Ela não mente, tem uma incapacidade fisiológica de mentir, como se o soro da verdade lhe pingasse em permanência da supra-renal. Como ela gostava de saber mentir e calar! É por isso que ela só não responde se está perdida numa névoa qualquer. É por isso que precisa de espaço para gritar as dores e os amores. É por isso que não ignora se não fica indiferente.
É o pior dos defeitos, nunca deixa ninguém impune com aquelas lanças afiadas de verdade. Na ponta de ferro que entra pele adentro, coexistem todas as incongruências. Nos beijos, a mágoa; nas lágrimas, o desejo. Tudo na verdade do que se percebe e respira, entra no sangue como um veneno, sem antídoto, que só aos puros permite que se mantenham erguidos.
Transparente como o vento, essa miúda de intensidades descontroladas. Solitária, numa floresta de cadáveres verdes e desfalecidos aos seus pés.
Este eco que ouve ao fundo, será real ou a sanidade por fim a dar-se por vencida?