Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

[Alma de tripeira nascida na margem certa confessa-se.]

[Hook: Capicua]
Dou-te com a mão pesada
Quando é carinho ou quando é castigo
Olho de cara lavada
Quando te digo que sou perigo

Eu só tenho uma palavra
Dita na cara, clara como água
Eu agarro, não abraço
Dás o dedo eu quero o braço

[Verse 1: Capicua]
Rosa-dos-ventos no cabelo, estrela polar ao peito
Porte, mulher do norte, forte, ar de respeito
Jeito de quem traça a eito, comanda a valsa
Feito de ter graça, raça é o conceito
Manda na praça e não disfarça que é rainha altiva
Menina matriarca, marca de cidade, diva
Busto de granito esculpido no fio da navalha
Curto é o pavio em rastilho fagulha brava

[Verse 2: M7]
Quem é que encanta com o sorriso de catraia
Tem mão na anca se precisa roda a saia
Lá é levada da breca, se não te curte é directa
Não consegue pôr cara de quem recebe uma caneca
Se o homem não se comporta troca o canhão da porta
E depois sai louca para beijar na boca a carioca
Porque tem pêlo na venta, Kahlo como a Frida
Na vida não se lamenta aguenta de cabeça erguida

[Hook: Capicua]
Dou-te com a mão pesada
Quando é carinho ou quando é castigo
Olho de cara lavada
Quando te digo que sou perigo

Eu só tenho uma palavra
Dita na tua cara, clara como água
Eu agarro, não abraço
Dás o dedo eu quero o braço

[Outro: Capicua]
A prosa que enfeitiça, maga manha que conquista
Dengosa sem preguiça atiça a cobiça à vista
Tem alma cigana, cigarra atarefada
Sem calma, comanda a cidade à desgarrada

[Hook: Capicua]
Dou-te com a mão pesada
Quando é carinho ou quando é castigo
Olho de cara lavada
Quando te digo que sou perigo

Eu só tenho uma palavra
Dita na cara, clara como água
Eu agarro, não abraço
Dás o dedo eu quero o braço

[Verse 3: M7]
Guerreira, arregaço as mangas e chego onde quero
Veio mudar por estas bandas o conceito de mulher
Antes só a fumar charros na banheira
Que ficar a ganhar pó com dó de si na prateleira
Tripeira com muito orgulho
Tripa por qualquer bagulho
Evita dizer "tem calma!" se não assumes barulho
Quando ama é por inteiro, ergue à volta uma muralha
Mas pensa nela primeiro, não se fica por migalha

[Verse 4: Capicua]
Para onde aponta a bússola
"É o azimute"
Para quando a afronta é explícita
"É atitude"
Não iludo, trago música translúcida no clube
O zumbido ao teu ouvido é o efeito da altitude
Grito, sou guerreira, desnorteio, sou nortenha
Impero porque carrego o meu sonho, convicta
Tripo, sou tripeira de ferro sou ferrenha e não nego
Que mantenho o meu trono, invicta

[Hook: Capicua]
Dou-te com a mão pesada
Quando é carinho ou quando é castigo
Olho de cara lavada
Quando te digo que sou perigo

Eu só tenho uma palavra
Dita na cara, clara como água
Eu agarro, não abraço
Dás o dedo eu quero o braço

(Dás o dedo, quero o braço...)

fireeyes.gif

nos teus olhos não vejo
céus azuis, bonança eterna
nos teus olhos não bebo
rimas dulces, promessa efémera
nos teus olhos vejo tormentas
labaredas de ternura
orgulho cerrado e tanta força
punho esgotado de lutar
socos pra dentro, facadas num peito
em que todos cabem menos tu
que sempre cedes o teu lugar
vejo o sorriso da solidão
desgarrada, a provocar
irresistível, bem sei
namorada de colo cheio
braços e pernas abertos
casulos de gente como nós
que nunca se soube amar
não sei quem foste ou querias ser
quem és sobeja, nada há a mudar
vejo humildade e respeito
culpa órfã de indulgências
e um caminho de fatalidade
de que prometo não me apartar
vejo-te beijos sem reservas
verdades da carne em erupção
e o cansaço do falhanço
medido nessa bitola
que sempre teimas em desviar
ouço-te a voz que é só tua
consagração maior dos poetas
pejada de espinhos a arranhar
e mil mágoas que pesam
por não as saberes largar
também te vejo nos silêncios
o que deixas por adivinhar
nos teus olhos vejo músicas
que ainda estão por inventar
vejo uma alma tresmalhada
e chamo casa a esse olhar
corrida em frente, em fuga
cega, na ânsia de chegar
aonde sempre és esperado
só não vejo o teu perdão
por escolher sem pecado
o que mandar o coração
não sei o que te chamam
sou invisível, não existo
na sombra do teu lugar
mas sei bem quem vejo e amo
posso ensinar-te a não calar
não creias no que dizem meus lábios
ou os meus olhos cansados
de ver sem olhar
sei-te de cor, tal qual te mostras
face contida de planícies e mar
sei-te melhor no avesso da lua
touro bravio, miúdo perdido
todo de escuro e estrelas a latejar
não me perguntes o que te vejo
vejo tão mais do que ouso contar
vi-te por dentro, sabe-lo bem
olha-me tu e promete ficar
segura-te, sozinho não ficas
confia - não te deixo cair
a repetição das dores enterradas
aqui já não tem lugar
dou-te tudo o que tiver
o que não tenho irei buscar
enfrentaremos os dias maus
de capa e espada, como heróis
garanto que irão passar
com sol ou lua, luz ou negrume
o tanto que te vejo e que
às vezes me faz chorar
dói e arde, mas faz crescer
agarra a minha mão, grava o meu nome
aquela que não te vai abandonar