As pessoas fazem coisas estranhas, coisas estúpidas, sobretudo quando o juízo lhes está toldado. A falta de alternativas, o desespero, tornam as pessoas incautas. Eu errei. Fui incauta, dei demais, confiei demais e fui traída. É assim que me sinto, que traíram a minha amizade. Mas na verdade, sei que fui eu que me pus a jeito. Enfim, sobre isto não vale a pena remoer, que águas passadas não movem moinhos. Não culpo ninguém, só desejo que toda a gente seja feliz sem ter de estragar a felicidade dos outros.
Tenho pensado, muito. Nos últimos três meses pouco mais fiz que não pensar, em ti, em mim, no que podia ter sido diferente, no que deitámos a perder, em cada passo que nos trouxe aqui, em tudo o que nos aconteceu. Penso acordada e penso a dormir, penso que podia procurar uma vida alternativa e vejo-me a dar o teu nome a um neto. Vejo-me a carpir a tua ausência até ao fim dos meus dias, sozinha porque não há ninguém comparável a ti. Vejo-me a ensandecer e mil realidades alternativas. Vejo-me contigo...
Acho que nunca pensei chegar a este ponto sem notícias tuas, uma palavra, um sinal. Achei sempre que ia acontecer alguma coisa. Que ias mudar de ideias, que me vinhas bater à porta, que me pedias desculpa, que de repente percebias que viver sem mim é demasiado difícil. Talvez tenhas andado ocupado com outros focos de interesse, talvez tenhas tido de lutar contra ti e a tua vontade um par de vezes, talvez estejas magoado comigo, talvez me queiras bem e aches que fico melhor sem ti. Não sei. Não faço ideia se a esta hora não estarás de mão dada com uma qualquer rapariga por quem até te tenhas apaixonado, não sei se voltaste a pensar em mim, não sei nada de ti. E poderia saber, mas andei este tempo todo a tentar convencer-me que não preciso de saber, que não preciso de te ter na minha vida. Não consigo enganar ninguém, muito menos a mim própria. E não posso enganar-te a ti, dizendo que estou bem, que estou óptima, que a vida segue igual. A vida não segue, a minha vida ficou parada naquela tarde em que me apagaste de ti, está em pause, à espera dum recomeço com novo fôlego, à espera dum abraço com toda a ternura e amizade, e do meu lado, já sabes, com um amor maior que eu e que não sei domar. Desculpa-me este amor que só complica tudo, desculpa-me a mim que não o tivesse nunca conseguido abafar. Não, não estou bem. Não é só a tua ausência, há outras coisas a pesar, coisas que gostaria de conversar contigo, de desabafar, de ouvir os teus conselhos. Foste muitas vezes o único a compreender certas decisões, foste frequentemente o primeiro (e único) a apoiar-me incondicionalmente em cada aventura louca. Faz-me falta a tua amizade. E a tua companhia, e a tua ternura, e a tua insanidade, e a racionalidade, e a espontaneidade. Fazes-me falta, tu. E fará sempre falta um abrigo para os sentimentos que te tenho, um porto onde os possa atracar sem medo das tempestades.
Talvez esteja a fraquejar ao escrever-te estas linhas. Estou a fazer exactamente o que todos dizem que não devo, não posso. Que seja. Vou ignorar todos os conselhos e seguir o coração. Cedo. Entrego-me. Só não quebro a minha promessa, que as minhas convicções são tão importantes como os meus sentimentos. É quem eu sou. Para além de todos os mil defeitos que conheces e tão bem enumeras, mais este, de que podias ter duvidado. Se o penso, digo-o, e se está dito, não há volta atrás. Nem sei se ainda lês o meu canto, mas eventualmente, um dia, lerás as minhas palavras. Se te tocarem de algum modo, agirás como entenderes. Se não, podes sempre fingir que não leste e a tua vida segue lá fora, sem empecilhos à felicidade. Que nunca o fui, caso ainda não tenhas descoberto. Se estás melhor sem mim, segue. Eu é que não posso fingir que estou bem sem ti, que não quero saber e que posso um dia deixar de te querer. Não acredito, a verdade é essa. Aquela fé que tive no passado, que o tempo cura, que tudo passa, que tudo se iria compôr, desapareceu. Contigo, tudo é diferente. O tempo não ajuda, as lembranças não se diluem e o amor, esse, não arreda pé.
Estou a dizer que estou aqui, onde sabes, à tua espera. Estou a dizer que nos podemos perdoar e recuperar. Ou recomeçar. E que sinto a tua falta. Quando sentires a minha, sabes o que tens a fazer.