. A mentira ofende-me, quaisquer que sejam os motivos que a conduziram. Pior ainda é quem não me conhece bem o suficiente achar que pode manter a mentira depois de eu a descobrir. E eu descubro sempre porque sou um raio de um polígrafo humano...

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Porque hoje é dia 29. Se pudesse voltar atrás, já sabes o que faria. O primeiro momento teria sido diferente e talvez a partir daí tudo tivesse sido diferente também. Mesmo com todas as complicações e frustrações, mesmo virada do avesso e sem bússola, e mesmo sabendo que nada é exactamente o que parece, mas antes tudo o que o instinto me diz. Em voltando àquele outro dia 29, faria hoje tudo diferente, sem resistência nem hesitações. Atirava-me de cabeça para os teus lábios e deixava-me ficar aninhada nos teus braços até serem horas da vida real. Não largava. Não me afastava. Tu ficavas à mesma com o meu perfume nas mãos, mas as nossas mãos já não ficariam vazias. Nunca mais vazias.

O Jorge não sabe, mas é um dos meus melhores amigos. Falo com ele muitas vezes, e ele comigo. Nunca me nega amparo e um ombro amigo quando preciso de companhia para olhar o mundo pelo prisma azulado que só os olhos dos poetas (os tais das ondas de ternura) permitem. Quando o coração quer tomar decisões sozinho e seguir caminhos tortuosos, por mais que a razão lhe diga para ficar sossegado, vou sentar-me no Bairro do Amor à procura de cura para as nódoas negras sentimentais, algures no fundo de um copo. Todos os dias desejo ir morar para a Terra dos Sonhos e às vezes penso mesmo em fazer explodir numa gargalhada as fachadas dos edifícios públicos para chegar mais perto do meu ideal.

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Já vi o Jorge no seu melhor e no seu pior em cima dos palcos. Visito-o amiúde, seja ao vivo ou numa gravação, e em tantas ocasiões apenas dentro da minha cabeça, que toca uma playlist que não consigo controlar. Dificilmente passa uma semana sem uma destas conversas intimistas em que falamos de Amor e Revolução, de Poesia e de tudo. Já visitei o Jorge em tantos, tantos sítios, em tantos, tantos, palcos, desde o ambiente mais sério do CCB (que logo descamba quando eu grito “Jooooorgeeee” ou um outro palmaníaco grita outro qualquer despautério) à poeira degradante do Festival do Sudoeste há mais de dez anos, desde as Festas Populares da minha terra (e outras) àquelas noites de mandar o Coliseu abaixo, noites de ventania ao ar livre ou nas muitas vezes em que a Festa atingiu a perfeição, com o Jorge a descrevê-la com música.

Já levei muitos amigos a ver o Jorge, já levei vários amores a ver o Jorge, já troquei alguns amigos e alguns amores e o Jorge continua presente, companheiro e confidente. Com banda, com o Sérgio, só com a guitarra ou só com o piano, o que nunca muda é a verdade daqueles acordes a dançar em perfeita sincronia naquelas palavras certeiras.

O Jorge tem idade para ser meu pai mas como é um companheiro desde há décadas, podíamos ser amigos de infância. Gosto das histórias que o Jorge canta e conta. Gosto da irreverência e da postura tão desprovida de vedetismos, que seja um gajo porreiro e “sem merdas”, com o coração e os ideais no sítio certo. Gosto que seja um músico excelente e perfeccionista, mas que não tem grandes pudores em recomeçar uma canção se se enganar na letra ou num acorde. Mas gosto, essencialmente, da forma como o Jorge canta, com a alma toda em cada sílaba, como se cantasse do âmago do meu ser, a dizer coisas que eu devia dizer mais vezes, da maneira mais certa e mais bonita.

O Jorge não sabe, mas já me lambeu algumas lágrimas. Já me ensinou a não esquecer que o meu amor existe, que o impossível seduz e que não há passos divergentes para quem se quer encontrar. O Jorge é protagonista na banda sonora da minha vida e continua a fazer-me descobrir verdades que já canto há anos sem saber que, afinal, o Jorge as escreveu só para mim.

Obrigada, Mestre!

 

[O Jorge vai comemorar mais anos de carreira do que eu tenho de vida, em Outubro, nos Coliseus, com a Orquestra Clássica do Centro e sob direcção artística do Rui Massena. E eu lá estarei, segura de que enquanto houver estrada p'ra andar, a gente vai continuar.]

Não os suporto, não suporto ler nada deles, não gosto de os ouvir a falar e acho que são realmente maus, mesmo muito mauzinhos. Não consigo ter qualquer respeito intelectual por estes "escritores", que usam uma única fórmula batida para produzir livros que não acrescentam rigorosamente nada, a meu ver, nem à arte nem à Humanidade nem a coisa nenhuma. Desperdício de papel!

Bem sei que são best-sellers, mas eu não sou conhecida por gostar das mesmas coisas que a maioria. Pessoalmente, não tenho nada de mais contra nenhum deles, além de alguma irritação por serem os autores de "literatura" muito má.

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Paulo Coelho, o rei dos clichés e lugares comuns, todos os livros se podem resumir a um profundo e longo bocejo. 

 

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Margarida Rebelo Pinto, a.k.a. Guidinha, conhecida pela sua postura beta de super-tia snob, pela invenção do termo "auto-plágio" e por odiar gordas. Costumo dizer que o seu nível de escrita está ao nível de qualquer garota de 14 anos. 

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José Rodrigues dos Santos, conhecido por apresentar noticiários sem qualquer noção da isenção que lhe devia ser exigida, há quem diga que usa ghost writers para produzir romances à velocidade da luz e surfar a onda que é a vantagem da sua popularidade. 

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Nicholas Sparks, o mais lamechas de todos os escritores lamechas de historinhas lamechinhas, muito choronas e cheias de sentimentos profundos, que são adaptadas para o cinema (filmes lamechas, de lagriminha fácil e pateta). Tenho um ex-namorado que o tinha por escritor favorito e eu devia ter fugido mais depressa. Não fugi, mas por algum motivo é ex. 

 

 

 

I was happy in the haze of a drunken hour
But heaven knows I'm miserable now

I was looking for a job, and then I found a job
And heaven knows I'm miserable now

In my life
Why do I give valuable time
To people who don't care if I live or die?

Two lovers entwined pass me by
And heaven knows I'm miserable now

I was looking for a job, and then I found a job
And heaven knows I'm miserable now

In my life
Oh, why do I give valuable time
To people who don't care if I live or die?

What she asked of me at the end of the day
Caligula would have blushed

"Oh, you've been in the house too long" she said
And I naturally fled

In my life
Why do I smile
At people who I'd much rather kick in the eye?

I was happy in the haze of a drunken hour
But heaven knows I'm miserable now

"Oh, you've been in the house too long" she said
And I naturally fled

In my life
Oh, why do I give valuable time
To people who don't care if I live or die?

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A Porto Editora editou uns Blocos de Atividades destinados a crianças em idade pré-escolar (entre os 4 e os 6 anos). Esta edição tem dado que falar pelos piores motivos, já que existem duas edições, uma para meninos rapazes e outra para meninas (sim, até no título há uma diferenciação).

O quê, mas as escolas já não são mistas desde a terceira República? São, mas a Porto Editora não deve ter sido informada ou então é saudosismo do Estado Novo. Mas o pior é que o problema é bastante mais grave.

Ao que parece, o grau de dificuldade dos exercícios apresentados é distinto, sendo que a "edição masculina" aparenta ser mais desafiante, com um nível exigido de maturidade intelectual consideravelmente superior ao da "edição feminina". Só por si, a assumpção de que existem diferenças de género quanto à exigência expectável das capacidades intelectuais de crianças destas idades é simplesmente ridícula. Mas há muito mais.

Os exemplos apresentados no jornal Público são escandalosos, perpetuando os estigmas e estereótipos de uma sociedade vincadamente patriarcal, já que aos meninos rapazes pede-se ajuda para encontrar o caminho através do labirinto para o seu navio pirata, ou as ilustrações retratam dinossauros, carrinhos e futebol. Já às meninas é solicitada ajuda para encontrar a sua coroa de princesa e as ilustrações são de actividades domésticas, ballet, ... É, afinal, o que ser espera que cada género almeje. Os meninos devem ser patifes sujos como prova da sua masculinidade de testosterona feita, e das meninas espera-se que sejam bonitas, delicadas e dedicadas ao lar.  As meninas que querem ser piratas e futebolistas ou os meninos que gostam de brincar com bonecas ou miniaturas de ferros de engomar são vistos como aberrações, questionados, envergonhados e reconduzidos de volta para o que é a "norma", com o rabinho entre as pernas e inibidos da mais pequenina liberdade de poderem brincar ao que lhes apetecer.

A expectativa de cumprimento de papéis de género vincados é, desde logo, uma afronta à individualidade, à sexualidade e uma pressão ridícula pela normalização de género. O caso assume proporções mais gravosas ainda quando se trata da socialização de crianças em fase basilar de formação do intelecto e da personalidade, o que poderá condicionar futuramente as suas escolhas e concepções da sociedade e até as aptidões que são mais e menos desenvolvidas.

Não tenho a mais pequena dúvida que os estigmas e preconceitos que todos temos (podemos conscientemente fazer o nosso melhor para os suprimir mas, mais ou menos subtilmente, foi-nos incutida no subconsciente uma maneira de ver os outros) são adquiridos desde muito novos, desde bebés, com a norma cromática do azul para meninos e rosa para meninas, e desde crianças de fralda com a imposição de tarefas domésticas e o mito da virtude da pureza às meninas, ao passo que os meninos são incentivados a terem brincadeiras mais físicas, com veículos motorizados e elogiados pelas suas proezas desportivas.

A Comissão para a Igualdade e Cidadania de Género está a averiguar a discriminação denunciada, em virtude de múltiplas queixas. A Porto Editora rejeita as acusações e defende-se com o sucesso de vendas da publicação. Aguardemos.

Contudo, até lá há que notar o ponto positivo do assunto ter gerado celeuma e queixas efectivas. Provavelmente, se o episódio se tivesse passado há vinte anos teria passado despercebido. É bom verificar que já vai havendo um grande número de pessoas atentas e interventivas, e que o Estado está aparentemente vigilante e disponível - apesar das falhas imensas nas acções concretas de educação para a igualdade de género, na prevenção e mitigação da discriminação e aplicação de políticas realmente igualitárias e justas.

Pelo andar da carruagem, parece que não vai ser durante o meu tempo de vida que vou ver igualdade de géneros em Portugal.... Aliás, às vezes tenho de me beliscar para perceber que não estou a sonhar que vivo no mundo dos anos cinquenta.

If I laid down my love to come to your defense

Would you worry for me with a pain in your chest?
Could I rely on your faith to be strong
To pick me back up and to push me along?
Tell me

You'll be there in my hour of need
You won't turn me away
Help me out of the life I lead
Remember the promise you made
Remember the promise you made

If I gave you my soul for a piece of your mind
Would you carry me with you to the far edge of time?
Could you understand if you found me untrue
Would we become one, or divided in two
Please tell me

You'll be there in my hour of need
You won't turn me away
Help me out of the life I lead
Remember the promise you made
Remember the promise you made

Could I rely on your faith to be strong
To pick me back up and to push me along
Please tell me

You'll be there in my hour of need
You won't turn me away
Help me out of the life I lead
Remember the promise you made
Remember the promise you made

Remember the promise you made
Remember the promise you made

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Viajar é preciso. É absolutamente essencial para aprender a vida, para reconhecer a humanidade em todos os rostos, para perceber que somos todos feitos do mesmo, de matéria mortal e de sonhos, de medos, de risos e de dor. Viajar é a única forma de compreender a filosofia, a inutilidade da religião, a globalização, a ecologia, a finitude dos recursos e o propósito de existirmos, de unir todos os saberes com uma visão menos parcial e incompleta do que somos - que é nada além do acaso material da vida e da consciência.

Como entender um mundo tão grande e diverso e realmente reflectir sobre os “desafios globais” de que nos falam livros e debates, se permanecermos toldados pela visão pequenina e eurocêntrica do mundo? Viajar não é passar uma semana de reclusão num qualquer resort com tudo incluído, que isso é pior do que não espreitar para a rua desde o abrigo quente das quatro paredes. Viajar é conhecer o resto do mundo com outros olhos, é correr riscos e confrontar cada preconceito, questionar as necessidades que pensamos que temos e o conforto a que estamos habituados, é conhecer a realidade de forma mais isenta, é saber onde vivem os trabalhadores dos outros países, quanto pagam por um litro de leite e que transportes apanham para o trabalho, o que cantam quando comemoram alguma coisa, de que riem e o que fazem ao Domingo. Viajar é viver na pele dos outros, é fazer um esforço para virar a cultura e a sociologia ao contrário quando é preciso, e perceber que afinal todas as diferenças não são mais do que manifestações ímpares daquilo que é comum a todos. Viajar abre horizontes em múltiplos sentidos, mas talvez o mais importante seja calejar a tolerância. Tudo o que pode chocar com o que normalmente tomamos por adquirido encerra um potencial de aprendizagem espantoso que vale por si só, e ainda potencia a empatia para com os outros seres humanos. A empatia é a pedra basilar para fazer um mundo melhor, para revolucionar verdadeiramente o mundo feio e egocêntrico que tritura vidas e esvazia almas em troco do lucro máximo de quem já lucra tudo.

Viajar é preciso, mas não é preciso percorrer os quilómetros para sair de quem somos. Conheço muita gente com inúmeros carimbos no passaporte mas que nunca foi capaz de sair da sua pequenina bolha impregnada de preconceitos e amarras. Felizmente conheço também quem tenha saído pouco do seu país e seja cheio de mundo (respeito imensamente quem se expõe ao desconhecido propositadamente, com um devir consciente e não sem um esforço insistente). Era Bernardo Soares, heterónimo de Pessoa, que dizia, certeiro: “Para viajar basta existir. (...) Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.

Viajar é um acto humanitário, de rebeldia e revolucionário. É cortar amarras de preconceitos e aprender que todas as verdades podem ser discutidas. É também por isto que viajar é muito diferente de ser turista. Ao turista importa ir aos monumentos que o guia da excursão diz que são imperdíveis e tirar uma selfie em cada um para poder atestar que cumpriu os mínimos obrigatórios. Ao viajante importa misturar-se na multidão, fazer compras no mercado e comer nas tascas onde o povo come. Ao viajante importa regressar mais rico, mais duro e mais maduro, porque nunca é o viajante que partiu o que regressa. O viajante não traz respostas no bolso para distribuir pelos outros, recolhe perguntas e confronta-se com elas diariamente. O viajante não sossega, porque a inquietude corre-lhe nas veias e faz reacção alérgica ao conformismo. Quem viaja nunca dirá que está satisfeito, que já viu e viveu tudo o que tinha para ver e viver. Quem viaja tem uma sede insaciável de fazer parte do mundo todo, tem noção da sua pequenez, insignificante presença efémera, e vive atormentado com quaisquer amarras que lhe queiram impor.

Eu desta vez vou conseguir
Desta vez vou largar
Eu não estou farto, eu cansei-me
De que apenas parece
Eu não sei se eu sou forte
Só que tenho este grito
Não contem comigo
Para ser Sol na Terra

Eu vivi sempre em guerra
Ao lamber pés de puta
Não percebo as razões
Estou perdido na mata
De cabeça madura
Sempre dando na fruta
Desta vez eu desisto

De lutar contra a merda
Eu sou feito de perda
É mais do que um desabafo
É uma voz que desperta
Um consolo de abutre
No direito à vivência
Do pacote completo
Não lamento palavras
São o meu alimento


Nem o amor que reservo
A quem o vê fora dela
Trago a bomba no peito
Não a trago no saco
Tira-me o teu retrato
Sem remorsos do assalto
Quando não se tem alma
Não se corre esse risco

Tu não sonhas quem sou
Tu não vês nem metade
Só queria cantar
Já não sei bem porquê
E perguntas então
Porque não pões um fim
Nessa vida sofrida
A resposta tem graça
É que eu adoro esta vida
Ainda não acabei

Vamos embora chorar
Vamos embora sorrir
Vamos embora sair
Vamos embora ficar
Vamos embora cair
Vamos embora voltar
Vamos embora ou não
São tudo coisas do chão


Ainda não acabei
Ainda não acabei
Ainda não acabei
Ainda não acabei

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Odeio que sejas perfeito, talentoso e provocador. Odeio a torrente inconstante que és, num dia comportas escancaradas de emoção e no outro o deserto mais árido. Odeio que me tenhas apanhado de surpresa e que te tenhas entranhado em mim. Odeio que sejas birrento e mimado e que queiras tudo como tu idealizas, quando queres, sem dares espaço às necessidades dos outros. Odeio as saudades que tenho tuas e tu não tens minhas, odeio a falta que me fazes, odeio a poesia que pediste e depois apagaste. Odeio que tenhas tanto poder sobre mim, que as tuas palavras me rachem de cima a baixo ou me encham de luz. Odeio que me conheças tão bem sem me teres conhecido o suficiente. Odeio a tua retórica à prova de bala, o mel da tua voz, odeio o teu sotaque adorável e a maneira como franzes a testa. Odeio a tua barba desalinhada longe dos meus dedos, odeio as tuas dentadas. Odeio, mais que tudo, as tuas fugas, as tuas urgências e os teus silêncios. Odeio que estejas em todo o lado, em todas as canções, em cada memória do que quero repetir para poder viver tudo de novo mas contigo. Odeio o avesso em que me tornaste. Odeio a inevitabilidade do desastre que eu sou.

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