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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

Não sei quando começou, sei que começou cedo. Não sendo a maior nem a primeira das paixões, a escrita é uma das paixões constantes que guardo com carinho, como uma velha camarada com quem se passa por todas as grandes lutas. Na adolescência virava-me mais para uns poemas desconexos, a transbordar de melancolia. Chamei-lhes “Palavras Perfeitas”, guardei-os numa disquete e já não lhes ponho a vista em cima há muitos anos. Acho que estarão perdidos para todo o sempre, felizmente. Lembro um ou outro episódio em que a professora de Português (a mesma que me leu a sina) louvava uns trabalhitos que nos mandava fazer, de forma a deixar-me completamente vermelha e encabulada diante da turma toda. Sim, eu sou a timidez em pessoa, odeio ser o centro das atenções e nunca aprendi a lidar muito bem com elogios. O que também acresce à facilidade maior em comunicar escrevendo, escondida aqui atrás do alter-ego. Numa das últimas aulas de Português, com exames à porta e muita expectativa perante a vida universitária, discutia-se as notas finais. A professora confessou que na sua já longa carreira, nunca antes tinha atribuído nota 20 a nenhum aluno. Já tinha uma vez dado nota 19 a um senhor mais velho do que ela, que tinha aulas à noite para terminar o liceu, lia imenso e era um poço de cultura. Não fiquei “inchada” nem surpresa. Nunca tive vaidade nas boas notas que, felizmente, sempre tive, nem falsas modéstias. Era uma questão de mérito, de justiça, e essa faz-me falta à sanidade. Foi só depois que fiquei de olhos esbugalhados e garganta seca. A professora chegou-se a mim, agarrou-me a mão direita com ambas as suas mãos pequeninas e maduras e disse-me: “Filha, tu promete-me! Eu sei que não queres ir e não vais para Letras, mas tu não podes deixar de escrever! Olha o Lobo Antunes, também foi para ciências e é um escritor genial! Tu promete-me que nunca, nunca, vais deixar de escrever!” E eu, prometi. E cumpro sempre as minhas promessas.


Podia ser uma explicação. Outra, mais simples e igualmente verdadeira: escrevo porque gosto. Chega?


 


 



 


 

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