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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

Assombroso.

Com uma vénia e um abraço aos homens que não têm vergonha ou medo de chorar.

 

empresta-me os teus

olhos uma vez
que os meus não são de gente, apenas rapaz.
é só o tempo de me aperceber
da visão que se turva para ser de mulher.

empresta-me uma chávena de sal
e mostra-me a receita do caldo lacrimal.
é só o tempo de te convencer
que nem precipitado consigo chover.

não é um adágio que nos persegue,
que um homem só não chora porque não consegue.

empresta-me esse efeminado luto;
ser masculino é ter-se o lenço enxuto.
é só o tempo de me maquilhar
de pranto transparente (a cor de mulher).

não nasci pedra, nasci rapaz
que um homem só não chora por não ser capaz.

os homens fazem fogo, com dois paus eles fazem fogo.
por troca ensino-te a queimar.

tu és corrente e eu finjo mar
que um homem, para que chore, não pode chorar.

Lês as letras que debito
E não te atreves a escutar
O que as sílabas gritam
Nas crípticas entrelinhas
Devoras frases de um trago
Talvez demores a mastigar
O teu nome pendurado
Em cada verbo exclamado
Finges nem entender
Que foste tu que semeaste
A poesia a brotar

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