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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

Vivia na escuridão ia para duas décadas, mirrado e seco por dentro, escudado numa samarra rota que sempre o cobria. Uivava fados tristes na hora das corujas, bramava impropérios quando o dia o ofendia com raios solares. Era na penumbra que se sentia em casa, com as paredes forradas a melancolia e ecos nas gavetas perras. "Desgosto de amores" dizia-se entredentes quando passava cambaleante no largo, ébrio de tristezas sem teor etílico. Numa madrugada fria de um Junho quente, rompida por brilhos cintilantes em silêncio, pensou ver um arraial em distonia, tantas as luzes e música muda. Chegou perto a esbracejar, pirilampos por certo em acasalamento. Caiu o queixo. O céu estrelado havia desabado, logo ali, no seu colo vazio, com ternura e vagareza, para lhe plantar no rosto um beijo macio.

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(Do desafio da Papel D'Arroz Editora.)