As grandes, enormes, histórias de amor, não deviam acabar. Porque ao acabarem acabam com a capacidade de se voltar a amar, porque não há tempo que cure a mágoa, porque as outras pessoas deixam de existir.
Porque há amores que deixam o peito estéril, vazio, seco, de tanto que deram, de todos os inícios terem secado por falta de alimento. O teu amor foi sal no solo do meu coração. Onde toda a vida teve lugar, nunca mais pode vingar nada. Nunca. Nada.
Preferia que me tivesses morrido. Preferia agarrar-me a uma força maior, a uma injustiça dos deuses em que não acredito; passaria a acreditar só para sonhar em voltar a ter-te. Preferia saber que o amor que juraste para todo o sempre podia ser mesmo para sempre. Sempre... Ceifaste-me o gosto pela vida, levaste-me a todos os extremos. Porquê, para quê?! Quem és tu, demónio, que foste a promessa de tão mais do que ousei sonhar, e tiraste tudo de mim, o respeito, a sanidade, o ar.
E que me queres quando regressas nas entrelinhas do meu sono, quando sinto a tua respiração na minha orelha, oiço a tua voz e o teu cheiro se me entranha na pele. Deixa-me em paz, nem fantasma sabes ser, esses têm a decência de falecer primeiro! Não quero a tua presença ao meu lado, nem afagar-te a mão quando deitas o braço sobre as minhas costas, não preciso dos teus pedidos de perdão que se esfumam no ar. Incomoda-me o teu espírito colado a mim, tão palpável que luto entre o acordar e deixar-me ir, e é nesse limbo que aflige mais, sabendo que ali não estás porque não podes estar e sentir o teu calor, a tua voz, os teus dedos, o teu peso a entalar-me nos lençóis e a tua barba.
Deixa-me em paz, a definhar em silêncio no vácuo do que já fui.