Há algo que me fascina e delicia nas estações de comboio. Já passei por algumas, por esse mundo fora, e todas me parecem familiares. Todas têm um encanto quase domiciliário, transmitem-me o estranho conforto de estar em casa. Casa é o sítio onde se pertence. Talvez por pertencer mais às viagens, idas e chegadas, do que a um ponto de coordenadas fixas. Em cada estação de comboio, as mesmas caras, as mesmas vidas. Os do quotidiano, os de visita, os que como eu vagueiam. Sem o burburinho estéril dos aeroportos (que também me fascinam mas doutro modo, mais high-tech, mais eclético e logo, menos verdadeiro). Podia passar dias a absorver estórias imaginadas nas zonas de partidas e de chegadas dos aeroportos, a ver as bagagens contar como foi. Mas nas estações de comboio faço parte dos carris, da História, de cada azulejo. A intemporalidade está presente em cada viagem, em cada atraso. Quando for pequena outra vez, vou dizer que quero ser maquinista.