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Um clique, um instante, e toda a história é resumida. Uma fotografia que conta uma história de estórias feita, entrelaçadas e unidas. Podia ser a preto e branco, de tão nítida e forte, mas tem cores. Almas fortes, encontradas e unidas por acasos a que não seria possível escapar. Tão diferentes. Tão irmãs. O que se vê é a definição de sororidade. Unidas por uma rede de aço invisível, por todo um chão comum e divergências que as tornam complementares. Umas em primeiro plano, outras mais distanciadas. Os risos adivinham-se, sonoros, que são constantes, mas as lágrimas de todas, tantas já engolidas, soluçadas, abafadas, ficam apertadinhas nos segredos só delas, nas cartas adivinhadas, nos pensamentos dissecados e alguns nunca verbalizados. Unidade. Para tomar as ruas, para incendiar espíritos, para carpir em conjunto as dores, para chamar à razão, para acalmar e dar raspanetes, para tudo compreender, tudo perdoar, para dar o impulso na subida e o amparo na queda. Elas sorriem e brindam, que um copo cheio sempre afaga alguma carência, mesmo que só a fingir, mesmo que só por um instante. Eles, sempre omnipresentes, em primeiro plano ou em background no pensamento delas, todos citados sem excepção. Pactos e promessas reafirmados, sem necessidade, que cada uma sabe bem quem a leva no coração. Sorte grande, esta de ter grandes amigas.
e tal.
Ah, ceia de Natal, altura em que toda a família que está mais ou menos distante se reúne em torno da mesa...
E toda a gente é recordada das razões pelas quais só se encontram uma vez no ano.
(Sozinho, nunca estarás.)
Not an easy task, I tell you.
Conheço pessoas assim, que não têm caixa de mudanças. São exactamente iguais a si próprias em cada momento, cada frase, cada pequeno detalhe, tal como nos momentos decisivos, marcantes, grandes. Estejam numa sala só comigo ou com mais duzentas pessoas. São a verdade, sempre. O que eu admiro e almejo isto não tem explicação. Fico de coração cativo, colado ao espanto. 💙
Não sou a maior fã de fazer balanços ou da perspectiva contabilística da vida. Não gosto de fechos, ou de despedidas ou de finais. Gosto de inícios, de estrear cadernos, sorrisos, beijos e emoções, com todas as possibilidades em aberto, gosto da aventura do desconhecido a seguir a cada esquina da vida num lugar estranho, sem mapa nem destino.
Apesar de fugir dos clichés em geral, nomeadamente do balanço de fim-de-ano, dei por mim a reparar que, ultimamente, os meus ciclos pessoais têm colidido com Dezembros e Janeiros. Os últimos 12 meses têm sido de uma intensidade que me esgota e que me arrepia de expectativas. Estou grata, muito grata, pelo que (e, sobretudo, por quem) de bom e maravilhoso tem surgido no meu caminho e tem vindo ter às minhas mãos, desde que aprendi a aceitar mais e a duvidar menos.
Têm chegado desafios muito bons, que tenho agarrado pelos cornos, ainda que com os joelhos a tremer num par de ocasiões. Ainda não me arrependi, até porque só costumo arrepender-me do que não faço.
Já sabia desde sempre que ninguém combate as nossas lutas por nós, não as podemos deixar para outros porque não há outros; quem acredita num mundo melhor tem de se pôr em marcha e ir desbravando terreno. Este foi o ano em que arrepiei caminho num lado (mais) acertado. Fazer estas lutas ao lado de camaradas como os que me ladeiam tem sido um enorme privilégio, uma aprendizagem incrível, e faz a diferença entre o desepero de achar que se está sozinho e acreditar que juntos vamos conseguir. Ocupámos as ruas, tocámos nas feridas, desafiámos opressores, gritámos por direitos e pela justiça, e vencemos algumas batalhas. No sindicalismo, no feminismo, no anti-capitalismo, na justiça climática e ambiental, pela igualdade entre todos e contra todas as opressões, somos muitos, somos sementes e faíscas e, pese embora a luta jamais se adivinhar ligeira, a certeza da inevitabilidade da vitória vai ganhando espaço, fincando pé, criando raízes profundas.
Foi este ano que a escrita tomou um tom mais sério, que deu pequeninos frutos de papel, esquissos que serviram para definir por onde me vejo e desejo e por onde não quero ir. Foi neste ano que reconquistei sozinha um espaço em que posso ser sempre quem sou, e que trouxe entre as páginas amigos especiais, posso mesmo dizer excepcionais, que me leram o coração escancarado e os pensamentos trancados a sete chaves, as minhas verdades que faço explodir em festim e os segredos indizíveis soltos nas entrelinhas.
Não foi sempre bonito e leve. Este ano chorei como já não chorava há muitos anos. Chorei de cansaço e de tristeza, de desespero. Passei noites em claro, perdida, sem saber o que fazer para não permitir que pessoas que amo se perdessem; afastei, aproximei, esgotei as palavras e os silêncios, dei tudo de mim. Fiquei fisicamente (mais) doente com maleitas da alma, com o coração a querer sair pela boca, quase literalmente. Perdi Amigos sem perceber bem porquê. Perdi a vontade de viver - e não há forma eufemística de dizer isto. Encontrei amparo nos pontapés que me deram quando já estava no chão e me obrigaram a reagir. Foi só quando me trataram como louca que percebi que não tinha perdido a sanidade. Encontrei guarida e conforto nos colos que sempre me acolhem com amor, ainda que o sempre não tenha anos plurais. Encontrei Amigos espantosos em lugares insuspeitos, e outros em lugares mais do que prováveis. Fiz planos, cumpri planos e alterei os planos.
Chorei comovida de emoções transbordantes, sem outro lugar por onde escorrer, quando me ofereceram poemas e tive a certeza de que aquele amor espinhoso e enjaulado seria eterno. Encontrei Amor genuíno nos antípodas e num reflexo que quase podia ser um espelho. Foi este ano que realmente multipliquei o Amor em amores mais que perfeitos. Respirei poesia, dei-lhe a mão, deitei-me com ela e dormimos abraçadas em suspiros ofegantes e surreais, de dedos entrelaçados e cabelos desgrenhados.
Fui, sou inteira, de punho em riste e coração ao alto, fractura exposta do esqueleto da alma, blindada à prova de medo, brava e agreste e intragável.
Não carece de cálculos matemáticos a constatação de que 2018 foi um dos melhores e um dos piores anos.
Afinal, apesar dos desfalques que as mágoas levaram a cabo, este ano consegui passar uma boa parte do meu tempo a fazer aquilo que sempre quis. Aprender. Amar. Escrever. Lutar. Aprender mais. Amar mais. Escrever mais. Lutar mais. Cresci. Ousei. E nunca, nunca, me resignei.