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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

 

Lembra-me um sonho lindo
quase acabado,
lembra-me um céu aberto
outro fechado

Estala-me a veia em sangue
estrangulada,
estoira num peito um grito,
à desfilada

Canta rouxinol canta
não me dês penas,
cresce girassol cresce
entre açucenas

Afoga-me o corpo todo
se te pertenço,
rasga-me o vento ardendo
em fumos de incenso

Lembra-me um sonho lindo
quase acabado,
lembra-me um céu aberto
outro fechado

Estala-me a veia em sangue
estrangulada,
estoira num peito um grito,
à desfilada

Ai como eu te quero,
ai de madrugada,
ai alma da terra,
ai linda, assim deitada

Ai como eu te amo,
ai tão sossegada,
ai beijo-te o corpo,
ai seara, tão desejada

 

2017 foi um ano bom. Do caraças, mesmo. Insólito, como são sempre os melhores anos.

Apaixonei-me. Fiz Amigos para a vida toda, ou enquanto me queiram. Descobri coisas insuspeitas sobre mim própria, que me fizeram mudar uma série de paradigmas e desafiar-me a mim e ao que me rodeia. Tive uma série de problemas novos, é certo, mas o balanço final é que as coisas boas, que são quase sempre pessoas, multiplicam-se se deixarmos. Vi sororidade brotar de desertos improváveis, aprendi que o que eu quero pode e deve ser tão importante como o que os outros querem, arrisquei quase tudo e assumi o que queria e quero. Não perdi, mas também não ganhei e por isso não desisti. Descobri que há outros bichos raros como eu por aí (o que é um pouco assustador). Abri-me e pus a alma a nú perante desconhecidos. Cortei alguns laços que eram lassos. Perdi vergonhas. Por breves instantes, senti-me realmente especial e capaz de mudar o mundo. Fui à luta e a Luta continua.

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[Deitei-me ontem ansiosa, a pensar em como terei de digerir e lidar com mais uma distância que há-de surgir, em data por anunciar. Pensava em como a distância não trará substancial diferença, ponderava suposições e tentava adivinhar cenários, sempre com o peso da antecipação já doer como nunca devia ter doído. Como habitualmente, a antena mística que capta no ar o que ainda não é estava a adivinhar sem saber o que nem tu sabias ainda.]

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Pilar diz, sobre Saramago, que era um homem arrasador, e que conhecê-lo foi uma maldição. Consigo compreender bem. É extraordinariamente difícil seguir com a vida depois de conhecer uma pessoa que nos abala a estrutura toda, que supera largamente tudo o que ousámos desejar, que acreditávamos não poder ser real, tangível, próximo, humano.

Quando alguém assim, arrasador como Shiva, nos surge na vida, palpável e concreto, todo o nosso futuro se torna numa mentira. Tudo o que vier depois é insuficiente, é ridículo e deprimente, se posto em perspectiva. A solução será fingir que não se vê, que não se sabe, que não se deseja com ardor respirar aquela existência a tempo inteiro, viver e morrer nos seus braços.

Se calhar o amor é muito isto, uma inesgotável admiração, o carinho e o instinto de proteger e de consumir aquela beleza até à última gota, que até poderá passar despercebida aos olhos do resto do mundo, mas é inesgotável para quem ama, para quem deseja, para quem constrói mundos assentes em toda a poesia por nascer de entre dois lábios e combate uma luta perpétua entre a vontade de o calar com beijos ou continuar a conversar sobre tudo o que existe. É esta batalha que vai sustendo a compostura e bastando para dobrar noites de ausências.

 

 

Fui contigo o que nunca tinha sido, e tanto criticava nas outras. Fui gaja, fui cabra. Dizia que não estava interessada, mas ia surfando a tua atenção, que me aconchegava o ego. Piscando o olho desinteressadamente, mas recusando. Sem sentido.

Só que afinal havia um sentido. Afinal não era desinteresse, era corpo e alma despertos para qualquer coisa muito especial, espantosa, insólita. Tu.

É universalmente óbvio que os nossos caminhos não poderiam continuar apartados e é aparatosamente despropositado que os mantenhamos hermeticamente contidos.

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E agora, como fazer marcha atrás a toda a velocidade, de preferência voltando atrás no tempo e desfazendo equívocos com erros crassos?

 

Golden brown texture like sun
Lays me down with my might she runs
Throughout the night
No need to fight
Never a frown with golden brown

Every time just like the last
On her ship tied to the mast
To distant lands
Takes both my hands
Never a frown with golden brown

Golden brown finer temptress
Through the ages she's heading west
From far away
Stays for a day
Never a frown with golden brown

Never a frown
With golden brown
Never a frown
With golden brown

 

Não me bastavam as crónicas, ainda vou de encontro às outras.

Dói-me a burrice castradora com que tenho de lidar diariamente. Dói-me o Rossio. Dói-me cada oportunidade que deixei escapar por entre os dedos - foram poucas mas as únicas que podiam importar. E doem-me mais as dores que terei provocado.

 

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