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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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Não gosto de desvendar aqui dados pessoais, ou falar de detalhes da minha vida privada (o anonimato é insubstituível como escudo libertador), mas vou abrir uma excepção para dizer algumas coisas sobre a selvajaria que se passa na PT com a tomada de assalto por parte da Altice.

Passei pela PT em várias fases da vida, em várias posições na empresa, conheci desde o call-center aos gabinetes da administração, trabalhei até à exaustão e à depressão, aprendi muitas coisas e conheci muita gente. Alguma gente muito boa, de quem continuo amiga até hoje, anos depois de ter mudado de emprego, e alguma gente que não vale um tostão furado. Em termos de direitos laborais, de progressão na carreira e da forma como as pessoas são, ou eram, tratadas, uma palavra basta: vergonha. Muita coisa, se não quase tudo, assentava no bom velho factor C, na politiquice, nas quintinhas e raivinhas de dentes. Não tenho saudades nenhumas desse tempo de esforços em vão e inglórios a bem do brio profissional, das noitadas até de madrugada que eram tomadas não só como dado adquirido como uma obrigação, a troco de... zero, nem um agradecimento. Uma chefia teve a distinta lata de me acusar uma vez de "usufruir de todos os meus direitos" (o que até estava bem longe da verdade), e de me acusar de ter tido uma baixa por doença (para uma cirurgia major) numa má altura - não interessa que fosse a única altura possível, ao que parece deveria ter adiado a minha saúde por mais um ano ou dois, para minimizar o impacto no calendário de férias da chefia. Dá para ter uma ideia, certo?

Como comunista, estou e estarei sempre do lado dos trabalhadores, todos os trabalhadores, sejam eles quem forem. O que a Altice pretende fazer é passar por cima de todos os direitos e liberdades, dizimar postos de trabalho, fragilizar ainda mais os vínculos laborais e aproveitar ao máximo a permissividade política que existe (permitimos existir) em relação à precariedade, merecendo-me a mais absoluta repulsa.

Contudo, não deixo de achar interessante a ironia de também quem ajudou (e, tantas vezes, levou mais longe) a mão exploradora e opressora do patronato quando estava em posições de chefia a despertar agora - só agora - para a defesa dos interesses dos trabalhadores. Claro que não os vejo nas manifestações nem a dar a cara na televisão, mas vejo os seus apelos e suspiros nas redes sociais, leio os seus desabafos e pedidos de protecção. Talvez agora tenham percebido que não são "chefias" nem "pessoas importantes em cargos importantes" (de um poderzinho medíocre que só se revela no espezinhamento alheio), mas apenas e só trabalhadores como os outros, que valem apenas os números que representam, a quem gostavam de chamar "colaboradores" ou, ainda mais ridículo, "as minhas pessoas".

Daqui lhes envio a minha genuína solidariedade, revestida de benefício da dúvida, porque mais vale tarde que nunca. Tomara que sim, que realmente tenham percebido onde está a linha nem-por-isso-ténue que separa a justiça da exploração, e que não voltem a esquecê-la. Que mantenham os vossos postos de trabalho e posições hierárquicas, para no futuro defenderem os direitos dos trabalhadores nas vossas equipas. Para que não permitam a adulteração de avaliações de desempenho, para não usarem gritos, ameaças de despedimento, chantagens e ofensas como método de "liderança", para não permitirem a perseguição de quem faz greve, para deixarem de incentivar as horas extra não remuneradas, para exigirem condições de trabalho dignas para todos. 

Dedico-lhes esta canção do Jorge, Vermelho Redundante.

letra... )