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Insólita é também a fuga às palavras, tantas vezes único destino de pensamentos e desabafos. Agora compreendem-nas bem, demasiado bem, e os seus significados ocultos são transparentes aos olhos de quem os sabe. Ando à volta e evito escrever as palavras que marcam mais, a ferro em brasa nas costas, porque sei que não poderão ser desditas e, se nunca forem verbalizadas, talvez um dia possamos fingir que nunca foram reais.
Para as compensar - às palavras caladas - soltam-se os restantes verbos, primeiro a conta-gotas e depois em inundação de todos os mares. Não me peçam silêncio. Quando nos atiramos de um avião ou de um desfiladeiro, se não houver lugar a exclamações, algo está desfasado da realidade. (Eu estou, muitas vezes, num qualquer universo paralelo feito só das coisas que importam e desprendida das amarras da realidade bacoca e imbecil.) Quando o pára-quedas está roto, é bom que se diga o que há para dizer antes da testa bater no chão. E já agora, é bom que se goze o vôo, que se sinta a adrenalina a bombar nas artérias, pupilas dilatadas e coração em fast forward.
Tu, que prendes entre os dentes a faca com que rompeste os meus planos de panos e vôos planados, é bom que uses a lâmina para apontar ao meu peito em vez de lamentares enquanto me vês cair. Os teus lamentos são imaturas consequências dessa instabilidade pueril. Se querias ser o meu homem, saltavas comigo.