Até aos meus 6 anos, quando todos os outros miúdos se deliciavam com chupa-chupas e chocolates, o que fazia as minhas delícias eram... lascas de bacalhau salgado. Tinha um cúmplice, com mais sessenta anos que eu, que me introduziu à gulodice do sal. E que me tratava como à filha e à neta que nunca teve, amor a dobrar, pelas duas juntas. O primeiro homem (e cúmplice) que perdi. Perdi-o para o malvado do tabaco (sim, foram os cigarros que o levaram, não foi o cancro, o cancro é só uma consequência inevitável).
Comprei bacalhau desfiado e não o demolhei. Homenagem ao T., que não chega para matar a saudade. Ando a comê-lo em pequenas lascas, a recordar as estórias do Alfeite, as tardes em frente à cozinha de porta azul, aos bancos de perna adornados como tronos, com conchas e seixos, para o Rei e a Rainha daquele que foi o melhor dos mundos. Continuo a odiar cigarros (e cada vez mais), que depois me tolheram mais dois.
Perder Amigos cúmplices é daquelas crueldades que nunca doem menos do que doía ontem.