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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

As mortes, todas elas, são sempre injustas, pelo menos para alguém dos que ficam.


Quando perdemos alguém próximo partilhamos com quem partilhe da nossa dor, só nos atrevemos a dizê-lo por iniciativa própria a quem nos é especial, aos amigos muito próximos, à família. Procurar um ombro ou uma palavra que possa tornar alguma coisa um pouco mais fácil. A (vã) tentativa é de aliviar a dor, da saudade pesar menos, da impotência dividida ser mais apaziguadora no que nos pesa. E o que nos pesa é a ausência, é a perda, é o que não fizemos nem dissemos a quem, agora, deixámos de ter a oportunidade.


A morte (ou lidar com ela) exige esta proximidade, é algo de tão pessoal que me desarma e agonia ser de outra forma.


Soube hoje que faleceu um antigo colega de faculdade, e soube-o (soubemos todos) via Facebook. E parece-me surreal. Entre o choque e as manifestações colectivas, não me consigo posicionar, não consigo digerir. Sinto quase uma ofensa a ler despedidas na sua wall, que ele não lerá. Parece-me ridículo. E percebo que é tão ridículo como os funerais, como eu os considero, que sou avessa a todo este lado social e póstumo em torno dos mortos. Podemos todos fazer desfilar um rol de elogios ao F., que foi um herói, por duas vezes lutou com o cancro, e ficou sempre a perder. Podemos falar das qualidades (tantas) que tinha. Eu lamento não o ter visitado em Madrid quando lá estive há pouco tempo. Todos lamentamos alguma coisa... Todos lamentamos nunca mais podermos tornar a privar com ele, a trocar mails, a ler posts novos num dos seus blogs. Podemos reflectir e prometer-nos doravante dar mais valor a cada momento em vida, prometer não adiar. Podemos dizer adeus. E dizê-lo, de que vale? De nada. Rigorosamente nada.


...

Podia ser manifestação de "dor de corno". Se eu achasse que alguma mulher pode ser melhor que eu por ser mais nova, mais alta, ter olhos mais verdes, ser mais bonita ou falar mais e mais exóticas línguas que eu. Mas não é. Porque ninguém é melhor que ninguém com tão obtusos argumentos. E ninguém substitui ninguém. Quem procuras substituir, por idealizar amar (palavras tuas), por aproximação, é uma só. Quem amas, ninguém. Mas um dia vais amar e perceber que não há argumentos que justifiquem o que simplesmente se sente.





She's got the kind of look that defies gravity
She's the greatest cook
And she's fat free

She's been to private school
And she speaks perfect French
She's got the perfect friends
Oh isn't she cool

She practices Tai Chi
She'd never lose her nerve
She's more than you deserve
She's just far better than me

Hey hey

So don't bother
I won't die of deception
I promise you won't ever see me cry
Don't feel sorry

And don't bother
I'll be fine
But she's waiting
The ring you gave to her will lose its shine
So don't bother, be unkind

I'm sure she doesn't know
How to touch you like I would
I beat her at that one good
Don't you think so?

She's almost 6 feet tall
She must think I'm a flea
I'm really a cat you see
And it's not my last life at all

Hey hey

So don't bother
I won't die of deception
I promise you won't ever see me cry
Don't feel sorry

Don't bother
I'll be fine
But she's waiting
The ring you gave to her will lose its shine
So don't bother, be unkind

For you, I'd give up all I own
And move to a communist country
If you came with me, of course
And I'd file my nails so they don't hurt you
And lose those pounds, and learn about football
If it made you stay, but you won't, but you won't

So don't bother,
I'll be fine, I'll be fine, I'll be fine, I'll be fine
Promise you won't ever see me cry

And after all I'm glad that I'm not your type
Promise you won't ever see me cry

So don't bother,
I'll be fine, I'll be fine, I'll be fine, I'll be fine
Promise you won't ever see me cry

And after all I'm glad that I'm not your type, not your type, not your type, not your type
Promise you won't ever see me cry


Não tenho paz nas saudades que sinto. O que fazer com os abraços que se amontoam e os beijos que ficam por estrear? Não sei onde guardar de mim os pedaços que são só teus, não tenho cavalo alado que me leve além das estrelas, onde a tua memória não exista.


 


Sinto-me tão impotente como se habitasses uma dimensão diferente da minha. Disseram-me uma vez que a saudade era uma medida do amor. Que quando se gosta mesmo de alguém sente-se saudades, muitas, daquelas que apertam e fazem arder o peito. Disseram-me que é assim que se identifica o amor. Há mais quem corrobore. A saudade é daqueles sentimentos que nem se consegue forçar nem forjar. E muito menos explicar, por muito que se tente. E eu tento, na vã esperança da verbalização ajudar a exorcizar o que te sinto. Como sempre tinha ajudado, até me faltares.


 


Sinto-me pobre, no mais profundo dos sentidos, por não te ter presente, não ver o teu sorriso, não te escutar as ideias, não te afastar a franja da testa. Sinto-me (de novo) a ilha que fui até te conhecer (fomos arquipélago um dia, fomos península duma alma à outra quando de mãos dadas navegámos o vento). Não me sinto incompleta sem ti, só infeliz. Não deixo de ser quem sou sem ti, mas contigo tudo era melhor, e eu também. Há momentos em que sou apenas um fantasma em desespero, ir ou ficar, rir ou chorar, tanto faz. Sem medo de nada, porque já nada importa.


Eu bem disse que a Primavera sempre me traz exclamações. Apanhou-me desprevenida. E fiz o que faço sempre nessas situações, enrolo-me nas surpresas e vou, descalça, aonde o vento me levar, de cabelos rebeldes a tornarem-me criança outra vez. A descobrir que nem todos os erros deixam crateras no peito e aridez na alma. A descobrir que há mais pessoas que me fazem sorrir estupidamente e que nem todas descuram os seus (ou os meus?) princípios. A descobrir-me a mim e às marcas que ficarão, por muito que as tente arrancar. A descobrir que, às vezes, basta um momento para a vida se virar do avesso, ou uma palavra para fazer despertar um calorzinho no amor próprio. E que as armaduras de ferro magoam quem as veste e quem lhes toca.

O som dum silêncio chorado ainda me toma de assalto de quando em vez. Ainda me tem cativa nas memórias enleadas do desgosto. Um naipe negro e soturno que me esvazia o peito e invade os sentidos. Como falhas nos degraus que subo pela primeira vez, e parecem já tão desgastados pelo tempo. Como se nem nos sonhos mais obscuros a dor tivesse estes contornos tão profundos que parecem ter nascido comigo e estarem à espreita para jorrar finalmente em denúncia de mim.


 

Estou 10 anos atrasada, diz-me. Que tudo o que sinto deveria ter sentido quando era adolescente, que agora custa muito mais, é mais difícil. Que já devia ter lidado com este tipo de sentimentos, que já devia ter chorado tudo antes, que já devia ter calos no coração que ainda está tenrinho. Que tanta paixão não é para digerir-se em idade adulta.


Já suspeitava que algumas coisas em mim estivessem ao contrário. Na adolescência as paixões eram muitas e fáceis. Qualquer livro, fotografia, canção me apaixonavam irreversivelmente. Aos rapazes, ligava pouco. Já então sabia exactamente o que queria e nenhum deles se qualificava. Claro que este era um fantástico pretexto sob o qual me escudar da falta de interesse que despontava neles.


Atrasada ou não... É um campo magnético regido por magia ou espírito, quiçá. É o que é. Fatalidade talvez.


 





Palavras da @na, no fiossoltos:



 


EVITAR A DOR





 


Habituei-me desde muito cedo a contar só comigo. É muito difícil andar a bater a portas e levar com portas na cara, dói. Não peço ajuda, desenrasco-me. Não me queixo, levanto-me. Não é uma questão de orgulho, é uma questão de sobrevivência, de dignidade. Não conto com os outros, perto ou longe, não conto, preciso estar a afundar-me para pôr um braço de fora a pedir socorro. Não gosto de dependências, não gosto de esperar que os outros possam/queiram/tenham disponibilidade. Quem está longe provavelmente não pode ajudar, quem está perto consegue ver e se quiser chega-se à frente. É isso que eu faço e, eu sei que não somos todos iguais e se eu me viro do avesso por alguém é um problema meu, não posso exigir que o façam por mim, não posso e não quero, talvez com medo do retorno que possa vir. Não gosto de criar expectativas, prefiro as surpresas e perante a incerteza perfiro a ignorância.


Claro que há quem não entenda este meu lado demasiado independente, mas não sei funcionar de outra forma. Acham-me desligada, orgulhosa, teimosa, cheia de mim, talvez, mas a verdade é que não sou e por vezes mordo-me toda para não esticar o braço até chegar à conclusão que tenho de o fazer senão a subida é muito mais difícil, dolorosa e quiçá as voltas e o tempo que demorarei até voltar à tona e conseguir voltar a respirar, o problema é que a dor de esticar o braço é ainda maior, porque quando estico o braço, para me verem tenho de o passar por lâminas afiadas que cortam e, nessa altura sangro.



 


 

Este blog é virado para dentro, para os confins de mim, em senso lato ou nem tanto. É uma sala fechada em que as palavras são a psicoterapia. Raras vezes me lerão (aqui) a opinar sobre o 'mundo lá fora' (e se eu sou opinativa!). É para contra-balançar. É que na "vida real" passo muito mais tempo virada para fora e preciso de me recolher no casulo, cuidar dos meus eus e dos meus porquês. Se podia teclar palavras em alto débito sobre alguma coisa do tanto que me move, me perturba, me emociona, me revolta? Podia. Mas este não será o lugar. Tudo isso aqui me soa a futilidades, a intervalos para publicidade. E vejamos... nah, nesta vida a Ventania não está ainda em condições de pausar coisa nenhuma.


 


 



FIM DA CANÇÃO



Chegámos ao fim da canção,

E paro um pouco pra dormir.

É tarde pra voltarmos atrás,



Já nem há motivo algum para rir..

É como ouvir alguém dizer:

"Vê nessa procura

Uma razão

Pra virar a dor para dentro",

Que é virar o amor para dentro.

Falo de um amar para dentro,

Que é virar a dor para dentro..

Eu vou dizer até me ouvir,

A dor chegou para ficar.

Eu vou parar quando eu sentir;

Não haver motivo algum pra negar

É como ouvir alguém dizer:

"Vê nessa procura

Uma razão

Pra virar a dor para dentro",

Que é virar o amor para dentro.

Falo de um amar para dentro,

Que é virar a dor para dentro..



Pra virar a dor para dentro",

Que é virar o amor para dentro.

Falo de um amar para dentro,

Que é virar a dor para dentro..



Chegámos ao fim da canção

E paro um pouco para dormir...


Até isso o fdp do desgosto me tirou. Eu, a gaja menos piegas com dorzinhas e doenças a norte da Taprobana, a que aguentava as dores sem drogas, que não colocava a hipótese de não ir, não fazer ou ficar quieta só para doer menos, a que ao invés de temer cirurgias pouco simpáticas e arriscadas está desejosa de ser "reparada"... Prostrada com uma febrezinha, a gemer de mau-estar daqueles que antecedem as gripalhadas, munida de chá de limão com mel, de antigrippines e pastilhas para a garganta, enrolada numa manta sem forças sequer para sair do sofá. Sinto-me como um gajo doente, daqueles (todos?) que parecem bebés indefesos a pedir atenção maternal, pálidos, a fazer beicinho. Eu, mariquinhas (!). Como raio cheguei a este estado? Deve ser de ter a cabeça cansada e fraquita (como os gajos, lá está), só pode.


Filho da puta! Pronto, já disse, com as letras todas. (Vêem como não estou em mim?)


Será que terei de ceder e conformar-me com a triste realidade, nunca mais nada será como dantes? Reduzida a um farrapo do que fui, a uma sombra do que poderia ter sido. É triste. É mesmo muito triste.


 



  • adormecer antes de ter terminado de jantar

  • adormecer abraçada ao aquecedor

  • fechar os olhos entre duas estações de metro e ter uma epifania on the move

  • baixar os braços e continuar a bater nas paredes

  • deixar de lutar contra as manifestações emocionais mais deslocadas

  • escrever todo o tipo de baboseiras no blogue para fingir que não houve tempo de publicar as páginas e páginas de revoltas e angústias que atormentam cada vez mais

  • resignar os olhos ao inchaço que se tornou constante

  • entregar a saudade a uma fotografia que passou a andar sempre comigo

  • desviar o assunto 24h por dia, quando o assunto me assola 24h por dia


Lutar contra os sentimentos (puros e genuínos, já disse?) cansa com'ó caraças. Tentar esquecer o inesquecível e pôr para trás das costas o que de mais precioso se teve é uma traição; aceitar as impossibilidades e as curvas dum fado escrito por outrem causa-me overload a nível celular. Parece-me que ando a tentar forçar o planeta a girar no sentido contrário com o poder da mente. E a mente está por um fio. Estou verdadeiramente exausta de andar aqui.


Há alturas em que nada parece fazer sentido. Em que se procura uma, ao menos uma, explicação, para o tanto que se consegue encontrar fora do lugar.


Não é suposto perdoar biblicamente com a facilidade de quem engole analgésicos, porque não há ainda analgésicos para as dores de alma. Não é suposto essas dores cavarem um buraco tão fundo que não se consiga, eventualmente, tapar, ou esconder debaixo duma qualquer felicidade camuflada. Nem se espera que as palavras se desfoquem assim que as começamos a soltar, pois não?


Mais uma fuga, mais umas pazadas de terra. Terra que se afunda ou dissolve, deixo de a ver e de a cheirar. E cavar dá cabo das costas. Há dores que esperam a cada esquina, que aparecem de surra quando até se começava a esboçar um sorriso.


Mais um dia, um mês, sempre a fingir que não se sente falta de ter onde pousar a cabeça, a fingir que a cabeça está sempre erguida e livre. Não apetece confessar sintomas nem razões. Apetece só que esta ausência se cale um pouco, deixe respirar, permita reconhecer que é possível respirar sem doer.





Há demasiado tudo fora do lugar.

 descobri o swirl canela. Sim, só hoje. E porque é que ninguém me informou disto antes, hmm?


 


É doce e denso, não propriamente fresco. Doce, denso e fresco e lindo e espantoso e único era o olhar que sorvi, acompanhada do gelado e da minha certeza que aquele é o homem da minha vida. Mesmo que nunca o venha a ser.


 


Quem inventou esta cena dos amores não correspondidos que se vá matar, sim? É que não tem piada nenhuma, arde no peito e corrói a alma. Merda pra isto, que já lá vai tanto tempo e nem o gajo acorda prá vida nem eu me resigno.


8 meses depois de ter definido assim as ausências de mim, ainda ecoa a mensagem no buraco cheio de nada que sou eu.


 


 



Apetece-me pôr a vida no prego, suspendê-la por uns tempos e ir ali viver outra vida por alguém... Só para fazer uma pausa nesta que é a minha e de que em regra tão pouco me queixo. Pois que se lixem as regras, não sou eu que estou dentro de mim, e hoje queixo-me. Em regra não choro, não grito, não sofro, não perco a calma nem a compostura, em regra relativizo e sei que estou bem, que hei-de estar bem ou pelo menos fazer bem a alguém. Hoje flutuo por uma realidade alternativa em que não me revejo, descuido os travões emocionais e deixo cair quanta chuva me sobra da alma afogada, sufocada.




Em regra arrisco e transbordo de palavras e exponho o que me falha e que não sei, em regra os baldes de água fria surpreendem-me sem a gabardina vestida. E em regra sorrio porque a surpresa me apraz, em regra vejo um raio de sol despontar e logo a energia se me renova desde o âmago mais primitivo do Ser, seca-me as dores e continuo a marcha, decidida, em direcção à rota e não ao destino.




Hoje não é o meu eu que de relance se reflecte em cada janela. Perdi o norte e o mapa e ando em passos tontos de sobe-e-desce que não chegam a lado algum. Sou dúvida incerta até de duvidar, sem suporte nem amparo, sem rede mas também sem risco. Flutuo em paralelos que não me tocam, passo incólume ao tempo e ao girar do mundo, vou existindo, adiando o desmaio que espreita pelas brechas de cansaço. Não ser eu também cansa.




Quebrada, partida, exausta, vazia, cinzenta. Reservo-me o direito de estar nesse canto poeirento e escuro que passo o resto do tempo a evitar. Quedei-me por aqui e não trouxe vontade (que a força sempre encontro) de me desencostar.




 







Ai de quem vier sem (a)braços para voar, sem coragem para amar!