Sorríamos sem saber porquê. Roídos pela dúvida, pela surpresa. Borboletas no estômago, todos os clichés, conferiam. O futuro estava ali no beiral da porta. Tu tinhas medo do confronto com a verdade, sempre tiveste. E eu não conseguia respirar sem a esventrar. Disse-te que só havia uma maneira de saber. Como sempre, atirei-me de cabeça e agarrei-te pelo pescoço no caminho.
Devia ter sabido logo que os teus olhos arderam na minha pele em vez de me invadirem a alma. Fiquei presa nos segredos verdes e indolentes desses teus olhos, anzóis em mim. Devia ter percebido quando seguia à tua frente e queria que estivesses a meu lado. Soube, quando antecipei que as promessas eram só palavras e que as palavras não eram todas. Quando as tuas cartas deixaram de ser folhas toscas arrancadas com paixão a cadernos maltratados e passaram a ser postais com corações. Sabia, e não to disse, quando as flores me desiludiam, o tempo e os momentos nunca chegavam e os beijos tinham hora marcada. E fui eu que tentei fintar as inevitabilidades e substituir magia por esforço, também fui eu que caí das nuvens. E a seguir percebi que sempre quis ir para além das estrelas. ...