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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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Não tenho paz nas saudades que sinto. O que fazer com os abraços que se amontoam e os beijos que ficam por estrear? Não sei onde guardar de mim os pedaços que são só teus, não tenho cavalo alado que me leve além das estrelas, onde a tua memória não exista.


 


Sinto-me tão impotente como se habitasses uma dimensão diferente da minha. Disseram-me uma vez que a saudade era uma medida do amor. Que quando se gosta mesmo de alguém sente-se saudades, muitas, daquelas que apertam e fazem arder o peito. Disseram-me que é assim que se identifica o amor. Há mais quem corrobore. A saudade é daqueles sentimentos que nem se consegue forçar nem forjar. E muito menos explicar, por muito que se tente. E eu tento, na vã esperança da verbalização ajudar a exorcizar o que te sinto. Como sempre tinha ajudado, até me faltares.


 


Sinto-me pobre, no mais profundo dos sentidos, por não te ter presente, não ver o teu sorriso, não te escutar as ideias, não te afastar a franja da testa. Sinto-me (de novo) a ilha que fui até te conhecer (fomos arquipélago um dia, fomos península duma alma à outra quando de mãos dadas navegámos o vento). Não me sinto incompleta sem ti, só infeliz. Não deixo de ser quem sou sem ti, mas contigo tudo era melhor, e eu também. Há momentos em que sou apenas um fantasma em desespero, ir ou ficar, rir ou chorar, tanto faz. Sem medo de nada, porque já nada importa.


Eu sei que é lamechas... Tenho andado assim, envolta num véu de sentimentalismo. Capaz de ir ali para os lados do Lumiar* e fazer uma serenata ao luar, até que todas as pedrinhas da calçada me tentem igualar nos prantos solitários e disparatados. (Mas a despesa em vidros seria incomportável.)


I mean every word...


 


(Versão da Leona Lewis, no X factor, como qualquer outra miúda a expôr o que lhe vai na alma.)


 


*piada tão private que só eu é que a entendo.


 


 










 


 





Há desejo de parar colado a cada músculo do meu corpo, incluindo (e sobretudo) o coração. Como se cada célula estivesse exausta e a pedir um sono profundo e regenerador. Desejo de descanso, de pausar agonias e desgastes, de ter tempo para secar as lágrimas, aquelas que não se vêem. Vontade de voltar as costas a tudo e de partir em paz, em silêncio, sem levantar uma folha do chão.


Não sou mulher de me quedar por empates nem prolongamentos. Que vá a penalties, com morte súbita. Travar um duelo de mim contra mim foi a mais triste das ideias que já me ocorreu, e aquela a que não tenho como escapar. A vontade de seguir contra a incapacidade de desistir, a necessidade de comandar o meu destino contra tudo o que sinto, contra tudo o que, por muito que negue, continuo a sentir. O meu reino por uma derrota! Qualquer que seja o lado vitorioso... Paz! Silêncio!


No outro dia um desconhecido enviou-me um beijo. Soube bem.


No outro dia um desconhecido ofereceu-me papoilas. Sorri.


No outro dia um desconhecido deu-me o elogio que mais precisava de ouvir. Gostei.


No outro dia um desconhecido deu-me avelãs. Aceitei.


No outro dia um desconhecido meteu conversa comigo. Apaixonei-me.


No outro dia um desconhecido fez planos comigo. Fui feliz.


No outro dia um desconhecido flirtou comigo. Corei.


No outro dia um desconhecido fez música só para mim. Cantei.


 


Começo a pensar que o mal surge só quando os conheço...


Dantes caminhava de cabeça baixa, olhos arrastando-se no chão ao ritmo de passos tímidos, mesmo se apressados numa fugida da minha sombra. Olhos que se diziam felizes, mas só sabiam reflectir as pedras da calçada, perscrutando cada centímetro quadrado de chão, em busca talvez dum tesouro, certamente assinalado com um grande X vermelho que a todos os outros teria passado despercebido. Caminhava ao som da banda sonora do meu filme, onde magistralmente desempenhava o papel principal. Tudo era como devia ser, cada capítulo com um final apropriado, a fazer jus aos ingredientes habilmente misturados. Podia ser um filme mudo, sem legendas, pois que tudo seguia o curso normal e previsível de qualquer vida mundana, o que não é dizer desinteressante. Mas era uma vida de filme, ficcionada. Nada de novo no horizonte, os figurantes não abriam asas para levantar vôo nem falavam com paredes. Tudo normal. Tudo tão normal que comecei a suspeitar que não era real. Mas continuei a andar de cabeça baixa, fitando o chão. Até que o chão deixou de estar lá e caí. Esfolei o orgulho e amarrotei todos os planos. Quando estava caída, a recuperar o fôlego, calquei as mãos com força contra o chão. Era areia, infiltrando-se em cada ferida. Pouco havia de sólido naquele chão que me faltou, exclamei como quem descobre a pólvora que ali não se susteria nenhum alicerce e levantei-me. Sozinha, com joelhos tremeliques e quase arrepiada de insegurança. Agarrei em mim e levantei-me, sacudi os restos de areia da alma e meio ofuscada olhei para cima. Ousei olhar para o Sol mais brilhante que qualquer projector no meu filme, ousei sujar-me por entre profanações alheias e derrubei com um empurrão apenas todos os cenários do conto desencantado. Levantei o queixo e caminhei. Sem saber por onde ir, mas sempre sem olhar para trás.

 

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Já aqui tenho falado na minha necessidade extrema de verdade. Mesmo sabendo que posso estar a magoar alguém, ou a mim própria, mesmo vendo nitidamente as vantagens de me deixar ficar calada, mesmo sabendo que dar opiniões quando ninguém as pediu pode ser um abuso que coloca pressões nas liberdades alheias. Ferve-me sob a pele tudo o que penso e tenho de expulsá-lo, na hora, nem consigo deixar para depois e dar espaço e tempo para as ideias assentarem, amadurecerem e quiçá mudarem. Porque esta obsessão com a verdade e a fidelidade tem consequências e faz estragos. Quando decido alguma coisa, nada, mas é que mesmo nada, me faz demover. Posso ter todas as provas reunidas à minha frente a dizer que aquela decisão não é a melhor, que vai dar n problemas, que é simplesmente má ideia. Mas sou tão obstinada e faço tanta questão de ser sempre, sem excepção, mulher duma palavra só, que ainda dando a mão à palmatória e admitindo que estou redondamente enganada, não volto atrás. Se digo que irei por aquele caminho, que ninguém duvide, irei. Se me comprometo a fazer uma coisa, venha o que vier, razões, argumentos e obstáculos, farei. Morta de vontade de ir, dizer e fazer, se usei a palavra nunca, nunca irei, nunca direi e nunca farei.


 



 


Sofro, deixo passar oportunidades, e deixo lágrimas a escorrer. Mas de alguma forma, consola-me saber que esta sentença de carácter faz de mim uma Mulher grande, Honesta e Pura. Ostento, com orgulho (que os pecados capitais são para os crentes), um coração límpido e transparente, onde cada falha é obviada. E falhas, tenho muitas. Mas qualidades tenho muitas mais.






 

Se abriria a porta?


Abrir uma porta não significa apenas deixar alguém entrar. Significa que se está pronto para sair e explorar sítios novos, lá fora e cá dentro. Dentro de mim. A ti deixava-te entrar, como deixei sempre, tu entraste mal viste uma brecha, sem perguntar se podias. E eu não te expulsei. Achei até que entraste com tanta avidez que querias mesmo cá estar, e ficar. Entraste de rompante, impuseste a tua voz no meio dos meus sonhos e agarraste-me pela cintura. Deste-me a mão, levaste-me portas fora e portas dentro com rodopios, com esses sorrisos que me desfazem por dentro, com carinho e cumplicidade, possuíste-me, com força, com o que se parecia com mais do que paixão movida a desejo. E um dia saíste sem te despedires, deixaste a porta aberta e eu fiquei, parada, a ver-te longe, agarrada ao espanto do vazio e à solidão da dor. Chegaste a voltar, envergonhado e a medo, quase que a pedir desculpa por não teres resolvido as dúvidas que persistem como ferrugem num prego velho. E com mais amor que medo te voltei a abrir a porta. Agora, que não sei de ti, não sei o que pensar ou onde deixei o coração, decidi manter a porta aberta. Porque tenho todos os motivos para a trancar e vedar a pessoas como tu. Mas repara, está vedada aos outros. A minha porta convida-me a sair, mas eu não vou longe. Não quero ir sem ti. Se soubesse como encontrar-te ia até ao fim do mundo buscar-te, salvar-te. Quando quiseres ser salvo, a minha porta está aberta para ti. E só a fecho quando vieres com mais do que a paixão movida a desejo.


 


"Não sei o que há em ti que se fecha e se abre sem parar. Mas alguma coisa em mim sabe que a voz dos teus olhos é mais profunda do que todas as rosas. Ninguém, nem mesmo a chuva, tem tão delicadas mãos."


PP





Eu sei o que é e vou agarrar-te essas mãos com todas as minhas forças. E vou espreitando de cada vez que te abres e é a tua alma que a minha alma vê, no fundo dos olhos, no eco da voz. E compreendo-te todo, e amo-te todo, confio-te todo. Talvez espere por ti só até ao momento em que me tentes alcançar e me encontres já perdida. Mas será sempre amor.



Meu coração tardou. Meu coração


Talvez se houvesse amor nunca tardasse; 

Mas, visto que, se o houve, houve em vão,                                        
        

Tanto faz que o amor houvesse ou não.                                        
                                        
              

Tardou. Antes, de inútil, acabasse.



Meu coração postiço e contrafeito

Finge-se meu. Se o amor o houvesse tido,

Talvez, num rasgo natural de eleito, 

Seu próprio ser do nada houvesse feito, 

E a sua própria essência conseguido.



Mas não. Nunca nem eu nem coração

Fomos mais que um vestígio de passagem

Entre um anseio vão e um sonho vão.

Parceiros em prestidigitação, 

Caímos ambos pelo alçapão.

Foi esta a nossa vida e a nossa viagem. 

Era um embrulho pequeno, sem caber no bolso dum casaco. Rectangular, papel e laço branco. Para comemorar. Ou lamentar. Porque sim, havia algo deveras importante, mas nunca saberás, não por mim nos próximos 20 anos, pelo menos. Mandei o embrulho fora, perfeitinho, sequer o amachuquei antes. Directo para o contentor. Como devia fazer contigo.


 


Uma pegada pesada num pobre coração todo de cimento fresco... Ele acabou por secar, não se atreve já a bater, de artérias e veias empedernidas. Sequer se atreve a escoar aquilo que deveria ser o sangue, que o seu ruído poderia invocar memórias de quando o músculo era desperto, de quando tinha alma. Ficou a marca dessa força bruta que foi vida no que hoje só se permite ser lápide.