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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

Para dar as boas-vindas ao mês de Agosto, em plena silly season, inicia-se aqui uma rubrica de autores convidados, que tenho o orgulho de arrancar com a poesia de uma amiga querida que nunca vi, nunca abracei (ainda), e que nada tem de silly. Queria começar assim, pelo puro prazer das palavras, sem mais amarras, sem expectativas e sem compromissos. Gosto da poesia da Susana Nunes porque é realmente isso mesmo: pura. Despretensiosa, descomplexada, leve, às vezes leviana, nunca oca. Quando a Susana escolheu este poema tive ainda mais certeza de seria o momento ideal para esta casa vestir as estrofes alheias, medidas às cegas, e que assentam que nem uma luva. Nem por encomenda seria mais adequado. Vão conhecer a Susana e deliciem-se! 

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Se calhar

Se calhar, não tive voz que chegasse
e por isso, tu não ma ouviste
Se calhar as letras deviam ter sido escritas a negrito
ou então as palavras estavam esbatidas
não foram de todo, as suficientes
e talvez por isso
mas não sentiste

Quando por fim
consegui proferi-las claras
cheias de frases sonoras
e de versos audíveis em ecos de montanhas
... estavas longe
e nas horas abertas
em que juntei os meus poemas
e os desfolhei nos livros aos ventos
... tinhas curvado a esquina
e claro, não mas encontraste

Agora...
Tenho sal a mais nas lágrimas
tenho paladar amargo p'ra mim
e p'ra mais uns centos
e só me apetece gritar alto
e voltar ao início
em que a minha voz era rouca e pouca
mas ainda conservava a esperança
que te voltasses dessa terra dos silêncios
sem morada
sem caminho
sem estrada que eu soubesse...
... e mesmo de longe que fosse
me dissesses...
- Espera pela minha voz, morena
vou dar-ta, meu amor, de uma assentada
espera... que já não demora...
nada mais há, que eu queira tanto...
... e ai, como vai... valer a pena

Susana Nunes 12 / 6 / 2018