é abrir a caixa de correio, ver entre a publicidade um envelope branco, sem nada escrito por fora, aberto, com uma folha lá dentro, e pensar que era uma resposta, um sinal, um gesto qualquer, entre raiva e perdão. É subir as escadas com o coração nas mãos a pensar o que dirá. A imaginar a mão que terá deitado aquele envelope na minha caixa de correio e o que dirão as entrelinhas.
Ingenuidade é esperar uma reacção, uma emoção, de onde se sabe que está instalado o vazio, o silêncio, a ausência.
Eu, ingénua, me acuso. Ainda acredito. Vou sempre acreditar, e digo sempre com mais força que nunca.
(Era um anúncio duma senhora desempregada, a disponibilizar-se para fazer limpezas, engomar e o que mais signifique fazer pela vida.)