Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

Ventania

Na margem certa da vida, a esquerda.

origem

Na sequência de ler este post, na Origem das Espécies, pensei:


 


Não conheço ninguém com paixão pela escrita que não seja fascinado pelo papel. Muito embora quase todos, hoje em dia, tenham substituído em grande parte as canetas, esferográficas e lápis por teclados. Mas a paixão não se consegue domar, não pode esperar, e quem tem frases penduradas nas pontas dos dedos sente-se forçado a alinhá-las e depositá-las, seja lá onde for, à hora a que calhar. Porque os pensamentos escorrem livres e nunca se sabe quando um pensamento digno, ou carecido, de materialização verbal, nos assola. E assim, todos os escribas (os apaixonados, volto a frisar) trazem consigo a todas as horas um (ou mais) bloco, caderno, o que seja. Não sei se assim é com todos, a mim o que me apela é o vazio dos cadernos e blocos e resmas de papel. A brancura (ou nem tanto, no papel reciclado) virgem, pluripotente, tentação máxima da criação, em palavras ou imagens!


Antes de saber o alfabeto (e aprendi precocemente) já tinha este vício do papel. Finas folhas brancas em formato A5 e lápis de cera Caran d'Ache (que o meu avô me passava para as mãos) faziam os meus dias. Mantive, desde sempre, o fascínio por papel e grafite. Tinta, nem tanto, apesar da numerosa colecção de canetas e esferográficas. Dá-me um certo prazer a arrumação organizada dos blocos e cadernos de vários tamanhos, protegidos, quase divindades merecedoras de mais do que os meus rabiscos. Sinto uma certa responsabilidade quando inauguro um caderno, faço um género de compromisso de honra de não o macular com frases vãs. Trato-o com delicadeza, toques suaves, que nenhum canto de página se amarrote, a caligrafia mais cuidada que o habitual (apesar de mesmo com cuidados não ser capaz de fazer letra bonita, simétrica, equilibrada). Por isso mesmo, escrevo demasiadas vezes em papel de rascunho quando retrato o meu mundo. Para os cadernos bonitos, dignos, elegantes, só material de primeira ou notas formais, académicas ou profissionais. E um dia, quando for grande, quero não hesitar em transcrever felicidades consistentes e lamentos densos para os mais prezados Moleskines.


 




Cada um, um universo secreto.

7 comentários

Comentar post