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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

Às vezes duvido que seja uma pessoa inteira. Sou antes duas metades, em permanente tensão, no fio da navalha, em oscilação compassada. Sou a céptica, ultra-racional, organizada, maníaca da limpeza e da arrumação, com gostos minimalistas. Sou também a criativa, espontânea, artística, que tira da cartola profundezas cósmicas e dá pedradas em todos os charcos. Sou da ciência e da arte, metade racionalidade e objectividade, a outra metade sonho e poesia. Quando me entorno para um dos lados submerjo com despudor, quase com desrespeito pelo outro lado. Depois tento equilibrar e lá me sumo para o lado oposto. A vertigem da queda é onde estou. Sou a personificação de todas as contradições, acto contínuo entre extremos opostos. Sou a mais meiga e doce ou a mais gélida e implacável das criaturas. Sou a indecisão em pessoa e a mais obstinada, que nunca volta atrás nas decisões que toma. Sou a calma e ponderada que analisa exaustivamente todos os prós e cada um dos contras, mas tem razões impulsivas que não sabe controlar. Sou a analítica, que tem sempre razão porque valida todos os dados e confirma todas as informações, e aquela a quem o instinto faz o diagnóstico completo só com base na intuição e dá ainda mais e mais fiável informação. Toda eu sou pela luz e vida, pelos inícios e fazeduras, desprezo a morte e o remorso, o arrependimento e o que já passou. Mas também sou fã da escuridão, da ausência, da penumbra silenciosa. Sou a lógica e o bom senso, a calma e a temperança, até a chama se atear e me fazer explodir em cacos, festim de paixões em brasa. Sei exactamente quem sou. Não sou é fácil de definir.