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Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

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Numa manhã domingueira, baila o nevoeiro ao ritmo das ondas do rio. Tricoto uma rede de questões doridas, a pensar em quem me habita o coração, em quem poderia habitar, nos degraus da surpresa e da nostalgia, no carinho que se adivinha num olhar.

Surge a face dele numa parede ensolarada, aquele que nos juntou, como uma daquelas pausas que interrompem o riso antes do primeiro beijo no cinema cliché. Apesar de parecer despropositada a imagem mental do teu sorriso surgir na ponta da minha mão estendida, apesar de a tua voz não condizer com os diálogos que me seguem nos sonhos que tenho acordada, apesar de tudo em ti ser desfasado dos sonhos em que me embrulho, é a constatação de que não estás que me rompe a face em lágrimas soluçadas, apneia surgida do nada.

Estava bem até então, sozinha a tocar piano com os pontos de interrogação que me deixam pendurados nos sorrisos doces que respondem em esforço "eu também gosto de ti". A tua ausência inquieta-me tanto quanto a tua presença, sempre de rompante, sem ar, incontrolavelmente, asas a bater contra a espuma e salpicos de mar e vento. "Não sabia que estavas tão quebrada", diz o desatento salva-vidas. Tu saberás. E eu observo ao longe a tua queda de asas abertas, a pique contra garras de ferro que te estilhaçam em sombras, e na ponta da minha mão vazia o teu sorriso de luz não brilha.