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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

 

Fizeste-me mil maldades 
e uma maldade muito grande 
que não se faz 
acho que devo ter sido a pessoa 
a quem fizeste mais maldades 
nem deves ter feito a ninguém 
uma maldade tão grande 
como a que me fizeste a mim 
não sei se tens remorsos 
tu dizes que não tens remorsos nenhuns 
porque dizes que és um vil criminoso 
para mim 
eu também sou uma vil criminosa 
mas não para ti 
desconfio que tens o remorso 
de ter alguns remorsos 
por me teres feito mil maldades 
e uma maldade muito grande 
a maldade muito grande está feita 
e não se faz 
acho que essa maldade muito grande 
nos aproximou um do outro 
em vez de nos afastar 
mas para mim é um drôle de chemin 
e para ti também deve ser 
mas com um vil criminoso nunca se sabe

 

Vídeo

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Num dia de São Pedro um vil criminoso trocou-me as voltas todas, fez-me uma maldade. Como vil criminoso que é, não descansou até me tornar numa vil criminosa. Eu não tenho remorsos de nada, só do que não fiz, porque deixei trocarem-me as voltas de novo, e o vil criminoso fez-me uma maldade muito grande, que não se faz, que nos aproximou em vez de nos afastar. O vil criminoso tem remorsos de ter remorsos mas nem por isso deixa de ser um vil criminoso. Escreveu a Adília Lopes e podia ter escrito eu. A diferença é que a vida seguiu depois do poema, o vil criminoso não sabe fazer senão maldades, as piores e mais cruas maldades e eu vou ter de ser a maior e mais vil (e brava) criminosa, porque há maldades que não se fazem e caminhos que se não se caminham lado a lado terão de ser para sempre apartados.

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Pessoas que são um sumidouro de energia alheia, que sugam a boa vontade, o carinho, a disponibilidade. Que para toda a gente têm sorrisos, palavras doces e simpatias, mas para ti não, mal reconhecem a tua existência. Pessoas que te deixam pendurada à espera de respostas, que não retribuem com um mero aceno de cabeça, para fazer valer o seu silêncio, que mói e machuca. Pessoas que quase parece que fazem um favor em brindar-te com as suas palavras quando não precisam de nada, mas que não se fazem de rogadas em usar e abusar da tua estima para se protegerem das agressões externas (e internas, tantas vezes). Pessoas que colocas num pedestal na tua vida, no teu coração, mas que ignoram se estás bem e nem se dão ao trabalho de perguntar. Pessoas que se esquecem do teu aniversário ou das coisas realmente importantes para ti (porque tu não és assim tão importante). Pessoas que passam por ti e olham para o outro lado. Pessoas que fazem mil planos e promessas contigo, mas que nunca têm tempo ou oportunidade ou vontade de  concretizar nada. Pessoas que mostram o quão insignificante és a cada oportunidade que surge. Que não querem saber de ti. As mesmas pessoas que te dizem que és tão importante, que és fenomenal, que não querem nem sabem viver sem ti, que te rasgam elogios que te derretem, mas que jamais dirão um décimo de tudo isso em público e que te mostram exactamente o oposto, dia após dia. Pessoas que fazem de ti suas muletas mas sabem que têm o poder para dispor do teu humor, que abusam da desproporcionalidade para se sentirem lá no topo do buraco de onde as resgatas tantas vezes. Pessoas que viram todos os argumentos para te deixarem o ónus nas mãos, que chegam efectivamente ao ridículo de te dizerem que se gostas  delas é problema teu, que dizem que fariam tudo por ti e no momento da verdade nem vê-los. Pessoas que sabem que te querem por perto, mas não sabem porquê. Que dizem que te estimam e que te respeitam e gostam "muito muito" de ti, mas afinal onde cabes tu cabem tantas outras um degrauzinho acima e se um dia ousas exigir retribuição te viram costas porque estás a pressionar e a ser exigente e podes bem morrer que se lhes dá igual. Pessoas que não sabem o que querem, só sabem que é "algo entre o tudo e o nada" e não têm urgência nenhuma em chegar a alguma  conclusão porque te têm ali de reserva, na prateleira dos planos B ou C ou Z, com a etiqueta "usar para remendar o ego". Pessoas que usam a tua casa, o teu dinheiro, a tua vida, o teu coração como hotel, instalam-se como se pertencessem ali, aproveitam todos os benefícios incluídos, mas saem de repente sem dar uma explicação, sem entregarem as chaves, deixam tudo revolto e sujo para tu começares de novo e varreres os cacos. Pessoas que te custa a assumir, mas que te usam. Pessoas que te arrumam bem lá no fundo do baú das memórias, juntamente com as partes da vida que querem deixar para  trás e que nem se dignam a espreitar quando retornam de visita. Pessoas que nem sabem o teu nome quando te beijam às escuras. Pessoas que só te beijam às escuras ou dentro de quatro paredes e têm vergonha de ser vistas contigo em público. 

[Não serei actriz secundária da minha vida. Não me colocarei em segundo lugar nunca mais.] 

 

Pessoas acima identificadas, hoje digo-vos apenas isto: estimo que se fodam!

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- diz (quase) assim a música.

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Ouvir as mesmas canções é ter uma base de comunhão, de entendimento, quiçá de visão sobre uma série de aspectos. E é bom apanhar um murmúrio entoado no duche e fazer coro, pegar nas deixas e completar versos entre risos e uivos. É tão bom dançar em silêncio com a mesma banda sonora que não dá tréguas a ecoar em duas mentes sintonizadas na mesma estação, ondas médias ou curtas, inverno ou verão. Uma mão pousada na cintura, outra desleixada a deambular corpo acima, corpo abaixo. Como ímanes, dois animais que se pertencem, enganchados, bailando no ritmo que sabem de cor, suspiros e gemidos entredentes a marcar o compasso da sinfonia suprema sem maestro.

Partilhar com outra pessoa as nossas, tão nossas, canções, deixar escorregar uma gota atrevida e partilhá-la à janela com quem mora no silêncio invisível, do outro lado do coração, é todo um outro capítulo. É uma dádiva pessoal feita de adivinhas e silêncios, de empatias mudas e verborreias extensas. É abrir uma nesga da concha e soltar cavalos de batalha pela imaginação fora, sem coreografias ensaiadas. É fazer rebentar desejos de beijos como ervas daninhas na berma, persistentes, por muito que se tente arrancá-las pela raiz. São mãos que se tocam sem pele, tacto profundo, direito ao canto seguro onde enterramos segredos, sementes, sem medos. 

 

[Quem me dera, meu bem, que te deixasses perder no olhar da Ventania. Quem me dera, amor, morrer para nascer de novo e te resgatar das labaredas que te gelaram, abraçar-te com toda a força e prometer que nunca te vou deixar cair, mais depressa cairia eu contigo do que soltar-te incerto no mar revolto. Enquanto eu estiver aqui, neste plano, não te faltará com quem ouvir a mesma canção ou espantar a solidão.]

 

 

Restolho - Mafalda Veiga

Geme o restolho, triste e solitário

a embalar a noite escura e fria

e a perder-se no olhar da ventania

que canta ao tom do velho campanário

Geme o restolho, preso de saudade

esquecido, enlouquecido, dominado

escondido entre as sombras do montado

sem forças e sem cor e sem vontade

Geme o restolho, a transpirar de chuva

nos campos que a ceifeira mutilou

dormindo em velhos sonhos que sonhou

na alma a mágoa enorme, intensa, aguda

Mas é preciso morrer e nascer de novo

semear no pó e voltar a colher

há que ser trigo, depois ser restolho

há que penar para aprender a viver

e a vida não é existir sem mais nada

a vida não é dia sim, dia não

é feita em cada entrega alucinada

p'ra receber daquilo que aumenta o coração

Geme o restolho, a transpirar de chuva

nos campos que a ceifeira mutilou

dormindo em velhos sonhos que sonhou

na alma a mágoa enorme, intensa, aguda

Mas é preciso morrer e nascer de novo

semear no pó e voltar a colher

há que ser trigo, depois ser restolho

há que penar para aprender a viver

e a vida não é existir sem mais nada

a vida não é dia sim, dia não

é feita em cada entrega alucinada

p'ra receber daquilo que aumenta o coração

 

Este blogue repudia veementemente o Acordo Ortográfico.
Neste blogue não se faz corridas. Nem passatempos. Nem giveaways (que são a mesma coisa que os passatempos com um nome mais snob). Neste blogue não se mostram outfits ou detalhes (também conhecidos por trapinhos ou fatiotas). Também não se mostram fotografias da blogger (até para protecção ocular dos leitores). Este blogue pode ser tudo menos politicamente neutro e está em permanente campanha eleitoral pela oposição de esquerda, que deixou de existir no Parlamento. Mesmo quando se fala de outra coisa qualquer, porque tudo é política, até o Amor. Neste blogue normalmente não se fala de clubes nem de futebol porque é tema que me entedia enormemente - a não ser que seja para arreliar lampiões. Neste blogue não há bebés nem animais de estimação. Não há demagogia, não há juízos de valor nem lições de moral.

Neste blogue o que há são gritos, desabafos, opiniões, suspiros, alegrias, música, poesia, há flashes do quotidiano de uma pessoa banal e seus encontros e desencontros com pessoas especiais. Há pedaços de insignificâncias e dissertações de suma importância. Há rajadas de raivas e paixões, fragmentos de vidas reais cobertos de palavras tecidas em mantos frugais.

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O amor não tem prazo de validade; ou está e existe e é um manto que cobre a existência - por cima como um calor enrubescente de que não se pode fugir, por dentro a inundar de arrepios desnorteados, cortantes, que dilaceram cada célula com a ânsia absurda de estarem noutro lugar - ou não está, é alheio a sugestões e esforços e requerimentos. Ou arrasa o espírito com urgências de tumultos irracionais, partilhas e sexos aos gritos ou será um afecto morno e terno, ponderado, responsável e contido - o oposto do que é o Amor.

Aqui do lado esquerdo dos livros que já leste, condenados a não suscitarem mais desejos sôfregos por estrear, e à direita dos que aguardam, pacientes, a sua vez para serem lambidos pelos teus olhos, folheados pela tua delicadeza, para se sentirem importantes e acarinhados e magníficos, resido eu, caderno em branco, por estrear, com excesso de letras a aguardarem sentido que as una. Ganho pó, vou-me esquecendo do que faço aqui enquanto olho as estações a passarem, os reflexos da lua nas sombras líquidas que tecem mistérios alheios. Chovia e fazia frio quando o teu nome me derreteu, na luz baça de uma aventura soluçante e escarpada. Reconhecemo-nos no primeiro instante por entre um fio condutor que havia de nos unir um dia, em alguma arquitectura mestra e profana, numa tecelagem de palavras e vidas por desfolhar.

Não passa um dia sem que me olhes, de relance ou pela alma adentro; por vezes tocas-me a medo (apavorados, ambos) - quase a sugestão de querer aproximar o teu hálito morno do meu, quase uma caneta a tatuar-me na coxa as tuas verdades, quase uma fuga de olhos vendados, um salto pelo escuro dentro, noite estrelada fora, salpicos de maresia nos pés descalços. Logo sacodes as intenções e me colocas mais alinhada com os restantes volumes que acaricias sem pudor. Pancada seca a romper uma melodia gémea, a remeter-me de volta a este lugar que não me pertence, sem promessas, em suspenso, sem data marcada de partida ou de recuo. Amareleço os cantos outrora albos, sedenta de um corte de papel que te faça notar-me, que te faça sentir-me. Enrugo os planos por inaugurar que criei só para os teus braços, com o propósito exclusivo de te abrir o sorriso, esse que encanta, esse em que viveria aninhada e impoluta enquanto a tentação do fogo líquido e puro não me vencesse.
 
(continua...)
 

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Odeio o medo que te finca ao chão, odeio o meu medo da rejeição, odeio o medo de sermos loucos juntos, odeio o medo que tens de cair se te levar a voar comigo, odeio as amarras que nos prendem, povo de submissões e de ombros encolhidos.

Odeio que os verbos te oprimam, odeio que não saibas de ti, odeio que não saibas onde me encaixar a mim.

Odeio a indefinição, odeio a imprecisão, odeio as regras que não sigo, odeio que não queiras estar comigo.

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Ouvi dizer que o nosso amor acabou.
Pois eu não tive a noção do seu fim!
Pelo que eu já tentei,
Eu não vou vê-lo em mim:
Se eu não tive a noção de ver nascer um homem.
E ao que eu vejo,
Tudo foi para ti
Uma estúpida canção que só eu ouvi!
E eu fiquei com tanto para dar!

 

E agora
Não vais achar nada bem
Que eu pague a conta em raiva!
E pudesse eu pagar de outra forma!

Ouvi dizer que o mundo acaba amanhã,
E eu tinha tantos planos pra depois!
Fui eu quem virou as páginas
Na pressa de chegar até nós;
Sem tirar das palavras seu cruel sentido!
Sobre a razão estar cega:
Resta-me apenas uma razão,
Um dia vais ser tu
E um homem como tu;
Como eu não fui;
Um dia vou-te ouvir dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!
Sei que um dia vais dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!

A cidade está deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! Ora doce!
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura!

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