Costumava usar a saudade como uma pauta objectiva de avaliação sentimental, mas até isso questiono. Sinto muito a tua falta, mas não é saudade o que sinto. Onde estava alguma coisa cheia, por vezes invasiva, que ocupava tudo em redor, hoje não está, mas está tudo bem.
Descobri que onde te tinha a ti cabem outros universos, porventura mais bonitos, mais interessantes, mais honestos, mais descomplicados. Reparei que o medo que me travava as aproximações destes outros mundos tinha o teu nome, e quando o soube fiz jus à pessoa destemida que me orgulho de ser e mergulhei, em apneia e a toda a velocidade. Foi o melhor que podia ter feito, estou (mais) feliz. Descobri que outros lábios são mais ternos, que no tempo que açambarcavas, de dia e de noite, cabem aventuras, cabem ligações de aço, cabem descobertas com cheiro a maresia, cabem planos e lições e labirintos. Descobri que outros olhos vêem em mim o que me espantou que tivesses visto, desbravei caminhos que me eram alheios e insuspeitos. Como todas as viagens, esta mudou-me, organizou muitas coisas num caos delicioso.
Tendo dado luz verde para retomarmos o melhor que tínhamos, continuo a auscultar o teu silêncio, com capa dura de indiferença, que já deixou de me magoar. Serás sempre muito importante para mim, hei-de gostar estupidamente de ti para sempre, só já esgotaste as hipóteses de ser o centro de alguma coisa na minha vida. É preciso dizer que falhaste miseravelmente enquanto amigo. Eu disse-te há meses que ia ser exactamente assim, porque só podia ser assim.
Quando voltarmos a encontrar-nos, quem conhecias já estará longe. Espero encontrar também outro de ti, mais maduro e seguro, de quem venha a poder ter saudades. 💙