Decididamente, o melhor dia para ir à Feira do Livro é o primeiro. Ainda as melhores pechinchas estão disponíveis, ainda está tudo arrumadinho, cheira a novidade...
Como habitualmente, fui cheia de vontade de honrar o compromisso de não comprar nada - não faz sentido, com tantos livros ainda por ler e com a quota de espaço para os arrumar já esgotada há muito... Como habitualmente, não resisti e trouxe dois da Cotovia (ambos da Simone de Beauvoir) e dois da Quetzal (um da Alexandra Lisboa e outro da Ali Smith), a preços muito simpáticos. O namorado trouxe um traduzido, também da Quetzal, do Irvine Welsh.
Numa nota sentimental, achei a menção aos 20 anos do Nobel do Saramango demasiado pequenina e breve perante o gigantismo do génio (para mim o maior de todos os tempos).
[Eu sei que a minha visão não é imparcial, que eu sou daquelas que acha que Saramago devia ser celebrado diariamente, exultado incessantemente. É que na literatura, há histórias bonitas, há palavras bem colocadas e personagens profundas. Há exposição além de todos os sentidos da beleza e da fealdade do mundo. E depois, além de tudo isso, há obras que nos mudam, como viagens a sítios desconhecidos dentro de nós, fazem-nos reponderar algumas verdades que achávamos inquestionáveis, fazem-nos mudar de lentes. Foi com o Memorial do Convento que me apaixonei irremediavelmente pelo Saramago, mas a cada novo romance a paixão ficou confirmada, reforçada, tatuada em mim. Saramago será sempre o meu gigante literário, as palavras dele terão sempre o poder de me comover de maneiras que poucos conseguem. E eu serei sempre um bocadinho Blimunda, avessa a normas e a ver mais do que devo, aventureira e voadora assente nas muitas vontades que moram em mim.]