E quando conheces o teu coração e sabes que ele não cansa? Quando sabes que do mesmo modo que sempre arranja fôlego para amar mais um pedacinho, para perdoar, para aguentar o insustentável, o teu coração quando ama não deixa de amar, não te deixa esquecer?
Há corações assim. O luto dura, e dura, e dura, as memórias são corridas a pente fino e depois repetem e repetem e repetem. E deixa-se correr, na esperança que um dia passe a dor e o amor. E correm suspiros agarrados a lágrimas saídas lá do fundo, correm, correm. Tanto sal, tanto sal. A dor apega-se ao coração, anda sempre juntinha, como um nó que se usa ao peito, à espera que alguém tenha unhas para o desatar. E pesa. E quanto mais tempo passa mais pesa. A dor em estado líquido procura pretextos para se soltar sem assumir o nome que tem, procura uma cena dum livro, um filme lamechas, um silêncio às escondidas. E passam os meses e os anos e a dor está lá, onde ainda está o amor, empedernido e sólido e persistente. Como esqueces, quando deixas aproximar alguém do coração, que deita a mão ao nó, o afaga, te embala, te mostra o amor em cores novas e deliciosas, e acaba por fazer um nó maior e mais apertado em cima do outro? Se um coração sobrelotado já é tão confuso de gerir, como fazer quando precisas de fazer limpezas lá dentro e as portas e janelas estão todas fechadas a cadeado?
Como se desatam nós destes a não ser com navalhas?