Sempre a melhor amiga, a companheira, amiga, camarada, o ombro amigo, confidente... mas nunca a mulher desejada. São décadas disto, e cansa. São décadas disto, e dói. Por uma vez que fosse, gostava de saber qual é a sensação de se ser o objecto de desejo e atenção de alguém. Gostava de saber que suscitava a lascívia pura de alguém, sem se deter com as intelectualidades, que me dizem intimidar os outros, sem haver egos gigantes carentes de atenção, sem dramas nem complicações, sem solidões a pedinchar um mimo para aplacar uma dor causada por outra. Por um momento, gostava de poder ser só uma mulher interessante que deixasse um homem com suores frios, com borboletas no estômago, doente de desejo, louco de tesão. Por um momento, gostava que o meu ego fosse mais importante. Gostava de deixar de me preocupar, gostava de conseguir largar, gostava de ser capaz de não gostar. Décadas disto, e cansa, e dói.