Fizeste-me mil maldades e uma maldade muito grande que não se faz acho que devo ter sido a pessoa a quem fizeste mais maldades nem deves ter feito a ninguém uma maldade tão grande como a que me fizeste a mim não sei se tens remorsos tu dizes que não tens remorsos nenhuns porque dizes que és um vil criminoso para mim eu também sou uma vil criminosa mas não para ti desconfio que tens o remorso de ter alguns remorsos por me teres feito mil maldades e uma maldade muito grande a maldade muito grande está feita e não se faz acho que essa maldade muito grande nos aproximou um do outro em vez de nos afastar mas para mim é um drôle de chemin e para ti também deve ser mas com um vil criminoso nunca se sabe
Num dia de São Pedro um vil criminoso trocou-me as voltas todas, fez-me uma maldade. Como vil criminoso que é, não descansou até me tornar numa vil criminosa. Eu não tenho remorsos de nada, só do que não fiz, porque deixei trocarem-me as voltas de novo, e o vil criminoso fez-me uma maldade muito grande, que não se faz, que nos aproximou em vez de nos afastar. O vil criminoso tem remorsos de ter remorsos mas nem por isso deixa de ser um vil criminoso. Escreveu a Adília Lopes e podia ter escrito eu. A diferença é que a vida seguiu depois do poema, o vil criminoso não sabe fazer senão maldades, as piores e mais cruas maldades e eu vou ter de ser a maior e mais vil (e brava) criminosa, porque há maldades que não se fazem e caminhos que se não se caminham lado a lado terão de ser para sempre apartados.
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Pessoas que são um sumidouro de energia alheia, que sugam a boa vontade, o carinho, a disponibilidade. Que para toda a gente têm sorrisos, palavras doces e simpatias, mas para ti não, mal reconhecem a tua existência. Pessoas que te deixam pendurada à espera de respostas, que não retribuem com um mero aceno de cabeça, para fazer valer o seu silêncio, que mói e machuca. Pessoas que quase parece que fazem um favor em brindar-te com as suas palavras quando não precisam de nada, mas que não se fazem de rogadas em usar e abusar da tua estima para se protegerem das agressões externas (e internas, tantas vezes). Pessoas que colocas num pedestal na tua vida, no teu coração, mas que ignoram se estás bem e nem se dão ao trabalho de perguntar. Pessoas que se esquecem do teu aniversário ou das coisas realmente importantes para ti (porque tu não és assim tão importante). Pessoas que passam por ti e olham para o outro lado. Pessoas que fazem mil planos e promessas contigo, mas que nunca têm tempo ou oportunidade ou vontade de concretizar nada. Pessoas que mostram o quão insignificante és a cada oportunidade que surge. Que não querem saber de ti. As mesmas pessoas que te dizem que és tão importante, que és fenomenal, que não querem nem sabem viver sem ti, que te rasgam elogios que te derretem, mas que jamais dirão um décimo de tudo isso em público e que te mostram exactamente o oposto, dia após dia. Pessoas que fazem de ti suas muletas mas sabem que têm o poder para dispor do teu humor, que abusam da desproporcionalidade para se sentirem lá no topo do buraco de onde as resgatas tantas vezes. Pessoas que viram todos os argumentos para te deixarem o ónus nas mãos, que chegam efectivamente ao ridículo de te dizerem que se gostas delas é problema teu, que dizem que fariam tudo por ti e no momento da verdade nem vê-los. Pessoas que sabem que te querem por perto, mas não sabem porquê. Que dizem que te estimam e que te respeitam e gostam "muito muito" de ti, mas afinal onde cabes tu cabem tantas outras um degrauzinho acima e se um dia ousas exigir retribuição te viram costas porque estás a pressionar e a ser exigente e podes bem morrer que se lhes dá igual. Pessoas que não sabem o que querem, só sabem que é "algo entre o tudo e o nada" e não têm urgência nenhuma em chegar a alguma conclusão porque te têm ali de reserva, na prateleira dos planos B ou C ou Z, com a etiqueta "usar para remendar o ego". Pessoas que usam a tua casa, o teu dinheiro, a tua vida, o teu coração como hotel, instalam-se como se pertencessem ali, aproveitam todos os benefícios incluídos, mas saem de repente sem dar uma explicação, sem entregarem as chaves, deixam tudo revolto e sujo para tu começares de novo e varreres os cacos. Pessoas que te custa a assumir, mas que te usam. Pessoas que te arrumam bem lá no fundo do baú das memórias, juntamente com as partes da vida que querem deixar para trás e que nem se dignam a espreitar quando retornam de visita. Pessoas que nem sabem o teu nome quando te beijam às escuras. Pessoas que só te beijam às escuras ou dentro de quatro paredes e têm vergonha de ser vistas contigo em público.
[Não serei actriz secundária da minha vida. Não me colocarei em segundo lugar nunca mais.]
Pessoas acima identificadas, hoje digo-vos apenas isto: estimo que se fodam!