Há mais de oito dias que não te choro. Agarro nessa pequena vitória para desassombrar os vazios que encontro nos passos insuspeitos, nas sombras e nos caminhos em que te encontro a espreitar para dentro de quem sou. Mandei-te um beijo provocador só com o meu nome, para te lembrar que nunca te esqueço. Não há tréguas ou descanso para o que é definitivo. Afecto crónico a que já chamei doença (e vês como ainda evito dizer amor, palavra embaraçosa, sem definição ou justificação racional), sem saída que não seja a fuga para a frente, a que tu tomaste de rompante e sem olhar para trás.
O nascer-do-Sol sobre o rio tem tentado piscar-me o olho, com pós e aromas de poesia, que sacudo à bruta porque me levam sempre a ti e ao turbilhão que me atira para uma escuridão fria que ecoa a tua ausência.
Há um ano e pouco o teu gelo rachou, em noite de fogo-de-artifício, recordas-te? Disseste o meu nome e ali colaste todos os cacos das tragédias que semeámos.
Agora que me secaste a poesia, que escrevo só para ti quando a emoção tem saudade de sair, a máquina alada jaz quebrada num ermo.