Para encerrar Agosto e celebrar o final oficial da silly season e a rentrée política*, recomendo vivamente o blogue Porto de Amato, que já consta ali da selecta lista de links à direita (salvo seja, que neste porto de abrigo está-se do lado certo).
*Cada vez me parece menos que a silly season alguma vez tenha descanso ou abrandamento, a julgar pelas pérolas que me assolam a televisão em horário nobre. Da mesma forma, também me parece que a política a sério é uma prática em vias de extinção, ninguém debate política, ninguém questiona ideologias ou faz reflexões sérias sobre o estado das coisas e os objectivos de cada actor global. Revolução é palavra em desuso até da suposta esquerda. Restam-nos as ideias e conversas entre grupos marginais, em blogues ou redes sociais fechadas sobre si mesmas. Outra vez batatas.
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Por entre corredores sujos Trapos e vidros rachados Oiço o arranhar das lágrimas Esqueletos de melros na gaiola Atestam a beleza insuficiente da morte Não se sacode o pó, que magoa Só as pegadas marcam vestígios Nas paredes de musgo E gavetas perras Ruínas de nós Cadeiras coxas, a cama rota Molduras quebradas Fotografias baças do que nunca fomos Os filhos que não nos nasceram Dos corpos que não se trocaram E o cheiro que se entranha Cartas antigas, amarradas, amarelas Encerram poemas e guerras E tanto Amor
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Isto.
Eu não sei quantas vezes te vais matar até eu cair Eu não sei quantas vezes vais fugir para não voltar Eu não sei qual das fugas iguais será excepção E talvez um dia seja eu a largar a mão
Eu quero ver quantas vezes me vais ferir até ganhar Quero saber se o que vem te dá razões para confiar e entender que eu te sei sarar, te sei fazer feliz
Hoje vou-te querer roubar outra vez Hoje vou-te querer provar outra vez Vem viajar e ficando para depois... os dois...
E ninguém te vai prometer que é para sempre a paixão E ninguém te vai jurar que é o fim da solidão Mas eu não te sei apagar sem que possas entender: o que o acaso nos mostrou a razão fez esquecer...
Porque eu sei que existir ao pé de ti é bem melhor Eu sei que depois da tempestade vem azul Eu já sei de cor o espaço do teu corpo para mim
Hoje vou-te querer roubar outra vez Hoje vou-te querer provar outra vez Vem viajar e ficando para depois... os dois...
Eu não sei quantas vezes te vais matar até cair Mas se é tão fácil escurecer e tão simples eu fugir...
Hoje vou-te querer roubar outra vez Hoje vou-te querer provar outra vez Vem viajar e ficando para depois, os dois.
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Do regresso ao trabalho após férias demasiado curtas.
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"Blocos de gelo também derretem", prometera ela quando ele tornara a insistir no silêncio de uma solidão vazia e oca, erguida só com tristeza em vez de tijolos e com punhos cerrados em vez de braços abertos. Ele achou que seria a excepção, não queria deixar-se tocar, queria ficar só, não queria ser igual aos demais, seria sublimação antes de fusão. Ela também sabia que ele era diferente de todos os outros, mais especial, mais sensível às brutalidades quotidianas, mais carente e mais capaz de lhe virar o mundo de pernas para o ar sem aviso prévio. Ave rara de asas quedas, tolhidas numa gaiola que ele próprio escolheu fechar. Foram tantas as vezes que ela lhe estendeu a mão, o calor do seu peito e afagos abafados, para encontrar quase sempre silêncios, lágrimas e gritos também, um ou outro esboço de abraço ou de beijo, mas por regra, silêncios, que o que ela não antecipara era que fosse ela a transformar-se em gelo quando ele finalmente derretesse.
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Usar vestidos ou calções quando se tem presuntos em vez de pernas coxa grossa. Humpf.
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Hoje com uma recomendação de um espectáculo de stand-up comedy: Nannette, da Hannah Gadsby. Na verdade, é menos uma comédia do que uma intervenção ou um confronto com verdades dolorosas e íntimas, um ponto de exclamação feito para abalar e dizer algumas verdades incómodas sobre género, sobre homofobia, sobre patriarcado e feminismo. Imperdível e enriquecedor.
Está na Netflix. Vejam o trailer.
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Segunda.
Maior, sinto obrigação de dizer. A primeira vez que vejo em formato físico de livro um dos meus textos sob o pseudónimo Ventania, um pequeno conto escrito sob o tema da saudade, emigração e partidas, na colectânea "Ei-los que partem - Vol. II", da editora Papel D'Arroz. Somos 23 autores. O meu conto é o último apresentado e chama-se "A Mãe sem nome".
As pequenas edições, as colectâneas de pequenas editoras, de autores pouco ou nada conhecidos, muitos que nunca publicaram em nome próprio, são uma espécie de lotaria. Pode ser muito bom, muito mau ou outra coisa qualquer. Normalmente uma mistura ecléctica de tudo isso. Podem ser um primeiro passo para uma caminhada auspiciosa ou podem não ser mais do que efectivamente livros que nunca ninguém compra ou lê senão os próprios autores, o que é uma autofagia esquisita mesmo para os egos mais cheios de si. Mas são importantes para a divulgação, ainda que de dentro para dentro, de novos talentos literários, para realização de sonhos pessoais, para criar um legado e, sobretudo, para aprender a lidar com uma série de frustrações que se sabem permanentes no mundo editorial e literário. Daí que esteja muito grata pela oportunidade. =)
Mais novidades em breve!...
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Duas!
Primeira.
Mais de mil 'likes' na minha página de facebook (sigam e comentem, às vezes há discussões giras, lamechices e gargalhadas). Já foram bem mais, noutros endereços, mas este recomeço está a saber-me de forma diferente, a figos maduros, a sorrisos entrançados. Desta vez há mais pessoas mais especiais, que se multiplicam e me enchem o rosto de sorrisos e o coração de gratidão pura, de amizade límpida. Há admiração genuína por autores ainda desconhecidos, maioritariamente, com tanto talento e valor, alguns à procura de oportunidades no mundo literário, outros a fugir delas ou a deixá-las escapar por entre os dedos. Todos a enriquecerem quem tem a sorte de os ler.
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Finalmente, devendo já boas décadas à cova, finou-se um dos mais asquerosos senadores norte-americanos de sempre, e os títulos das 'notícias' nacionais são isto: menções à "coragem" e ao "serviço" dos EUA. Eu até acho que o Vietname fez bem em devolvê-lo à sua pátria no fim da guerra. Só que devia tê-lo devolvido em vários pedaços.
Um bom fascista é um fascista morto.
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"Sou ridículo" constatou ele já prestes a iniciar uma viagem igual a tantas, um regresso a casa repetido tantas vezes, embalado pela ondulação da maré. Nunca com uma percepção tão clara do próprio absurdo. Em casa, à sua espera, estava a pessoa mais fantástica que conhecia, a quem amava sem limites, que podia definir como lar, que habitava intimamente, que partilhava consigo cama, mesa, planos, risos e segredos. Tinha acabado de despedir-se com beijos nos lábios e sorrisos sinceros, sempre espantados com a sorte, de uma mulher fascinante, que admirava tanto, que o encantava como serpente hipnotizada por uma flauta mágica, tesouro ofertado pelo acaso. E, idiota, com imerecida fortuna dupla guardada no coração, continuava a deixar-se cair, lamentando a ausência de outra, complicada, difícil, problemática, inconstante, que o dispensava em indiferença ou o afastava com espigões nos pés. Ridículo, sabia bem que ela não queria realmente saber dele, que o usara para preencher vazios que não havia sido ele a causar. Ridículo, por saber desde o primeiro instante que aquela mulher, com o seu discurso assertivo, com os fascínios que lhe confessara e com tantas diferenças na expressão dos mesmos exactos pensamentos, só podia trazer-lhe mais um nó no coração. Resistiu, como sempre faz quando reconhece de imediato uma alma que é parte de si. A imagem do seu inverso complementar reflectida no espelho ofende como um embrião no útero, como uma colonização de um espaço privado que não se está preparado para partilhar. Recusou, rejeitou e, como sempre, acabou por não conseguir lutar contra as evidências. A partir do momento em que se torna impossível passa a ser o que mais se deseja. Era impossível, pelo menos quase sempre, a aliança no dedo anelar dela não deixava margem para enganos. Mas por vezes vislumbrava uma frecha de luz, quando ela se distraía e deixava escapar que gostava dele, ou que queria fugir com ele, ou soltava alguma expressão inesperada de afecto. Logo de seguida regressava o breu, amiúde tapava as frechas e tudo voltava a ser um novelo de suposições emaranhadas; ela corrigia-se, não sabia como gostava, ou quanto gostava, ou até quando gostaria. Frechas distraídas não iluminam uma vida. Sabia que era ele a companhia assídua desde que à distância, provavelmente não a única, provavelmente apenas uma muleta para a auto-estima dela. Sabia também que o que era impossível para si não parecia ser para outros. Consigo tudo era difícil, complicado, problemático e constrangedor. Mas com os outros todos fazia-se simples, as oportunidades surgiam, nenhum impedimento ou urgência interrompia coisa nenhuma. Os outros cabiam nas fotografias, nos destaques, tinham risos e elogios. Cláudio era mantido à parte, como um segredo, aparentemente insignificante. Sabia que só existia na vida dela enquanto houvesse tempos mortos e protagonistas ausentes. Tentava evitar questões, definições e comparações, sabia que qualquer coisa que se assemelhasse a pressão, na cabeça dela, era mote para mais uma fuga. Quanto mais ele a amava, mais ela se afastava. Contudo, às vezes perdia-se no embalo de conversas a meia luz com o coração pendurado no tecto e confessava poesias pontuadas com amor. Ela virava-lhe costas. Tantas, demasiadas vezes. Ele prometia ficar e ficava. Ela desejava com mais força cortar os laços do que dar-se um instante. A sua especialidade era fugir, desaparecer, calar. Virar costas só a quem nunca lhe virava costas a ela. Cláudio sabia de tudo isso, sabia todas as histórias do início ao fim. As mulheres da sua vida também sabiam tudo dele. A única coisa que Cláudio não sabia era como despir aquele amor impossível, pesado como chumbada no peito, de tão grande e asfixiante.
Um dia Cláudio despediu-se. Deixou tudo organizado, antecipou cada problema e questão e respondeu a todas as perguntas que considerou importantes. A ela deixou os livros, para que neles fosse encontrando pedaços dele. Morreu com a esperança de um dia, quando fosse já tarde demais, ela sentir falta dele. O contentamento desse arrependimento improvável em forma de vingança ornamentou o cadáver com um esboço de sorriso. Sob os dedos abertos que cobriam o lado esquerdo do peito, onde um coração vadio tinha batido com fulgor antes de ser abandonado, as cartas, cuidadosas e sem esquecer ninguém. A ela deixou escrito: "Foi sempre amor verdadeiro deste lado. Insustentável por ser tanto, transbordou por não ter por onde escoar."
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[Sérgio, esta é para ti. Muitos parabéns! Beijinhos verdes! 😊💚]
And who by fire, who by water,
Who in the sunshine, who in the night time,
Who by high ordeal, who by common trial,
Who in your merry merry month of may,
Who by very slow decay,
And who shall I say is calling?
And who in her lonely slip, who by barbiturate,
Who in these realms of love, who by something blunt,