O amor não tem prazo de validade; ou está e existe e é um manto que cobre a existência - por cima como um calor enrubescente de que não se pode fugir, por dentro a inundar de arrepios desnorteados, cortantes, que dilaceram cada célula com a ânsia absurda de estarem noutro lugar - ou não está, é alheio a sugestões e esforços e requerimentos. Ou arrasa o espírito com urgências de tumultos irracionais, partilhas e sexos aos gritos ou será um afecto morno e terno, ponderado, responsável e contido - o oposto do que é o Amor.
Aqui do lado esquerdo dos livros que já leste, condenados a não suscitarem mais desejos sôfregos por estrear, e à direita dos que aguardam, pacientes, a sua vez para serem lambidos pelos teus olhos, folheados pela tua delicadeza, para se sentirem importantes e acarinhados e magníficos, resido eu, caderno em branco, por estrear, com excesso de letras a aguardarem sentido que as una. Ganho pó, vou-me esquecendo do que faço aqui enquanto olho as estações a passarem, os reflexos da lua nas sombras líquidas que tecem mistérios alheios. Chovia e fazia frio quando o teu nome me derreteu, na luz baça de uma aventura soluçante e escarpada. Reconhecemo-nos no primeiro instante por entre um fio condutor que havia de nos unir um dia, em alguma arquitectura mestra e profana, numa tecelagem de palavras e vidas por desfolhar.