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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

É o que venho dizendo, como se anunciando um fim lá longe e um futuro decidido. E que mal tem? Se antes só que mal acompanhada, como toda a gente sabe, se a escolha da companhia só eu posso fazer e já a fiz sem margem para dúvidas. Juro que estou bem sozinha. Torno a estar, como estive antes. E em não podendo estar com quem valha a pena, com quem me arrebate a cada frase, com quem me faça sentir única e especial e com quem me torne a existência absolutamente extraordinária, é a minha companhia que prefiro. Só eu. Sem interrupções para amuos e decepções, sem os fastidiosos exercícios de partilhar tempos com substitutos do que se deseja. Se eu me basto? Naturalmente que não. O que me falta é por demais mágico para que possa ousar não lhe lamentar a falta. Mas that's life... E a life dá muitas voltas (piruetas e trambolhões).


 


(A propósito de solteirices, espreitem aqui a Blonda...)

Não me venhas espiar as sílabas, não. Continua a fingir que cessei de existir e segue sem o entrave que fui eu. Segue rápido e feliz e vive tudo o que procuravas na fuga de mim. Não me venhas tomar o cheiro quando em vez, saber se já morri ou me tornei em quem não reconheces. Não me visites amiúde, não te quero aqui. Não sintas a temperatura a ver se está frio o suficiente para não queimar, ou morno o suficiente para te tirar o gelo do coração. Não te escondas debaixo desse manto de invisibilidade presunçosa que, sabes, não funciona comigo. Não vás retirando sanções até te julgares no direito de apagar o passado. Não. Deixa o tempo passar devagar. Quando me sentires a falta, não de quem preencha a minha vaga nas funções, mas de MIM, virás. Nesse dia, ler-me-ás de rajada e recordarás cada momento como um tempo que cristalizou. Far-se-á Luz na caverna escura de ti e o degelo será um flash. Nesse dia, se o dia chegar, entornarás significados antigos que evitaste e tudo será claro e límpido como a verdade que te vai ensurdecer. E nesse dia vais procurar por mim. Em cada rosto, em cada palavra, em cada um dos pequenos vazios dentro de ti, em cada saudade que descobrires. Vais ensaiar aproximações, negociá-las com o medo da rejeição. Eu não sei onde vou estar. Só sei que não estarei onde me deixaste, naquele sítio onde cabiam o teu mundo e o meu, onde tudo estava por ser. Não vou regressar a esse sítio nunca mais. Não acredito em regressos. Só acredito no infinito e em mim.


 





Há desejo de parar colado a cada músculo do meu corpo, incluindo (e sobretudo) o coração. Como se cada célula estivesse exausta e a pedir um sono profundo e regenerador. Desejo de descanso, de pausar agonias e desgastes, de ter tempo para secar as lágrimas, aquelas que não se vêem. Vontade de voltar as costas a tudo e de partir em paz, em silêncio, sem levantar uma folha do chão.


Não sou mulher de me quedar por empates nem prolongamentos. Que vá a penalties, com morte súbita. Travar um duelo de mim contra mim foi a mais triste das ideias que já me ocorreu, e aquela a que não tenho como escapar. A vontade de seguir contra a incapacidade de desistir, a necessidade de comandar o meu destino contra tudo o que sinto, contra tudo o que, por muito que negue, continuo a sentir. O meu reino por uma derrota! Qualquer que seja o lado vitorioso... Paz! Silêncio!


O som dum silêncio chorado ainda me toma de assalto de quando em vez. Ainda me tem cativa nas memórias enleadas do desgosto. Um naipe negro e soturno que me esvazia o peito e invade os sentidos. Como falhas nos degraus que subo pela primeira vez, e parecem já tão desgastados pelo tempo. Como se nem nos sonhos mais obscuros a dor tivesse estes contornos tão profundos que parecem ter nascido comigo e estarem à espreita para jorrar finalmente em denúncia de mim.


 

Ausências - Diana Nogueira


 


E tudo que eu andava


a fazer e a ser


eu não queria que ele


visse nem soubesse,


mas depois de pensar isso


deu-me um desgosto


porque fui percebendo (...)


que talvez eu não quisesse


que ele soubesse que


eu era eu,


e eu era.


 


Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correcto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas as tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso. A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.




"Penso, com mágoa, que o relacionamento da gente sempre foi um tanto unilateral, sei lá, não quero ser injusto nem nada - apenas me ferem muito esses teus silêncios."


 


"Seria tão bom se nos pudéssemos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos - emoções."

Podia ligar-te, para te ouvir a voz. Podia ficar escondida perto das escadas para te ver passar. Podia enviar-te como se por acidente um e-mail ou sms. Podia esbarrar em ti em tantas ocasiões. Podia inventar mil artimanhas para te fazer preocupar comigo, para te obrigar a pensar em mim. Podia dedicar-te músicas na rádio que ouves, podia colocar fotografias nossas em placards. Podia insinuar-me, podia tentar-te, podia pedir-te ajuda. Podia deixar-te recados por toda a parte, aqui, ali... Podia devolver-te um postal rasgado num envelope sem remetente, podia nesse envelope escrever o que quisesse. Podia perguntar por ti aos teus amigos. Podia espantar-te. Podia fazer-te chegar as novidades de mim, as decisões que tomei. Podia fazer passar um avião por cima da tua casa a implorar a tua atenção e o teu amor. Podia fazer-te sentir culpado. Podia suscitar a tua pena ou o remorso. Podia não evitar cruzar-me contigo, podia expôr-me para que soubesses sempre onde encontrar-me, podia estar acessível como sempre tinha estado. Podia muito mais. Poder, podia. Seria fácil, corriqueiro até. Mas não procuro saídas fáceis, não quero a tua atenção se não for genuína nem sentimentos de substituição aos que mereço. Recuso, como recusei os beijos falsos, lembras-te? Não quero nada de ti, se não for de verdade. Nem os pedidos de desculpas. Nem os pontos finais.




 




 


 


 





 




ESPERAR UMA VIDA INTEIRA - CARLOS MGL TEIXEIRA





Tenho noites em que a acidez oblíqua da chuva, não fende apenas as árvores ou os insuspeitos nevoeiros da rua. Rasga a natureza comum dos dias que se vão somando, e expõe a dúvida. Olho da janela ao alto, deixando o corpo descair no canto do quarto. E vejo todos os milénios de um mesmo dilúvio extrair de uma matriz que ignoro, essas dúvidas vermelhas. Há noites assim, de dúvida escarlate. E observo a luz dourada de um qualquer candeeiro na rua, lembrar-me subitamente de como eram dourados os cabelos dela, quando a luz se lança do vidro fosco para a tela breve da noite. Dourados os cabelos, escarlate o sangue que verte da dúvida, cinzas as nuances cristalinas do nevoeiro. Há noites assim, em que se espera uma vida inteira.


 


São quase três meses sem ti. São quase dois anos contigo, com a certeza de que tu existes. Desde o primeiro fortuito encontro numa teia qualquer, as primeiras farejadelas disseram-nos que havia ali alguém interessante, com quem se pode conversar a um ritmo intelectual e emocional que poucos apanham, ou apreendem. Deve ter sido bom, repetimo-lo amiúde. Daí até aos almoços e programas improváveis foram dois passos, distâncias à parte. As distâncias para nós têm outro significado, não pesam, não afastam. Não arrastam nada no tempo, porque o tempo se molda a cada quilómetro ao ritmo a que o impusermos. Pode girar o mundo na palma das mãos mil vezes, não há ninguém igual. Nada foi comum nesta estória, na nossa estória, que já vai passando à história. Nem o começo, nem o meio, nem os interregnos, muito menos os recomeços. Sobressaltos e solavancos, nenhum dia terminava da mesma forma que começava. Repara que não falo em fim. Porque a qualquer momento espero um novo solavanco que vire tudo do avesso. Nada é definitivo, o nunca e o sempre são demasiado tempo. Tu disseste nunca, eu disse nunca. Mas tudo pode sempre mudar. Personagens que entram e saem, alguns, que devem estranhar estes estranhos universos onde as regras parecem não se aplicar. O tempo vai passando ao contrário e o espaço encolhe em vez de expandir. Pequenino, este casulo de mim onde não chega só a memória de ti. Os acasos, provocadores, ironias talvez.


Não me peças para esquecer-te.


Nunca deixarás de fazer parte de mim. Nunca.


 


Estou 10 anos atrasada, diz-me. Que tudo o que sinto deveria ter sentido quando era adolescente, que agora custa muito mais, é mais difícil. Que já devia ter lidado com este tipo de sentimentos, que já devia ter chorado tudo antes, que já devia ter calos no coração que ainda está tenrinho. Que tanta paixão não é para digerir-se em idade adulta.


Já suspeitava que algumas coisas em mim estivessem ao contrário. Na adolescência as paixões eram muitas e fáceis. Qualquer livro, fotografia, canção me apaixonavam irreversivelmente. Aos rapazes, ligava pouco. Já então sabia exactamente o que queria e nenhum deles se qualificava. Claro que este era um fantástico pretexto sob o qual me escudar da falta de interesse que despontava neles.


Atrasada ou não... É um campo magnético regido por magia ou espírito, quiçá. É o que é. Fatalidade talvez.


 





Palavras da @na, no fiossoltos:



 


EVITAR A DOR





 


Habituei-me desde muito cedo a contar só comigo. É muito difícil andar a bater a portas e levar com portas na cara, dói. Não peço ajuda, desenrasco-me. Não me queixo, levanto-me. Não é uma questão de orgulho, é uma questão de sobrevivência, de dignidade. Não conto com os outros, perto ou longe, não conto, preciso estar a afundar-me para pôr um braço de fora a pedir socorro. Não gosto de dependências, não gosto de esperar que os outros possam/queiram/tenham disponibilidade. Quem está longe provavelmente não pode ajudar, quem está perto consegue ver e se quiser chega-se à frente. É isso que eu faço e, eu sei que não somos todos iguais e se eu me viro do avesso por alguém é um problema meu, não posso exigir que o façam por mim, não posso e não quero, talvez com medo do retorno que possa vir. Não gosto de criar expectativas, prefiro as surpresas e perante a incerteza perfiro a ignorância.


Claro que há quem não entenda este meu lado demasiado independente, mas não sei funcionar de outra forma. Acham-me desligada, orgulhosa, teimosa, cheia de mim, talvez, mas a verdade é que não sou e por vezes mordo-me toda para não esticar o braço até chegar à conclusão que tenho de o fazer senão a subida é muito mais difícil, dolorosa e quiçá as voltas e o tempo que demorarei até voltar à tona e conseguir voltar a respirar, o problema é que a dor de esticar o braço é ainda maior, porque quando estico o braço, para me verem tenho de o passar por lâminas afiadas que cortam e, nessa altura sangro.



 


 

Não te vejo há meses. Não te oiço há meses. E continuo a sentir-te tão perto de mim. Aí, do outro lado do mundo, ouço-te pensar que já nada é exactamente como dantes. As prioridades, a importância que o antigo sonho tem. Aí, na solidão de ti para ti, consegues confessar-te. Ouve o que o coração diz e cala os clichés rituais. O meu conselho é o mesmo de sempre. Faz o que te fizer feliz. Sem medo, que a felicidade não mata nem mói. Deslumbra-te nas diferenças. Sente a minha falta. Fala comigo e dorme com os braços em mim. Acorda na saudade e persegue a tua verdade.


Tenho saído ao encontro de mim. Tenho percorrido as ruas da cidade à procura da pessoa optimista, cheia de garra e de sonhos, que fui, que sou ainda por baixo deste manto de saudade e frustração que me prende os movimentos e abafa o ar. Procuro nos reflexos dos carros parados, nas riscas das passadeiras, no brilho das janelas ao Sol. Procuro a miúda de sorriso fácil e palavras suaves e doces, de gargalhada viva. Espreito em cada chafariz, nos barcos que navegam o Tejo, em cada pedra da calçada, nos cães vadios e nas pulgas deles. Olho nos olhos de quem por mim passa, inquiro se vislumbro uma pontinha d’alma. E nos bolsos também, já examinei todos os bolsos de todos os casacos. Procuro-me nas sombras das árvores, nas paredes grafitadas, nas chávenas de chá e nos jornais. Pesquiso em cada música do eclético iPod. Até já me lembrei de procurar lá em cima, no ar, entre as nuvens, onde pertence a minha natureza. Ah, e na espuma das ondas, e em cada gota de chuva.

Procuro-me a mim, ou então procuro-te a ti.

Não encontro nada.

 

0procuro.jpg

 

 

 

 







One is the loneliest number that you'll ever do

Two can be as bad as one

It's the loneliest number since the number one



No is the saddest experience you'll ever know

Yes, it's the saddest experience you'll ever know

`Cause one is the loneliest number that you'll ever do

One is the loneliest number, worse than two



It's just no good anymore since she went away

Now I spend my time just making rhymes of yesterday




One is the loneliest, number one is the loneliest

Number one is the loneliest number that you'll ever do

One is the loneliest, one is the loneliest

One is the loneliest number that you'll ever do

It's just no good anymore since she went away

(Number) One is the loneliest

(Number) One is the loneliest

(Number) One is the loneliest number that you'll ever do

(Number) One is the loneliest

(Number) One is the loneliest

(Number) One is the loneliest number that you'll ever do

Sabe-se que se tem um Amigo para a vida toda, quando numa diluviana noite de sábado ele nos diz: "Eh pá no way, essa perspectiva de escrita e lenços de papel reforça-me a ideia de que é mesmo hoje que saímos então. Não vais passar o sábado inundada em melancolia." e passado pouco tempo nos aparece à porta com uma caixa de gelado.





Na verdade, sabe-se desde sempre, que há amizades que até cintilam de tão especiais que são. São estes pequenos grandes momentos que me recordam que ainda há bons motivos para procurar ser feliz.



(clicar na foto para um artigo muito interessante sobre os 7 tipos de amizade)

Eu subia, ela descia. Nós na garganta. Quando os olhares se cruzaram, um suspiro de alívio. Alguém que compreende as tuas dores e os teus horrores, de ângulos diferentes, mas que compreende. Deixas de te sentir isolado no canto de lamentações que construíste. Ela parou, eu corri até ao cimo das escadas rolantes e tornei a descer. Abraçámo-nos. “Estás bem?”, perguntou. Abanei a cabeça. Ela afagou-me o cabelo e chorou comigo. Não nos despedimos e seguimos cada uma o nosso caminho.



 

 

É um pedacinho pequenino que falta. Coisa pouca, de entre o tudo que tenho e tive. Já tive a amizade, a cumplicidade, o companheirismo, o corpo, os risos, as lágrimas, a sede. Já o tive abraçado, enrolado ao coração, no frio, no calor e debaixo de água. Tantas vezes lhe ajeitei o cabelo, nos demos as mãos, nos rimos e nos abrimos. Beijei-lhe as pálpebras, os pés, o pescoço e o umbigo. Quilómetros de palavras desfolhadas, de passos lado a lado. Inícios, despedidas, recomeços. Convites, jantares, músicas. O que ficou a faltar? O passo em frente, o risco último, a tentativa de elevar tudo à 9ª potência, que nenhum de nós se contenta com pouco. E é por isso que aqui estou presa, não sei desistir antes de dar o tudo por tudo, o último fôlego. Ficou a faltar a oportunidade de ser a sério, sem regras, inteiro. Tudo o que foi, não passou dum ensaio tímido e a meio-gás, um pálido esboço cheio de amarras e impedimentos. Medo de falhar, medo de resultar, medo de perder o que foi recusado. Nunca pedi mais nada e não está fácil de recuar...

 

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