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Olá. O meu nome não é Sofia e eu sou poliamorosa.
A monogamia enquanto norma social é, assim, uma opressão difícil de contornar.
Numa manhã domingueira, baila o nevoeiro ao ritmo das ondas do rio. Tricoto uma rede de questões doridas, a pensar em quem me habita o coração, em quem poderia habitar, nos degraus da surpresa e da nostalgia, no carinho que se adivinha num olhar.
Surge a face dele numa parede ensolarada, aquele que nos juntou, como uma daquelas pausas que interrompem o riso antes do primeiro beijo no cinema cliché. Apesar de parecer despropositada a imagem mental do teu sorriso surgir na ponta da minha mão estendida, apesar de a tua voz não condizer com os diálogos que me seguem nos sonhos que tenho acordada, apesar de tudo em ti ser desfasado dos sonhos em que me embrulho, é a constatação de que não estás que me rompe a face em lágrimas soluçadas, apneia surgida do nada.
Estava bem até então, sozinha a tocar piano com os pontos de interrogação que me deixam pendurados nos sorrisos doces que respondem em esforço "eu também gosto de ti". A tua ausência inquieta-me tanto quanto a tua presença, sempre de rompante, sem ar, incontrolavelmente, asas a bater contra a espuma e salpicos de mar e vento. "Não sabia que estavas tão quebrada", diz o desatento salva-vidas. Tu saberás. E eu observo ao longe a tua queda de asas abertas, a pique contra garras de ferro que te estilhaçam em sombras, e na ponta da minha mão vazia o teu sorriso de luz não brilha.
We actually do, ever since the first look.
And all the things we were going to do. All the plans to being young and fearless until we woke up really, really old and hold each other's hands and kiss like we always did, with poetry between the lips, no walls and no clothes, just us and the poetry of the softest kisses.
Perder sem saber porquê é a parte que torna baça a compreensão e dificulta a cicatrização.
Dedicado a todos os náufragos de barcas aladas.
Era mais um primeiro dia, adiado há meses por todos os travões que compõem as fugas. Era, como sempre, o Rossio que ampara encontros e desencontros. Era mais uma ginja, daquelas que deviam dar desculpa à língua para se soltar.
Era a cabeça às voltas com as inevitabilidades de fins e começos de motins internos, de desarranjos emocionais. Era a chuva nos óculos dele e um regicídio por celebrar. Foram palavras hesitantes e atrapalhadas, banalidades, sorrisos e silêncios dentro do olhar que diziam muito mais. Havia ali uma estória por ser escrita, a termo incerto.
Novamente, o Rossio. Novamente uma ginja desencontrada e um ano mais sobre o regicídio que abriu portas à República. Novamente, silêncios entre a chuva e decisões idiotas a serem tomadas com parcas palavras, que dos silêncios distantes de uns se fazem as aproximações de outros. Feridas abertas precisam de pensos rápidos quando a negligência já não chega para estancar.