Lembras-te quando apertavas tanto as minhas mãos que eu ficava com nódoas negras?
Enquanto passeávamos na rua, quando dormíamos lado a lado, quando íamos ao cinema. Sempre os dedos tão juntos e entrelaçados que pareciam personagens dum tango sensual, uns no prolongamento dos outros, como se sussurrassem ao ouvido, abraçados, enamorados.
Lembras-te do enamoramento? E de quando as tuas mãos procuravam as minhas e não descansavam enquanto não as tivessem? Lembras-te de quando os beijos eram pingos de orvalho que brotavam nas flores que me punhas nas mãos?
Lembras-te de falar comigo como quem declama poesia, de me olhar como quem está em casa, de me amares como eu nunca pensei ser amada?
Se te esqueceste, lembra-te do que diziam as nossas mãos, as flores na almofada, os nossos sorrisos. Porque nunca mais ninguém nos voltará a dizer o mesmo.