Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

Olá, será que ainda há alguém por aqui?

Pois que a menina esteve ausente, a fazer o que mais gosta: viajar! Antes de partir tinha as melhores das intenções de vir escrever qualquer coisa de jeito de vez em quando, mas valores mais altos se alevantaram. Não tive muito tempo nem, a bem da verdade, disponibilidade emocional. Os dias foram bastante ocupados, preenchidos com coisas boas - de que eventualmente falarei aqui com mais detalhe. Entre nove aviões, quatro barcos, comboios, autocarros, carrinhas e carros, milhares de fotografias, conversas ricas, refeições maravilhosas, cultura, paisagens de sonho, estive realmente bem entretida e... o que escrevi não veio cá parar. 

Não falei da campanha para as autárquicas, e tanto haveria por dizer... E não falei do que é para mim ainda mais importante, porque pode significar um ponto de viragem na política europeia, que é a situação da Catalunha. Mas lá iremos, que algo me diz que o que estamos a assistir é apenas um ensaio do que está para vir. E tomara que sim.

 

Baía de Guanabara 
Santa Cruz na fortaleza 
Está preso Alípio de Freitas 
Homem de grande firmeza 

Em Maio de mil setenta 
Numa casa clandestina 
Com companheira e a filha 
Caiu nas garras da CIA 

Diz Alípio à nossa gente: 
"Quero que saibam aí 
Que no Brasil já morreram 
Na tortura mais de mil 

Ao lado dos explorados 
No combate à opressão 
Não me importa que me matem 
Outros amigos virão" 

Lá no sertão nordestino 
Terra de tanta pobreza 
Com Francisco Julião 
Forma as ligas camponesas 

Na prisão de Tiradentes 
Depois da greve da fome 
Em mais de cinco masmorras 
Não há tortura que o dome 

Fascistas da mesma igualha 
(Ao tempo Carlos Lacerda) 
Sabei que o povo não falha 
Seja aqui ou outra terra 

Em Santa Cruz há um monstro 
(Só não vê quem não tem vista 
Deu sete voltas à terra 
Chamaram-lhe imperialista 

Baía da Guanabara 
Santa Cruz na fortaleza 
Está preso Alípio de Freitas 
Homem de grande firmeza

 

[Feliz aniversário, camarada V.]

No outro dia escrevi para mim própria o seguinte:

 

"É difícil conter a vontade de te mandar beijos aleatórios a qualquer hora, despedir-me sem abraços nem lábios colados. É difícil manter uma capa de aparente sangue frio e descontracção quando o coração aos pulos ameaça desintegrar-se em salpicos. É muito difícil não te contar da vontade de fazer planos a dois e das outras vontades que ainda me assombram. Podias ser menos perfeito, podias não me ler os pensamentos, podias não ter sido desenhado à minha medida. Facilitaria a minha tarefa. Assim, sobra-me apenas a esperança de que venhas a ser um calhorda para poder odiar-te em paz."

 

Dia após dia, constato repetidamente o que sempre soube e nunca escondi, nomeadamente de ti. Não tenho vocação para relações superficiais e ainda menos para mentir, esconder ou ocultar. Sou o que sou, quem não gosta pode pôr à borda do prato (como tu). Não vou deixar de ser quem sou. Não vou esconder que (ainda) gosto de ti e sempre que me der na real gana digo-o ou faço o que bem entender. Beijos mil.

 

We get some rules to follow
That and this, these and those
No one knows
We get these pills to swallow
How they stick in your throat
Taste like gold
Oh what you do to me
No one knows

I realize you’re mine
Indeed a fool am I

I journey through the desert
Of the mind with no hope
I follow
I drift along the ocean
Dead lifeboat in the sun
And come undone
Pleasantly caving in
I come undone

I realize you’re mine
Indeed a fool am I

I realize you’re mine
Indeed a fool am I

Heaven smiles above me
What a gift here below
But no one knows
The gift that you give to me
No one knows

Não há Festa como esta!

Este ano ainda não vi na TV as habituais imagens seleccionadas a dedo de velhinhos de bengala sentados perto de um garrafão de vinho e pessoal claramente "sob o efeito de substâncias", como é habitual. Estranhamente, vi imagens de crianças no carrossel, de jogos de cartas e apenas pessoas a passarem perto do Espaço Central. Continua a não ser representativo da pluralidade bonita que é a Festa, mas melhorou.

A programação musical da Festa este ano não me pareceu particularmente apelativa (para o meu gosto pessoal), provavelmente na tentativa de captação de públicos jovens e mais diversos (?), incluindo até artistas com conotações políticas bem divergentes da partilhada por grande parte dos visitantes da Festa. Rui Veloso, por exemplo, que ontem encerrou a noite de dia 2 no Palco 25 de Abril, e apoia o Francisco Assis (PS) no Porto, mas até é mandatário de Fernando Seara (PSD) em Sintra. O alinhamento também me criou algumas dúvidas, até porque normalmente o Rúben de Carvalho não deixa nada ao acaso. Felizmente que a Festa terminou muito bem, com os Língua Franca a darem uma lição de música com mensagens políticas e fraternidade transatlântica.

Mas o melhor da Festa continua a ser o convívio entre todos os camaradas, amigos e visitantes, de igual para igual:

  • as conversas instantâneas com o camarada septuagenário do Algarve que viu os planos furados e ficou sem companhia, mas foi à Festa sozinho, porque já tinha saudades, fez umas chalaças com uma camarada da Margem Certa e divertiu-se à mesma;
  • a camarada que acompanhava o filho teenager no concerto de Mão Morta e ficou surpresa com a voz do Adolfo Luxúria Canibal e com as histórias que lhe contámos, mas aguentou firme e hirta e até gostou de ouvir aquela banda que desconhecia;
  • o camarada que ia a passar e convidou-se a provar as minhas uvas, que partilhei com todo o gosto;
  • a comoção de cada Carvalhesa, entoada de coração ao alto.

 

Fico sempre com uma saudade estúpida logo que a Festa termina, três dias são poucos para fazer tudo o que há para fazer, ver, ouvir, debater e comer. Mas fica também o alento de saber que no próximo ano a Festa será ainda maior, ainda melhor e mais bonita.

Pág. 1/2