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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

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Por uma qualquer razão, seguramente de natureza kármica (em jeito de punição por terríveis malfeitorias que terei perpetrado numa encarnação anterior), na segunda-feira vi-me na companhia de três dos directores da empresa onde passo eternidades a tentar endireitar o que nasceu torto. Isto logo pela fresquinha, à volta duma mesa de refeição que se pretendia informal - tanto esforço colocado nos pacotinhos quase vazios de compal, tão pouco sucesso.


Ora, logo no rescaldo das eleições, em que uma pessoa fica doente dos nervos (pois não há como não), dormiu pouco porque ficou a fazer zapping entre os comentadores da TV e a aguardar resultados mais concretos (talvez apenas para poder dormir com a certeza de que Marinho Pinto não poria os pés na casa da democracia), e desertinha de ter alguém com quem desabafar impropérios e barafustar contra o sentido de voto da maioria minoritária.


Em vez disso, o que encontra? Pérolas de sabedoria de pessoas que, creio que de forma similar aos senhores ministros, não fazem uma puta de uma ideia do que se passa no mundo real, mas pensam que são donos e senhores da razão, lá do alto das suas gravatas italianas e carros de alta cilindrada com emissões dúbias de gases de estufa.



Um deles, que chegou atrasado porque o trânsito estava mau, achava que até era bom sinal, mais pessoas a andar de carro era um sinal de confiança e tal. Eu tentei, sem revirar muito os olhos, explicar que era início do mês, as aulas já recomeçaram e estavam a cair as primeiras chuvas, que fazem os popós deslizar como no gelo e provocam toques e acidentes. Caras de ponto de interrogação e voltam a falar do tempo e do futebol, pois claro - nem havia nenhum tema mais importante a comentar.


Depois o big boss torna a falar da "retoma", e enquanto alguém se queixa dos transportes públicos, dita a verdade que (des)conhece, do alto do seu super-ego (sabem aquelas pessoas que quando falam decretam coisas, de tão plena e honestamente convencidos que estão de serem os detentores das verdades absolutas? Isso.). Ficámos então todos a saber que os nossos transportes públicos "nem são nada maus". São é pouco utilizados pelas "pessoas" (esse conceito vago, lato e sobretudo distante). "Não são nada caros" (para quem tem ordenado de CEO, acredito que não) e "até são eficientes". A última vez que o senhor em questão usou transportes públicos, não sabemos, ora, carro da empresa tem há mais de duas décadas, classe executiva da TAP não conta, é fazer as contas, como diria o outro.


Vou passar a ter esta verdade de bolso à mão quando estiver, mensalmente, a pagar cerca de 12% do salário mínimo nacional pelo passe (tenho sorte, o L12 basta-me), quando os comboios se atrasarem, quando o metro estiver tão à pinha que tenho de escolher entre o submeter as minhas articulações inflamadas e doridas à massagem espalmatória a 360 graus, qual surround sound, ou o deixar passar aquele metro e ficar uma hora inteirinha no cais a aguardar o barco seguinte ao que deixei fugir.


Juro que não se trata apenas do preconceito que tenho para com "os ricos"; é mais que isso. É isso aliado aos anticorpos que já tenho (muitas vacinas, meus caros...) contra o discurso snob, duma altivez cavaquista, de quem tem convicções profundas sobre realidades de que não se conhece sequer a casca, muito menos o cheiro e o que custa no lombo.


... Mazé trabalhar, ó!

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