Dói recordar.
Doem as pernas entrelaçadas, os cabelos afagados, os pés ousados.
Doem os beijos que ninguém viu, os sorrisos tão verdadeiros.
Dói o nariz no pescoço, a língua nas orelhas, cada curva arrepiada.
Dói a lágrima derretida que não soube esconder-se.
Doem os dedos entretidos, os pêlos espantados.
Doem as carícias lambidas, os lábios longos e mornos.
Chega a doer o cheiro das flores, o vapor do duche, o abraço nú.
Dói aquela sede, o suor e o prazer.
Dói a palavra que escapou a medo, o brinde enganado, a gargalhada abafada.
Dói andar à deriva, mas também atracar. Dói regressar.