Alguém a quem dar um beijo de bom dia quando se acorda.
Alguém em quem aquecer os pés no Inverno e aninhar a cabeça no peito em qualquer dia.
A quem dar um beijo urgente só porque sim.
Alguém com quem partilhar o duche, as contas da casa, todos os poemas e abraços.
Alguém com quem construir as ideias, partilhar ansiedades e episódios ridículos.
A quem confiar os medos e os desejos mais absurdos.
Alguém com quem chegar a casa e adormecer de mãos dadas.
Com quem fazer planos de viagens, de remodelações, de projectos, dos nomes dos hipotéticos filhos.
Alguém a quem conhecer de olhos fechados, perceber pelo ritmo da respiração se está a dormir, a ler ou a ter uma tontura.
Alguém a quem pentear a barba e ajeitar o casaco e gritar quando está a ser idiota.
Com quem ter olhares cúmplices que inflamam ataques de riso.
A quem quase tudo perdoar e com quem errar sem medo de perder.
Alguém a quem pedir mimos, fazer surpresas e morder as orelhas.
Alguém em cujos olhos perder noção do tempo ou da inconveniência do sorriso.
Com quem dar guinadas bruscas na vida, mudar tudo, virar do avesso e tornar a repor tudo no seu lugar.
Alguém a quem amar de volta.
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Cansada de pedir mais poesia por onde passo, reconhecendo as fugas injustificadas, decidi cortar amarras e navegar sem rumo, de encontro ao que por mim esperasse na outra margem. A imagem antagónica do outro lado do espelho rachado roça a perfeição. O tinto escorregava pelas canecas infantis, soltava línguas tímidas demais para se cruzarem nos silêncios em que os dedos apartados queriam chamar os outros, mas esperavam por algum momento certo que parecia não chegar. Os livros mais que correctos, a música certeira. Tudo o que importa a corresponder a cada expectativa mais ousada. Espanto por todo o lado, como só podia ser neste filme, como em todos os filmes com registo especial. Conheci um poema de olhos azuis, frugal, feito de suavidade, de sorriso puro e persistente. E quando um poema te olha nos olhos e não desarma o sorriso, como se visse um arco-íris materializado em gente, abraças a poesia ou foges feita vadia...
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Afinal a ultra resistência ao álcool pode ser colocada em causa com uma forte dose de sono e pouca cachupa no bucho (e talvez uma virose esquisita).
Afinal quando se sai à rua sem o cabelo acabado de lavar não acontece nenhuma desgraça, nem as pessoas ficam a olhar em espanto horrorizado para a absurda quantidade de oleosidade natural.
Afinal a concretização de relações não monógamas não traz forçosamente mágoas, ciúmes, desconfianças, sentimentos de culpa, não abala as estruturas do que se tem em casa, quando o que se tem é sólido, transparente e verdadeiro.
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#dias 7 a 10
O teu umbiguismo continua a afligir-me e tenho vontade de te bater, de gritar contigo, de culpar-te de todos os males do mundo. Prefiro não falar de ti quando surge o teu nome. Tenho saudades, interrogo-me por quem me terás substituído enquanto tento substituir-te a ti.
Ainda te defendo de quem te desdenha em privado, de quem te acusa, de quem te desvaloriza. Argumento e contraponho, mesmo sabendo que se fosse ao contrário não o farias por mim. Disseram-me há pouco que achavam que eu era tua namorada. Ri, com vontade de chorar, como se fosse uma ideia muito tola e por demais inconcebível.
Vai-te embora. Pára de assombrar cada esquina de mim. Preciso de tréguas...
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#dia 6
Velhos hábitos são muito difíceis de largar. Ainda sigo atentamente as tuas palavras, ainda te corrijo as gralhas que mais ninguém corrige. Não se sou eu que confundo ou tu que estás muito determinado, leio tudo o que dizes ou não dizes como ódio para comigo. Demasiada dedicação pode dar a ideia oposta, suponho. Desprezar-me não me dá força aos propósitos, só me faz ter rasgos em que lamento a decisão. Se pudesses tratar-me como a uma pessoa seria mais saudável.
As evidências tornam-se mais claras, apesar de gostar de ti ser muito mais fácil do que odiar-te. Faço um esforço acrescido, lavo as mãos peganhentas de não te tocarem. Será que alguma vez tiveste vergonha de mim? Vais pedir satisfações aos outros como fazias comigo? Mostras o que almoçaste? Partilhas as cabeçadas?...
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Não vejo mais você faz tanto tempo Que vontade que eu sinto De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços É verdade, eu não minto
E nesse desespero em que me vejo Já cheguei a tal ponto De me trocar diversas vezes por você Só pra ver se te encontro
Você bem que podia perdoar E só mais uma vez me aceitar Prometo agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la
Agora, que faço eu da vida sem você? Você não me ensinou a te esquecer Você só me ensinou a te querer E te querendo eu vou tentando te encontrar Vou me perdendo Buscando em outros braços seus abraços Perdido no vazio de outros passos Do abismo em que você se retirou E me atirou e me deixou aqui sozinho
Agora, que faço eu da vida sem você? Você não me ensinou a te esquecer Você só me ensinou a te querer E te querendo eu vou tentando me encontrar
E nesse desespero em que me vejo Já cheguei a tal ponto De me trocar diversas vezes por você Só pra ver se te encontro
Você bem que podia perdoar E só mais uma vez me aceitar Prometo agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la
Agora, que faço eu da vida sem você? Você não me ensinou a te esquecer Você só me ensinou a te querer E te querendo eu vou tentando te encontrar Vou me perdendo Buscando em outros braços seus abraços Perdido no vazio de outros passos Do abismo em que você se retirou E me atirou e me deixou aqui sozinho
Agora, que faço eu da vida sem você? Você não me ensinou a te esquecer Você só me ensinou a te querer E te querendo eu vou tentando te encontrar Vou me perdendo Buscando em outros braços seus abraços Perdido no vazio de outros passos Do abismo em que você se retirou E me atirou e me deixou aqui sozinho
Agora, que faço eu da vida sem você? Você não me ensinou a te esquecer Você só me ensinou a te querer E te querendo eu vou tentando me encontrar
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Ouve como o silêncio é feito de frio, de rachas no gelo, de distâncias sem humor. As palavras começam a ter aquele tinido metálico que deixa um gosto amargo na boca depois do último gole. As fotografias ganham ruído, electricidade estática. As portas fechadas, blindadas, deixam ver o calor macio lá dentro, onde dormes de cara esborrachada nas almofadas de penas. Longe.
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#dia 5
Pus um pé na água, para ter certeza de que ainda molha, e a água estava fria, mais fria do que antecipei. Não sei se levo a mal ou se agradeço. Não sei se percebeste bem ou bem demais, ou se te encomendaram a distância. Reparei que arranjei um destinatário substituto da verborreia e tornei a constatar o que a Sinéad já sabia, mas a diferença está mais do meu lado do que no outro. Respirei fundo uma mão cheia de vezes mas mantive os olhos secos.
Sinéad O'Connor - Nothing Compares 2U
It's been seven hours and fifteen days Since you took your love away I go out every night and sleep all day Since you took your love away Since you been gone I can do whatever I want I can see whomever I choose I can eat my dinner in a fancy restaurant But nothing I said nothing can take away these blues 'Cause nothing compares Nothing compares to you It's been so lonely without you here Like a bird without a song Nothing can stop these lonely tears from falling Tell me baby where did I go wrong I could put my arms around every boy I see But they'd only remind me of you I went to the doctor and guess what he told me? Guess what he told me? He said girl you better try to have fun No matter what you do, but he's a fool 'Cause nothing compares Nothing compares to you All the flowers that you planted mama In the back yard All died when you went away I know that living with you baby was sometimes hard But I'm willing to give it another try 'Cause nothing compares Nothing compares to you Nothing compares Nothing compares to you Nothing compares Nothing compares to you
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#dia 1
Foi a olhar para o pinheiro do lado de fora de uma janela que não era a minha, numa cama que não era a minha que os conselhos desapareceram e ouvi só a voz da consciência, que há tanto me dizia o mesmo que as vozes em uníssono no coro regado a álcool. Decidi. Fixei prazos e metas. Suspirei. Tive vontade de me afundar num outro corpo sedento à procura do desejo que não encontrei em ti. Decidi escrever e não te escrevi uma palavra.
#dia 2
Silêncios que estranhas, que vou convertendo em palavras e frases que não são inéditas. Tento começar pelo fim, para não perder o rumo. Suspiro e arrumo coisas nas gavetas, na cabeça também. Reparo que tenho mais tempo livre quando não estás. Escrevo em chorrilho. Abro e fecho o mesmo documento mil vezes. Hesito. Tenho raiva. Odeio que perguntes por mim.
#dia 3
Reparo que é só a saudade que me desata as lágrimas. São ribeiros encharcados de saudade. Ultimo os escritos, apago farpas. Tenho saudades de te abraçar, de te falar, de me rir dos disparates e de te beliscar o ego. Mergulho em músicas que contrariam o meu estado de espírito para não fraquejar. Fraquejo, repenso tudo, equaciono tudo. Respiro fundo e avanço. Aceitas com a leveza que te admiro e ressinto. Pondero fazer uma lista de coisas que terei para te contar quando regressar. Aceito que serei sempre ridícula. Adormeço a chorar.
#dia 4
Ainda respiro, com alguma surpresa. Tenho amigos maravilhosos. O mundo segue lá fora e o dia será bom. Tenho orgulho de ter feito algo só por mim, movida a egoísmo. A música ainda ajuda e o chocolate não atrapalha.
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Pode falar que eu não ligo Agora, amigo Eu tô em outra Eu tô ficando velha Eu tô ficando louca
Pode avisar que eu não vou Oh oh oh Eu tô na estrada Eu nunca sei da hora Eu nunca sei de nada
Nem vem tirar Meu riso frouxo com algum conselho Que hoje eu passei batom vermelho Eu tenho tido a alegria como dom Em cada canto eu vejo o lado bom
Pode falar que nem ligo Agora eu sigo O meu nariz Respiro fundo e canto Mesmo que um tanto rouca
Pode falar, não importa O que tenho de torta Eu tenho de feliz Eu vou cambaleando De perna bamba e solta
Nem vem tirar Meu riso frouxo com algum conselho Que hoje eu passei batom vermelho Eu tenho tido a alegria como dom Em cada canto eu vejo o lado bom
Nem vem tirar Meu riso frouxo com algum conselho Que hoje eu passei batom vermelho Eu tenho tido a alegria como dom Em cada canto eu vejo o lado bom